Citando aumento de pedidos, Fazenda eleva o teto do programa de incentivo às vendas de veículos zero quilômetro no país
O governo federal anunciou na quarta-feira, 28, que o programa de descontos para automóveis receberá mais recursos para estimular as vendas desses veículos no mercado doméstico. Serão injetados no pacote de incentivos mais R$ 300 milhões, cuja origem, segundo o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, é a mesma dos R$ 500 milhões iniciais: a reoneração do diesel.
VEJA TAMBÉM:
– Para montadoras, frotistas devem acelerar as vendas de veículos do pacote de incentivos
– Governo estuda incentivo fiscal para produção de baterias para veículos elétricos no Brasil
– Governo pretende arrecadar R$ 5,5 bilhões com IPI de automóveis
“Acumulou uma fila [de pedidos por veículos novos], que foi levada ao conhecimento do presidente Lula, que decidiu atender. Nós vamos estender um pouco para atender essa fase final do programa. Na reoneração do diesel já havia uma sobra de R$ 100 milhões, aos quais serão agregados mais R$ 200 milhões. Será, portanto, um programa de R$ 1,8 bilhão”, disse o ministro à jornalistas em Brasília (DF).
Segundo o Haddad, esses R$ 200 milhões resultam de um aumento da reoneração do diesel em três centavos de real, os quais serão aplicados via Medida Provisória (MP) dentro de noventa dias. Para Haddad, não haverá impacto para o consumidor do combustível porque “houve queda do dólar e do petróleo”, o que compensaria a reoneração maior.
Governo muda plano e eleva o teto dos incentivos
O aumento dos recursos para o pacote de incentivos, no entanto, mostra que a Fazenda tomou caminhos alternativos ao longo das primeiras semanas da vigência do programa federal. Isso porque, à época do anúncio, o ministro havia informado que a medida duraria até quatro meses ou até que fossem consumidos os R$ 500 milhões destinados para patrocinar a redução de preço dos automóveis.
Levantamento mais recente do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) mostrou na semana passada que 80% dos recursos já foram solicitados pelas montadoras para atender demandas de clientes pessoa física, alvo da primeira fase do programa. Extraoficialmente, fontes da indústria afirmam que ele foi utilizado em sua totalidade na sexta-feira, 23.
A fila de pedidos citada por Haddad como motivador do aumento dos recursos pode não ser aquela feita por clientes pessoa física, ainda que as vendas de automóveis, pelo menos até a terça-feira, 27, tenham sido maiores do que as registradas nos 27 dias de maio, somando 132,2 mil unidades, com possibilidade de chegar até o final do mês em 180 mil unidades.
Pode ser a fila de pedidos feitos por clientes pessoa jurídica, grupo que até agora não conseguiu acessar os incentivos do programa federal. A barreira estabelecida pelo governo ao segmento provocou uma série de contratempos aos frotistas, principalmente às locadoras, que alegam ter acumulado prejuízo de R$ 500 milhões até agora, além de terem deixado de comprar 60 mil veículos.
Vale lembrar que renovação de frota contínua é a mola mestra do modelo de negócio das locadoras. Quanto maior o tempo de renovação, maiores são as perdas financeiras, uma vez que o passar do tempo desvaloriza os ativos, aumento os riscos de custos com manutenção, dentre outras mazelas.
E com as locadoras fora das compras, sofrem as montadoras, que vendem a maior parte da sua produção de automóveis para as empresas desse segmento por meio da modalidade direta de vendas.
Montadoras e locadoras exercem pressão
À reportagem, uma fonte ligada às montadoras disse que as pressões exercidas por frotistas e fabricantes contribuíram para que o governo mudasse de ideia acerca do tamanho dos incentivos direcionados para patrocinar os descontos nas vendas de automóveis novos no país.
“A primeira fase do programa atendeu a uma demanda da sociedade, mas esvaziou apenas os estoques das concessionárias. Os estoques das montadoras ainda estão lotados porque as locadoras ficaram de fora do incentivo”, contou o interlocutor da indústria. “Ainda que os R$ 300 milhões adicionais sejam exclusivos para uso de pessoas jurídicas, as vendas que podem surgir a partir desse recurso não vão sanar o maior problema das montadoras, que é o crédito caro.”
Dados da Anfavea, a associação que representa as montadoras de veículos instaladas no Brasil, mostram que em maio o estoque nas concessionárias concentrava 129,5 mil unidades, ao passo que nos pátios das fabricantes o volume chegava a 122,2 mil unidades. Considerando apenas os modelos elegíveis ao pacote de incentivo, que custam até R$ 120 mil, o estoque total era formado por 115 mil unidades no mês passado.
“Com a possibilidade de vender mais por causa da medida provisória, muitas montadoras aceleraram o ritmo das linhas de produção e este estoque aumentou ainda mais. Com o principal cliente fora, no caso as locadoras, as fabricante se depararam com um cenário de pátio cheio, e quando isso acontece ajustes na produção geralmente são feitos”, contou a fonte.
Ajustes como o anunciado na segunda-feira, 28, pela Volkswagen, como informou em primeira mão Automotive Business. A montadora vai promover paradas nas suas três fábricas no país: Anchieta, em São Bernardo do Campo (SP), Taubaté (SP) e São José dos Pinhais (PR). A montadora, inclusive, iria parar a produção em Taubaté no começo do mês, mas decidiu rever o plano em função do anúncio do pacote de incentivos.
– Faça a sua inscrição no #ABX23 – Automotive Business Experience, o maior encontro do ecossistema automotivo e da mobilidade
“A Volkswagen do Brasil informa que haverá parada de produção em suas fábricas de automóveis por conta da estagnação do mercado”, respondeu a montadora a uma solicitação da reportagem, mostrando que há um problema de demanda mesmo sem citar isso diretamente.
Pela lógica do setor, a estagnação deverá continuar, e se agravar, caso os frotistas sigam fora do pacote de incentivos. Isso só será possível saber nos próximos dias, em divulgação do MDIC no Diário Oficial da União formalizando o aumento dos recursos e informando a quem eles serão destinados.