Montadora usa volume e escala local para articular entrada de novos provedores de componentes no país
A Stellantis aumentou a participação de mercado de suas marcas no país e, para seguir nessa rota de crescimento, segundo o presidente para a América do Sul, Antonio Filosa, o caminho não é outro senão produzir mais. Para ocupar as linhas das seis fábricas na América do Sul com volumes maiores, ainda que pese a perene falta de componentes, a montadora pretende atrair fornecedores por meio de um movimento de descentralização do parque industrial.
A ideia é levar mais parceiros para regiões como o Polo Automotivo Jeep, em Goiana (PE). Com o movimento, a companhia deve elevar em quase 70% o número de provedores de componentes e sistemas com quem conta na região até 2026 – uma salto de 30 para 50 empresas. Grande parte desse crescimento será de fornecedores que vão integrar a linha futura de veículos Stellantis, formada por mais modelos híbridos e elétricos. São esperados 7 lançamentos eletrificados até 2025.
“Precisamos de mais produtos em nossas fábricas. E, para isso, temos que levar mais fornecedores para outras áreas do Brasil. Do setor industrial e de serviços, 65% estão concentrados no Sul e no Sudeste. Já demos um passo que foi a instalação de um fornecedor do sistema de infotainment do Citroën C4 em Manaus”, contou Filosa durante a apresentação on-line.
O executivo evitou os detalhes a respeito deste provedor especificamente. À reportagem, fontes do mercado informaram que algumas empresas estão se instalando na Zona Franca oferecendo serviços de montagem local de eletrônicos sob demanda, importando, por exemplo, sistemas de entretenimento desmontados que chegam da Ásia.
“Temos volumes e escala de produção, e isso nos dá um plano robusto para mostrar aos fornecedores que é possível investir no Brasil e não apenas na Ásia”, contou Antonio Filosa.
Polo automotivo fora do eixo
O interesse da Stellantis em desenvolver fornecedores em regiões brasileiras com menos tradição automotiva é coerente com o histórico da companhia de desbravar novos territórios para fazer seus veículos. A fabricante possui uma estrutura produtiva que extrapola o eixo sul-sudeste, território onde parte majoritária das montadoras mantém operação. A distância de Goiana desse centro, por exemplo, é um dos argumentos que viabilizaram à empresa acesso aos benefícios fiscais do Regime Especial do Nordeste e Centro-Oeste.
Uma vez contemplada pelo pacote de isenções, a montadora consegue equacionar sua operação mesmo estando longe da maioria dos seus fornecedores e, também, de grandes portos marítimos do país, por onde chegam seus componentes importados. Tem sido assim desde os tempos de FCA, que já integrava o regime especial desde 2010, com a compra da fábrica de chicotes TCA.
No novo contexto da Stellantis, que pretende aumentar o conteúdo tecnológico da sua oferta de veículos com uma série de lançamentos agendados até 2025, é estratégico que a empresa consiga atrair para próximo de sua linha mais moderna, a de Pernambuco, e de onde saem seus modelos por ora mais vendidos, o maior número possível de fornecedores no sentido de tornar o custo de produção ali ainda mais competitivo.
Semestre de liderança
A montadora tem um bom motivo para acelerar a produção e buscar novos fornecedores: a companhia sustentou no primeiro semestre de 2022 a maior participação nas vendas no mercado brasileiro, com fatia de 33,6%. Separando por marcas, a Fiat encerrou o janeiro-junho com fatia de 21,9%, a Jeep com 7,7%, e as francesas Peugeot e Citroën com 2,5% e 1,4%, respectivamente. O resultado destas duas últimas marcas, que antes do advento da Stellantis detinham um share conjunto de menos de 2%, chama a atenção.
“O cuidado com as marcas [de origem francesa] tem sido muito positivo, mesmo sem termos feito todos os lançamentos. Podemos fazer mais. Com os novos produtos, os 5% de mercado é algo factível”, disse Filosa, mencionando uma das metas do grupo para os próximos anos acerca das duas marcas herdadas da antiga PSA.