Rede de internet ultrarrápida vai produzir reflexos positivos nas linhas de produção e no desenvolvimento de veículos
Em 4 de novembro será realizado o leilão da faixa 5G no Brasil e, enquanto as operadoras de telecom organizam seus lances para explorar o serviço no mercado brasileiro, as empresas do setor automotivo já analisam as possibilidades que a distribuição de internet ultrarrápida poderá proporcionar a partir de sua adoção.
Em termos técnicos a internet de quinta geração viabiliza um maior tráfego de dados e, principalmente, uma maior cobertura na comparação com a rede 4G, uma vez que o sinal é propagado por meio de ondas de rádio, que por natureza conseguem chegar mais longe do que o sinal distribuído em outras frequências.
– LEIA MAIS
> Volkswagen inicia teste de rede 5G dentro de suas fábricas
> 5G vem aí: 6 passos para entender como a tecnologia habilita a nova mobilidade
> Atualizações em tempo real pela nuvem, comandos remotos e compras: Ultifi, da GM, chega em 2023
Para a Anfavea, a associação que representa as montadoras instaladas aqui, os benefícios da adoção do 5G produzirão reflexos positivos tanto no desenvolvimento de veículos quanto em sua produção. Falando especificamente do primeiro ponto, o do produto, a entidade acredita que haverá benefícios para o mercado de comerciais.
“Um dos primeiros segmentos a se beneficiar é a agricultura de precisão através das máquinas do agronegócio e caminhões pesados de transporte. Já produzimos aqui vários modelos preparados para usar essa tecnologia, mas de forma restrita devido à falta de conectividade no campo”, informou a entidade por meio de nota.
Scania tem 20 mil veículos conectados no Brasil
Nesta área o Brasil já possui avanços em termos de veículos conectados, sobretudo caminhões que enviam dados aos frotistas por meio da banda 4G. A Scania, por exemplo, divulgou que há em circulação no Brasil mais de 20 mil veículos da marca conectados, dentre caminhões e ônibus.
A Volvo, outro exemplo, mantém na América Latina mais de 100 mil veículos conectados, dentre caminhões, ônibus e máquinas de construção. Todos os veículos da montadora já saem de linha com o módulo de comunicação instalado.
Ambas as companhias registraram aumento da participação de serviços em seus faturamentos, muito em função da conectividade dos modelos que vendem. Por meio da rede, por exemplo, a montadora analisa o desempenho do veículo e, assim, oferece aos clientes programas de manutenção preventiva.
“Com a possibilidade de maior cobertura e qualidade sinal, a tendência é a de que as montadoras passem a oferecer mais serviços além do concierge e das atualizações remotas de software”, disse Fernando Trujillo, consultor da IHS Markit.
Onix foi o pioneiro na conectividade
Hoje no País existem modelos compactos que utilizam a internet para prover serviços aos motoristas. O Chevrolet Onix é o pioneiro dentre os compactos na era da conectividade 4G, por exemplo. O consultor afirmou que com a chegada do 5G é possível que outros veículos sigam a tendência e passem a oferecer serviços aos motoristas por meio da conexão.
“Existe uma tendência de que os lançamentos sejam conectados, e que isso não seja uma característica específica de um carro, e sim um item como freios ABS ou airbag”, contou Paulo Humberto Gouvea, diretor de soluções corporativas da TIM Brasil.
A Stellantis anunciou em maio, junto ao lançamento da nova Fiat Toro, a plataforma de e-commerce Cart. Ela passou a integrar os computadores de bordo de seus veículos e foi o destaque do lançamento do SUV Fiat Pulse, ocorrido em outubro.
A BMW, no ano passado, passou a oferecer atualização remota de software para os clientes brasileiros. O serviço, que é chamado de Over the Air (OTA), utiliza a rede de dados para poder fazer o download da nova versão do sistema que equipa os modelos da montadora.
GM prevê US$ 80 bi com novos serviços
O interesse das montadoras por receitas via serviços conectados já é percebido em seus planos estratégicos. A General Motors, por exemplo, estima faturamento de US$ 80 bilhões com sua oferta de serviços que envolvem algum tipo de conectividade via 5G, como o Cruise (direção autônoma), BrightDrop (entregas com veículos elétricos) e OnStar Insurance (seguros).
A Anfavea também projeta melhorias na manufatura de veículos, considerando a massificação do conceito de indústria 4.0 no parque nacional. Na visão da entidade, o 5G vai viabilizara entrada de fornecedores na conexão com as montadoras, algo que hoje ainda é incipiente.
“A tecnologia 5G e todos os aspectos de infraestrutura que a rodeiam é parte integral do passaporte que irá permitir que nosso país tenha uma indústria forte e relevante capaz de atender tanto as necessidades domésticas como se integrar no complexo e competitivo mercado global”, finalizou a entidade em nota.