Preço é barreira maior para carros elétricos do que infraestrutura, dizem especialistas no #ABX22

Experiências mostram que maioria absoluta dos carregamentos ocorre em casa ou no trabalho

Marcos Rozen

Marcos Rozen

Experiências mostram que maioria absoluta dos carregamentos ocorre em casa ou no trabalho

No universo dos veículos elétricos é comum recorrer-se a uma velha metáfora para tentar descobrir o melhor caminho para o mercado brasileiro: o que vem primeiro, o ovo ou a galinha? – ou seja, o que é mais importante para a popularização da eletrificação, o veículo elétrico ou a estrutura de carregamento?

A conclusão geral de um painel que reuniu especialistas no tema durante o #ABX22 – Automotive Business Experience, principal encontro de negócios do ecossistema automotivo e da mobilidade, realizado no São Paulo Expo em 8 de setembro, foi a de que o mundo ideal pediria que os dois chegassem juntos, o ovo e a galinha. Mas, quando isso não for possível, o veículo elétrico é a prioridade.

Evandro Mendes, CEO da Electricus e um dos painelistas, afirmou que este tipo de dúvida também foi comum nos mercados que introduziram os elétricos há mais tempo, como Alemanha e Suíça, por volta de 2016. “A experiência deles mostrou que o carregamento doméstico, mesmo que em uma tomada comum de três pinos, funciona bem no dia a dia.

O desafio da carga rápida é um pouco mais complexo, mas até o fim do ano que vem deveremos ter muitas rotas em estradas. Desta forma a maior barreira para a eletrificação no Brasil é o preço dos veículos, e não a infraestrutura de carregamento.”

Trabalho em conjunto é fundamental

Outro participante do painel, Rafael Rebello, Diretor de Soluções e Energia Renováveis da Raízen, adicionou um terceiro elemento à dupla ovo-galinha: “Os cases vindos do exterior mostram que o sucesso se obtém quando os três principais participantes deste ecossistema caminham juntos na mesma direção: as montadoras, as empresas de infraestrutura e de energia e o governo”.

Para ele o Brasil tem mais desafios a superar, tais como conscientizar o cliente de que a jornada de carregamento dos elétricos é muito distinta do que ele está habituado com os veículos a combustão, além de prover soluções completas para o posto de recarga, incluindo sistemas que mostrem remotamente se o funcionamento está ok e a possibilidade de reserva prévia.

Quem também participou do painel foi Rafael Ugo, Diretor de Marketing da Volvo Cars. A empresa foi uma das pioneiras a instalar no Brasil rede pública de recarga, inicialmente com equipamentos de menor potência em locais de grande movimento, como shoppings centers e supermercados, e em uma nova etapa com carregadores rápidos em estradas – serão 13 até o fim do ano.

“Percebemos que criar uma infraestrutura de recarga era necessário para quebrar barreiras envolvendo os elétricos, mesmo que às vezes fossem mais emocionais do que funcionais. Sabemos que de 80% a 90% das recargas são feitas em casa, mas o fato de haver um carregador em um shopping, farmácia, supermercado etc. dá segurança ao consumidor.”

Corredores para carros elétricos

De acordo com Ugo, a Volvo Cars completará em 2022 apenas a primeira de cinco fases de instalação de carregadores rápidos em rodovias. A segunda e a terceira fases serão iniciadas no ano que vem e devem representar a instalação de pelo menos mais 13 destes equipamentos, cobrindo especialmente novos pontos nas regiões Nordeste e Centro-oeste.

Eduardo Pincigher, Diretor de Assuntos Corporativos da JAC Motors, também participou do painel e concordou com os demais painelistas. “Precisamos desmistificar a necessidade de infraestrutura de carregamento. Na Europa 90% dos proprietários de elétricos carregam seus veículos em casa ou no escritório, enquanto 5% o fazem em shoppings e outros locais públicos. Apenas 5% usam eletropostos”, afirmou.

Ele deu um exemplo que corrobora o entendimento de que o preço é um impeditivo maior do que a infraestrutura para avanço dos elétricos aqui. “Na Itália há 13 mil postos de carregamento e a participação de mercado dos elétricos é de 4% a 5%, enquanto na Inglaterra há 9 mil postos para 12% de fatia. Se há menos carregadores lá, como se vendem mais elétricos? A resposta é a renda per capita, que é maior na Inglaterra do que na Itália”, explicou.

Para ele o mercado brasileiro vive um cenário semelhante, restringido pela menor renda. “O preço é o limitador. Enquanto assim for o mercado de elétricos no Brasil não deverá passar de 0,5% a 0,6% do total.”

O executivo revelou ainda que a JAC Motors já vendeu 2,5 mil veículos elétricos no país.


Para os que se inscreveram no #ABX22 digital, um aviso: o conteúdo do evento estará disponível para apreciação a partir do dia 15/09, na área logada do site oficial.

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