Veja 7 acertos e 1 deslize dos dois anos da Stellantis no Brasil

Grupo teve lançamentos de sucesso e boas estratégias, mas ainda patina na eletrificação

Vitor Matsubara

Vitor Matsubara

Grupo teve lançamentos de sucesso e boas estratégias, mas ainda patina na eletrificação

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A Stellantis não poderia viver um momento mais positivo no Brasil ao completar dois anos de existência. Com oito de suas 14 marcas presentes no país (Fiat, Jeep, Chrysler, Dodge, Ram, Abarth, Citroën e Peugeot), o grupo detém nada menos do que 32,9% do mercado nacional.

Esse domínio foi construído por meio de uma ofensiva ampla, que incluiu investimentos bilionários em fábricas, grandes lançamentos e estratégias desenvolvidas especificamente para cada uma de suas marcas.

Automotive Business lista a seguir sete grandes acertos da Stellantis e um deslize nos 24 meses de vida da companhia no mercado brasileiro.

Os acertos da Stellantis

Os SUVs compactos da Fiat

A Fiat foi uma das últimas montadoras a entrar na briga dos SUVs compactos. Mas ela compensou o atraso em grande estilo com o Pulse. O modelo lançado em 2021 se tornou um dos carros mais vendidos na categoria de SUVs compactos e, no ano passado, quase superou o consagrado Jeep Renegade.

A linha cresceu em 2022 com a estreia do Fastback. Além de reforçar a presença da Fiat na categoria, o SUV cupê se tornou o automóvel de passeio mais moderno e sofisticado vendido pela marca italiana no mercado brasileiro. Fora o design, ele se destaca pelo generoso porta-malas com mais de 500 litros.

A consolidação da Jeep

A Jeep é um dos maiores fenômenos da indústria automotiva nos últimos anos, especialmente no Brasil. De marca de nicho com baixas vendas, ela se transformou em uma das fabricantes mais conhecidas e desejadas do país. Isso se deve ao sucesso da dupla Renegade e Compass, que hoje dominam os segmentos de SUVs.

Nos dois anos de Stellantis, o Renegade ganhou em 2022 a nova motorização T270, que acabou com as críticas referentes ao desempenho do antigo 1.8 flex. No mesmo ano também veio o Compass 4xe, primeiro modelo eletrificado da Jeep à venda no Brasil. Apesar do preço salgado, ele veio para cá com a missão de abrir uma nova gama de produtos na marca, já que outros modelos também terão versões híbridas nos próximos anos.

Destaque também para o Commander, primeiro projeto 100% desenvolvido pela Stellantis no Brasil com ajuda da matriz norte-americana. O SUV trouxe um novo consumidor para a marca, que gosta do estilo da Jeep, mas não tinha uma boa opção pelo fato de precisar de um carro com espaço para até sete pessoas.

E ainda houve tempo para a estreia da Gladiator. A picape foi feita para um público bastante específico e alia a versatilidade de uma picape com a valentia de um legítimo jipe com o Wrangler. Pena que é um prazer destinado para poucos.

O crescimento da Peugeot

Assim que concluiu a fusão com a PSA, a antiga FCA virou Stellantis e viu que tinha duas missões difíceis nas mãos. A prioridade era salvar Peugeot e Citroën, marcas prestigiadas no Brasil que vinham de anos complicados com baixas vendas.

No caso da Peugeot, a estratégia da Stellantis mirou no 208. O melhor produto da gama atual se tornou um veículo de volume, em parte por conta das vendas diretas. O maior acerto foi oferecer o consagrado motor 1.0 Firefly no hatch, que voltou a brigar por um espaço no segmento de carros populares depois de 16 anos.

Além das versões de entrada, a Peugeot também apostou no 208 Style. Elegante e esportivo, o carro também conquistou fãs pela generosa lista de equipamentos, com direito a itens inexistentes até em modelos de categoria superior, como faróis full LED, central multimídia com tela de 10 polegadas, rodas aro 16 e carregamento de celular por indução.

Outra prioridade foi firmar a Peugeot como uma das referências em eletrificação dentro do grupo Stellantis. Hoje, a montadora oferece três modelos movidos a eletricidade: e-208 GT, e-2008 e e-Expert.

A transformação da Citroën

Assim como a Peugeot, a Citroën vinha de tempos nada fáceis no fim da gestão PSA. A estratégia encontrada pela Stellantis foi transformá-la em uma marca mais acessível, mas sem esquecer das características que marcaram a empresa ao longo de mais de 100 anos.

Foi assim que nasceu o projeto C-Cubed, estratégia comercial que prevê o lançamento de três produtos na América do Sul em três anos. O primeiro deles estreou em 2022: o novo C3 já assumiu o posto de carro chefe da marca e passou de 10 mil unidades emplacadas em quatro meses de mercado. A tendência é que a Citroën faça o C3 “bombar” em 2023, investindo principalmente nas vendas diretas.

O segundo produto da estratégia será lançado neste ano. Trata-se de um SUV com espaço para até sete pessoas. Provisoriamente conhecido pelo codinome CC24, ele também será produzido em Porto Real (RJ), de onde já sai o novo C3. Feito sobre a plataforma CMP, o carro deve ser o primeiro Citroën com o motor 1.0 turbo T200, de origem Fiat.

Por fim, o último projeto deve ser revelado apenas em 2024. Rumores indicam que se trata de um sedã compacto. O foco seria no mercado argentino, onde a Citroën tem bom desempenho e este tipo de veículo vende bem.

A ressurreição da Ram

Até 2021, a Ram era uma marca de pouca expressão no país. Além da presença tímida no mercado, havia apenas um produto à venda: a grandalhona 2500. Tudo mudou a partir de 2021, quando a Stellantis começou a dar atenção especial à Ram.

A 1500 Rebel conquistou muitos clientes que nunca pensaram em ter uma picape da marca. Apesar das dimensões generosas, o modelo atraiu muita gente que vive nas grandes cidades e eventualmente viaja para o campo.

A gama foi ampliada em 2022 com dois produtos inéditos: a enorme 3500, que exige carteira de habilitação do tipo D para ser conduzida, e a Ram Classic. Esta última nada mais é do que a antiga geração da 1500, e veio para cá com um posicionamento de preço mirando as versões mais caras de Toyota Hilux e outras picapes médias. A estratégia foi bastante inteligente, já que muita gente acabou optando pela Classic.

A redenção, porém, deve acontecer em 2023 por conta da iminente estreia de um produto inédito. Chamada por alguns de Ram 1200, a picape média feita sobre a plataforma da Fiat Toro deve incomodar de vez os modelos mais consagrados do segmento. Não será surpresa se a Ram repetir os passos da Jeep e se tornar uma marca de volume e desejada nos próximos anos.

A eletrificação da gama comercial

Os veículos comerciais mereceram atenção especial por parte da Stellantis nestes dois anos. A empresa investiu forte na eletrificação ao trazer para cá os furgões Fiat e-Scudo, Peugeot e-Expert e Citroën Ë-Jumpy. Fabricados na França, eles são baseados em um mesmo projeto. A única diferença está no logotipo de cada marca.

Todos são equipados com um motor elétrico de 100 kW, que é o mesmo do Peugeot e-208 GT. São 136 cv e torque instantâneo de 26,5 kgfm. Já a autonomia declarada é de 330 km na cidade e 237 km apenas em percurso rodoviário.

A volta da Abarth

Apesar de bastante conhecida na Europa, a Abarth nunca foi famosa por aqui. Até então, a Fiat apenas havia vendido o Stilo Abarth, uma versão esportiva com visual discreto e o mesmo motor 2.4 de 20 válvulas do controverso Marea. 

Agora com status de marca própria, a Abarth retornou ao Brasil em 2022 com o Pulse Abarth. Equipado com o motor 1.3 turboflex de até 185 cv, ele se tornou o primeiro SUV da marca à venda no mundo. Em 2023, a linha deve crescer com as estreias do Fastback Abarth, que já foi flagrado em testes, e do Abarth 500e.

Deslize da Stellantis

Eletrificação em ritmo lento

Não é fácil achar erros na estratégia da Stellantis em dois anos de vida no Brasil, principalmente diante dos bons resultados. Porém, a eletrificação ainda não é tão importante para a empresa no país – ao menos por enquanto.

Até o momento, apenas quatro automóveis de passeio eletrificados são vendidos pelas oito marcas do grupo que atuam no mercado brasileiro: Fiat 500e, Peugeot e-208 GT e e-2008 e Jeep Compass 4xe. Esse número deve crescer em 2023 com as chegadas de alguns modelos, como o Abarth 500e, que já está confirmado para cá.