Depois da fase de testes, solução desenvolvida no Brasil será replicada em diversos países da América Latina
Depois de dois meses de testes, a Volkswagen começa a adotar a solução de ilha digital para suas concessionárias. A ideia é oferecer, com baixo custo para os distribuidores, uma solução que garanta experiência melhor ao cliente, evitando a quebra de expectativas de quem está acostumado a consumir no mundo digital. “Fizemos o piloto em 10 revendas, devemos chegar a 30 concessionárias na América Latina em março e a 100 lojas até o fim de 2019”, conta Fabio Rabelo, head de digitalização e novos modelos de negócio da montadora no Brasil, área responsável pelo projeto.
Ao lado do presidente da companhia na América do Sul, Pablo Di Si, o executivo apresentou a novidade já rodando em uma loja da marca: uma revenda do Grupo Caraigá instalada no Jardim Europa, em São Paulo.
“Desenvolvemos a ilha digital aqui no Brasil em tempo recorde. Na semana passada apresentamos tudo para membros do nosso conselho de administração e eles ficaram impressionados com a solução, que é inédita no mundo”, conta Di Si.
PROVAR A HIPÓTESE E ESCALAR A SOLUÇÃO
Apesar de ter nascido dentro da corporação, a solução começou a rodar no maior estilo startupeiro, com desenvolvimento ágil. Rabelo diz ter apresentado a Di Si em junho de 2018. Com passe livre para ir em frente no desenvolvimento, a montadora entregou a primeira versão em novembro, já no Salão do Automóvel de São Paulo e, em seguida, começou a rodar o piloto nas concessionárias. O período de sete meses que separam a ideia do produto final é bastante comum no ecossistema empreendedor, mas uma grande exceção na indústria automotiva.
Os resultados até aqui, contam Rabelo e Di Si, são os melhores possíveis. Segundo eles, entre 65% e 70% das vendas das concessionárias que já têm o sistema começam na ilha digital. “No fim de semana eu vi os consumidores formarem fila para experimentar os óculos”, diz Rabelo. Agora, depois de comprovar a hipótese e mostrar que a solução funciona, a ideia é escalar seu alcance.
INVESTIMENTO BAIXO, RESULTADO ALTO
Se considerados os custos para digitalizar as lojas, a expansão da novidade realmente tende a ser rápida. O investimento é de R$ 28 mil para instalar a solução em uma revenda – valor bastante razoável perto dos aportes suntuosos que os distribuidores normalmente precisam fazer para ter a representação da marca em uma grande cidade, por exemplo.
Estão inclusos no investimento todos os equipamentos da ilha digital: uma tela sensível ao toque de alta definição que mostra os modelos, configurações e preços disponíveis, o computador com alta capacidade de processamento para exibir tudo isso, os óculos de realidade virtual que permitem ao cliente visitar a garagem digital da marca e ter a sensação de entrar e conhecer os carros e, ainda, o mobiliário do espaço. Com isso, o showroom não precisa ser imenso, com um monte de carros à disposição.
“Temos 45 modelos e variações. Fica mais fácil visualizar tudo na tela e, se for o caso, marcar um test drive”, diz Rabelo.
A digitalização das revendas Volkswagen abre um leque de possibilidades. “Agora poderemos ter lojas de 90 metros quadrados, com a ilha digital e apenas um carro em exposição”, conta Di Si, confirmando que a companhia já seleciona os primeiros concessionários que investirão no novo modelo de revenda. Para Rabelo, a tendência é que a marca ganhe capilaridade, com lojas menores em shoppings, por exemplo, e concentração dos serviços de pós-venda em alguns pontos maiores.
Outra vantagem, aponta o executivo, é que a ilha digital pode ir ao cliente sem que ele precise se deslocar até a loja. “No caso de uma negociação de frota corporativa, o vendedor pode pegar os óculos de realidade virtual, um tablet e levar a experiência até o cliente, no escritório dele”, diz.
NOVOS FORNECEDORES
O conceito de digitalização das concessionárias está em ascensão na indústria automotiva. A FCA, por exemplo, também já inaugurou uma revenda da Fiat com novas tecnologias. Ainda assim, Rabelo diz ter buscado inspiração fora do setor para desenhar o melhor conceito para a marca. “Visitei desde lojas da Apple e da Samsung até varejo de eletrodomésticos para entender quais são as melhores experiências e desenvolver algo que fizesse sentido para a Volkswagen”, conta Rabelo.
A solução acabou resultando em negócios com fornecedores não tão tradicionais para a indústria automotiva. A IBM, parceira cada vez mais próxima da companhia, desenvolveu o sistema da ilha digital. O estúdio de 3D e animação Vetor Zero ficou responsável pelas imagens e a Samsung é a fabricante do hardware. Assim, passo a passo, a companhia cria um novo ecossistema em seu entorno. Como a própria empresa gosta de chamar, é o surgimento da nova Vokswagen.