Produção em maio se manteve estável e no acumulado houve alta de 55,6%, mas risco de interrupções preocupa
A Anfavea – associação nacional das montadoras – divulgou seu balanço mensal na terça-feira, 8, e de acordo com a entidade, as fabricantes instaladas no País registraram estabilidade na produção de veículos em maio, com 192,8 mil unidades construídas. Esse número representa um discreto aumento (1%) em relação aos 190,9 mil veículos que deixaram as linhas de produção em abril.
Mas foi no resultado acumulado de janeiro a maio que o setor exibiu seu melhor número, com alta de 55,6% em relação ao mesmo período do ano passado. As montadoras totalizaram quase 1 milhão de automóveis produzidos nos cinco primeiros meses do ano (981,5 mil), contra 630,8 mil em 2020.
Com relação a estoques, o total se manteve estável em maio, com 96,5 mil unidades – sendo 66,6 mil nas concessionárias e 29,9 mil nas fábricas. Em abril, o total era de 97,1 mil veículos. Esse número é suficiente para atender 15 dias de vendas no ritmo atual (o mesmo apresentado em abril). Já as vagas de emprego tiveram retração de 0,6%, o que corresponde a cerca de 600 posições nas montadoras. De acordo com Luiz Carlos Moraes, esse é o primeiro reflexo do fechamento das fábricas da Ford no Brasil. “Nós tivemos contratações, mas o número de desligamentos da Ford foi maior”, explicou. O setor contabilizou 104,1 mil colaboradores registrados em maio, contra 104,7 mil em abril.
Apesar dos números positivos no geral, Luiz Carlos Moraes, presidente da Anfavea, chamou a atenção para um problema que não só tende a se agravar, como não tem solução a curto prazo: a crise dos semicondutores. Embora esse assunto já seja debatido desde o fim do ano passado, foi a primeira vez que o executivo reconheceu, em público, que a escassez do componente deve seguir afetando a produção de automóveis no Brasil, se estendendo, inclusive, pelo próximo ano. “É difícil prever quando a situação vai se normalizar, mas a gente tem esperança de que isso seja resolvido no primeiro semestre de 2022, mas não dá para cravar”, disse.
DESAFIO GLOBAL
De acordo com o executivo, esse é um problema global, que afeta não só as fabricantes de veículos, uma vez que os semicondutores também são essenciais para as indústrias de computadores, smartphones, telecomunicações e de eletrônicos em geral. Moraes disse que a estimativa inicial é de que a crise provoque redução de 3% a 5% na produção mundial de veículos neste ano, com as fábricas suspendendo suas atividades por conta da falta de componentes. “O equilíbrio só deve ocorrer em 2022, então, é possível que até o fim do ano a gente tenha várias paradas de produção”, disse. Como se não bastasse, o setor ainda se depara com outro obstáculo, as chamadas microparadas – interrupções temporárias que nem sempre são noticiadas, mas que atrapalham toda a programação das fábricas. “Essas suspensões obrigam as montadoras a compensar o tempo perdido depois com horas ou jornadas adicionais”, explicou o dirigente.
Para piorar, Moraes lembrou que não existe solução para essa crise em um futuro próximo, já que uma fábrica de semicondutores exige grandes investimentos por conta da complexidade do componente. “Uma planta dessas demora de dois a quatro anos para se tornar funcional”, explicou. Em compensação, o presidente da Anfavea aproveitou para fazer uma provocação aos governantes. “Semicondutores são os componentes do futuro, então é estratégico para o país ter uma indústria desses itens”, afirmou. “Hoje, enfrentamos o problema com os chips, mas os países que pensam mais à frente estão usando isso como incentivo para criar políticas e investir nessa área. Isso está ocorrendo nos Estados Unidos, na Europa, na China e acredito que o Brasil também poderia pensar em fazer parte desse movimento, investindo na indústria de semicondutores, que é importante para diversos setores, afirmou.
– Faça aqui o download do relatório da Anfavea sobre desempenho da indústria até maio/2021
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