Modelo que substitui o best-seller da montadora será vendido, a princípio, por R$ 79.990
A Volkswagen apresentou o compacto Polo Track na quinta-feira, 11, modelo com o qual pretende ocupar a lacuna que será deixada em sua oferta por ninguém mais, ninguém menos, do que o best-seller VW Gol, que sairá de linha ao final do ano após 42 anos de mercado brasileiro.
Já não é de hoje que a montadora pretende substituir o seu mais célebre ícone, e a cartada final surge em meio a um forte programa de redução de custos que tem a plataforma MQB como principal pilar. A lógica é simples: construir todos os veiculos no mesmo chassi torna a produção nacional menos complexa e mais barata.
Manter nas linhas de Taubaté (SP) a produção do Gol e da sua variante sedã, o Voyage, jogava de certa forma contra essa visão. Portanto, não restou outra alternativa senão descontinuar a sua produção na unidade.
Mexer em time que se ganha, como diz o ditado, tem lá os seus riscos e a Volkswagen sabe disso. Tanto que sua estratégia em torno dessa transição denota uma grande disposição em inserir o Polo Track em seu line-up de forma a reduzir os impactos da manobra aos olhos e ao bolso do consumidor.
Competição com Onix e HB20
Tratemos primeiro do aspecto emocional. Em relação à última versão do Gol, não há comparação: o Polo Track é mais robusto, com maiores dimensões internas e externas graças à plataforma MQB, que é a mesma sobre a qual são construído os SUVs Nivus e T-Cross, assim como os irmãos Polo e Virtus.
Sob a ótica racional, Gol e Polo Track se assemelham, pelo menos por enquanto. O preço sugerido no lançamento do veículo é de R$ 79.990, valor similar ao de uma versão atual do compacto nas mesmas configurações, girando em torno dos R$ 78 mil no site da montadora.
Outro ponto importante: maior e com preço competitivo dentro de sua categoria, o Polo Track não surge apenas para reduzir a saudade do consumidor do Gol. Chega também para brigar com os modelos que hoje lideram o mercado nacional em volumes, Hyundai HB20 e Chevrolet Onix, respectivamente.
Com Polo Track, Volkswagen investiu em mais robôs
Chegar ao tíquete de R$ 79 mil, segundo a Volkswagen, envolveu esforços em várias frentes. Para reduzir o custo produtivo em Taubaté, que a partir de janeiro produzirá apenas o Polo Track, a montadora teve de investir em automação. Foram acrescentados à linha 80 novos robôs que realizam tarefas nas áreas de armação e pintura, em um total de 243 equipamentos.
Como o Polo Track é maior do que o Gol, também foram realizadas modificações na linha para acomodá-lo, contou Vilque Rojas, diretor da fábrica. O novo modelo também é mais complexo em termos de arquitetura eletrônica na comparação com o Gol, e isso também levou a montadora a aumentar o número de processos de montagem.
Para se ter uma ideia, o Gol levava em sua construção de 8 a 11 módulos eletrônicos, a maioria ligada a sistemas de direção e frenagem. Já o Polo Track pode demandar de 24 a 30 módulos. Se por um lado a possibilidade configura um veículo compacto mais moderno, por outro também representa riscos, considerando a atual crise dos semicondutores.
“A fábrica já está pronta para produzir o Polo Track, pelo menos em baixo volume. Para fazer o modelo em uma escala maior, precisamos de umas duas semanas de ajustes finais em dezembro, para já virarmos o ano com a fabricação plena do carro na unidade”, disse Rojas. Taubaté hoje opera em três turnos com quadro formado por cerca de 2,9 mil funcionários.
Manter o preço no patamar dos R$ 80 mil também envolveu forte negociação com o sindicato local dos metalúrgicos a respeito de salários e bonificações. O mesmo ocorreu com os fornecedores de partes e peças do modelo.
Polo track é maior do que o gol e tão simples quanto
Todo esse arranjo promovido pela montadora desde 2019 na unidade resultou em uma versão enxuta do Polo que já está no mercado há algum tempo. Embora dividam praticamente o mesmo design, o acabamento do Track é mais simples.
Calotas cobrem rodas de aço aro 15 e um espartano sistema de mídia está no lugar da tela touchscreen. Motor aspirado 1.0 MPI flex de 84 cv em vez da sensação TSI, equipado com turbo. O câmbio? Manual de seis marchas.
Se a fórmula dará certo no mercado, só o tempo poderá dizer. A Volkswagen aposta na crescente demanda por modelos hatch no país, com projeção que indica um segmento de 500 mil licenciamentos em 2023. Outra projeção é a de maiores vendas via varejo, na contramão do que acontecia com o compacto Gol, por exemplo, que tinha forte apelo nas vendas diretas a frotistas.
“A tendência é a de trabalhar em volumes menores, com foco no varejo, no concessionário. Não é uma estratégia apenas para o Polo Track, estamos aplicando isso em todos os modelos da nossa oferta”, contou Roger Corassa, vice-presidente de vendas e marketing.
Na quinta-feira a VW também apresentou o Gol Last Edition, versão derradeira do compacto no mercado nacional. Foram produzidas 1 mil unidades do modelo em série especial.
A montadora vai apresentar oficialmente o derradeiro Gol ainda em novembro, mas já se especula que o preço passará dos R$ 100 mil.