Por que a GM voltou atrás e decidiu fazer carros híbridos plug-in

Fabricante mudou plano estratégico que previa investir apenas em veículos 100% elétricos

Vitor Matsubara

Vitor Matsubara

Fabricante mudou plano estratégico que previa investir apenas em veículos 100% elétricos

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A General Motors surpreendeu a indústria automotiva ao anunciar uma mudança na estratégia de eletrificação de seus carros. Até então firme na ideia de fabricar apenas carros elétricos, a GM voltou atrás e confirmou que produzirá carros híbridos plug-in.

A revelação partiu de Mary Barra, CEO da GM, durante encontro com investidores no fim de janeiro. Assim, a ideia é investir na tecnologia híbrida como uma transição para a propulsão elétrica – algo que várias concorrentes já estão fazendo.


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Atualmente, apenas a filial chinesa da Chevrolet comercializa um modelo híbrido. Trata-se do sedã Monza, cujo projeto foi concebido exclusivamente para a China.

O último carro híbrido vendido pela GM nos Estados Unidos foi o Volt (que ilustra a abertura desta matéria). Ele foi lançado por lá em 2011 como um carro elétrico e virou um veículo híbrido por conta dos altos custos de produção e a demanda na época. O modelo saiu de linha em seu país natal em 2019.

GM: um passo atrás para a eletrificação

A ousada decisão de partir direto para os carros elétricos foi divulgada em 2018 pelo então presidente Mark Reuss. O posicionamento se manteve nos anos seguintes, a ponto de o próprio executivo afirmar ao “The Washington Post” que a GM não iria entrar nos carros híbridos ou híbridos plug-in, e sim “ir direto para os elétricos”.

No entanto, as mudanças recentes no cenário dos carros elétricos obrigaram a GM a rever sua estratégia. A indústria passa por uma queda global na demanda por veículos movidos a eletricidade e várias gigantes do setor baixaram os preços de forma desenfreada na tentativa de alavancar as vendas.

Ao mesmo tempo, as marcas chinesas vêm com tudo em diversos países. Uma delas é a BYD, que roubou da Tesla a liderança na venda de carros eletrificados no mundo.

A própria GM começou a sentir os efeitos. Além dos problemas com softwares de Cadillac Lyriq e Chevrolet Blazer EV, a produção do Equinox EV também foi prejudicada. Para piorar, a baixa demanda pela Silverado EV fez a empresa reduzir o volume de produção.

Especialista diz que decisão foi acertada

Para Milad Kalume Neto, diretor de desenvolvimento de negócios da Jato Dynamics, a General Motors tomou a ação correta ao optar por uma mudança estratégica.

“Foi uma decisão acertada. A GM se deparou com dificuldades na comercialização dos veículos puramente elétricos como a Blazer”, ponderou Milad. “Deve-se considerar as questões observadas em mercados onde os elétricos têm maior participação, que passaram a questionar mais fortemente o final de ciclo das baterias, seus custos, a forma de gerar a eletricidade e o grande valor de depreciação observado nos veículos”, acrescentou.

O diretor da Jato acredita que a precariedade da infraestrutura em importantes mercados (como o Brasil) também pode ter pesado na decisão da GM.

“Nem todos os mercados possuem hoje a infraestrutura necessária para os veículos elétricos, sobretudo em relação aos carregadores. O Brasil é um exemplo típico, pois se trata de um país continental, com estrutura de carregamento pior do que qualquer país europeu”.

E no Brasil?

Mesmo sem uma infraestrutura minimamente consolidada de estações de recarga e sem nenhuma montadora produzindo carros elétricos em larga escala no país, a marca abraçou fortemente o discurso da matriz.

“Não há razão para que não possamos fazer elétricos também no Brasil.  O veículo elétrico, categoricamente, é melhor que o híbrido para o meio ambiente”, disse Santiago Chamorro, presidente da GM do Brasil.

O executivo, inclusive, esbanjou confiança quando perguntado sobre uma possível produção de carros elétricos por aqui.

“Provavelmente nós seremos os primeiros nessa inovação de industrializar veículos elétricos no país e não vai ser muito distante de agora”, disse.

Chamorro também se mostrou favorável à manutenção do imposto zero para carros eletrificados importados, algo que não se manteve com o anúncio do Mover – a segunda fase do Rota 2030.

“Fechar as fronteiras para os veículos no país é fechar as fronteiras para que o consumidor possa experimentar esse tipo de tecnologia e também aos benefícios para o meio ambiente. Esse mercado avança porque há incentivos. Não é bom retirá-los”, afirmou.

À época, essa posição firme causou desconforto na Associação Nacional das Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), uma vez que o discurso da marca contrariava as opiniões da associação.

Curiosamente, a Chevrolet ainda não oferece uma linha grande de carros elétricos no Brasil. Até o momento, apenas o Bolt é comercializado na versão EUV. Entretanto, a marca já confirmou a chegada de dois carros elétricos ao país em 2024: Blazer EV e Equinox EV serão lançados por aqui.

Procurada por Automotive Business para comentar se a filial brasileira seguirá os passos dos Estados Unidos ao investir em carros híbridos, a assessoria de imprensa da Chevrolet não retornou nosso pedido. Caso o faça, esta matéria será atualizada.