Com quase 20 anos de casa, Ariane Campos lidera projetos importantes e derrubou preconceitos até na Europa
Em termos de diversidade, o setor automotivo ainda não representa um bom porto seguro profissional para mulheres, como mostrou a pesquisa Diversidade no Setor Automotivo, estudo feito por AB no ano passado. No entanto, há boas histórias nas montadoras, e a carreira da engenheira Ariane Campos na Ford é uma delas.
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Assim como acontece com muitos funcionários, Ariane entrou na montadora como estagiária e então seguiu seu caminho corporativo. Atualmente como supervisora de engenharia da Ford América do Sul, ela foi a primeira mulher a chegar em um cargo de liderança em sua área, um feito relevante se considerarmos que as mulheres ainda ocupam pouquíssimos cargos de liderança na indústria automotiva.
Durante um dos muitos lançamentos realizados pela marca em 2023, a engenheira conversou com a reportagem de Automotive Business. Aproveitou um dos raros momentos de descanso para lembrar sobre seu começo na Ford — a única empresa onde trabalhou em sua vida.
“Estou na Ford desde 2005, quando comecei como estagiária na área de integração veicular, dentro da engenharia. Toda minha trajetória aconteceu neste departamento, com exceção de um breve período antes da pandemia no qual mudei para a área de gerenciamento de projetos”, recorda.
Seu primeiro contato com os carros ocorreu durante a infância, algo comum no relato de muitos executivos e técnicos que atuam no setor.
“Meu pai nos levava no Salão do Automóvel para ver as novidades, e eu nem pensava em trabalhar na Ford. Ele sempre gostou muito de corrida e de Fórmula 1, e passei a gostar disso ainda mais depois que comecei a trabalhar na área. É algo que amplia muito os horizontes porque você não fala apenas de carro. Existe a oportunidade de entrar em contato com todas as tecnologias relacionadas a esse universo”.
Campo de provas = segunda casa
Como sempre morou em Tatuí (SP), cidade que abriga o campo de provas da empresa, Ariane passava a maior parte do seu expediente no local que conhece como poucos colegas. A sua rotina diária também envolve idas ao escritório que a montadora mantém na capital do estado.
Sobre o fato de ser mulher em ambiente ainda dominado por homens, Ariane disse que nunca sentiu preconceito por parte dos colegas que trabalham em sua área. Entretanto, a engenheira admite que se cobra demais — e acredita que muitas mulheres fazem o mesmo por causa da presença masculina predominante no ambiente de trabalho.
“Dentro da Ford sempre existiu muito respeito e espaço para as profissionais que se destacam em várias áreas. Me sinto muito confortável para dizer que as mulheres têm o mesmo espaço que os homens. Porém, para as mulheres que estão na engenharia, existe uma autocobrança de estar sempre estudando e por dentro do carro, até porque o homem já tem uma afinidade maior com o assunto”.
Aventuras na Europa
Seu desempenho no Brasil lhe rendeu um convite inusitado. Ariane foi transferida para a Alemanha, onde seria responsável pelo projeto do compacto Ford Ka destinado ao mercado europeu. Assim como o último EcoSport, o Ka foi desenvolvido no Brasil com status de projeto global.
“Quando cheguei lá, eu era a única mulher dentro de uma equipe de oito engenheiros, e todos eram bem mais velhos do que eu. Foi um pouco difícil para eles entenderem o meu papel lá porque ninguém me conhecia e cheguei para lançar um produto que havia sido desenvolvido por brasileiros. Só que, com o tempo, eles perceberam que eu tinha bastante conhecimento técnico para entregar o trabalho necessário, e passaram a confiar em mim”, conta Ariane.
Ao término do seu contrato, Ariane foi convidada a permanecer na Alemanha, mas acabou voltando para o Brasil.
“Me disseram que quebrei algumas barreiras por lá. Fiquei feliz porque consegui deixar uma imagem muito positiva”, diz Ariane.
Mesmo longe de seus ex-colegas, Ariane acabou deixando sua marca ao descobrir que a presença feminina na divisão estrangeira da montadora aumentou após sua partida.
“Eles trouxeram outras mulheres para a área porque perceberam que temos um olhar mais apurado em alguns aspectos e alguns cuidados em algumas tarefas. Claro que os homens também são capazes de fazer, mas as mulheres fazem com mais esmero”.
Meta é reforçar presença feminina no time
De volta ao Brasil, Ariane teve uma ascensão rápida até chegar ao cargo de supervisora. Ela espera que mais mulheres possam chegar a postos de liderança — e está fazendo sua parte para que isso aconteça.
“Antes da minha chegada, o time era formado só por homens. Hoje temos mais uma mulher na equipe e tenho interesse em reforçar a presença feminina. A Ford valoriza muito a diversidade e a presença de mulheres na empresa”, finaliza.