Montadora baseia suas projeções nos indicadores positivos de alguns de seus clientes frotistas
A Mercedes-Benz teve um ano díficil naquele que é o principal mercado da companhia no mundo, no caso, o Brasil. A montadora viu cair o ritmo da sua produção de caminhões ao longo do ano, assim como os volumes de vendas.
Tudo o que a empresa espera é um ano novo melhor e, segundo o CEO Achim Puchert, há razões para acreditar nisso.
“O ano que vem será um pouco melhor do que foi 2023. Esperamos uma pequena melhora quando observamos as perspectivas dos clientes”, disse o executivo.
E ele tem razão a respeito da pequena melhora. Quando analisamos as perspectivas de dois importantes setores da economia nacional que refletem diretamente nas vendas de caminhões da Mercedes-Benz, por exemplo, vemos que haverá crescimento tímido no ano que vem.
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No caso do varejo, que consome caminhões leves e médios para operação de distribuição, a Confederação Nacional do Comércio de Bens e Serviços e Turismo (CNC) projeta demandas no setor 1,5% maiores na comparação com as observadas em 2023.
Já no caso do agronegócio, setor que consome modelos pesados e extrapesados, o Plano Safra 2023/2024 é o maior da história em termos de volumes de recursos na produção agrícola, o que deverá movimentar as vendas de veículos no ano que vem de alguma forma.
A projeção da taxa Selic, que influencia diretamente nos financiamentos de caminhões novos, é de 9,25% para o ano que vem, apontou o Boletim Focus divulgado no início de dezembro. Portanto, menor do que a de 2023, que deverá encerrar, ainda segundo o boletim, com 11,75%.
Por outro lado, o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) projetado para 2024 é menor do que os 3% esperado para este ano. A OCDE, que é a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico, indica um produto interno 1,8% maior em 2024, na comparação com 2023.
Se a produção e as vendas da empresa forem maiores no ano que vem, ainda que levemente superiores na comparação, já servirá para a companhia comemorar e esquecer os desafios de 2023.
Desafios esses que, é bom frisar, não afetaram apenas à Mercedes-Benz, mas a todas as demais concorrentes que produzem caminhões localmente.
A transição do Euro 5 para o Euro 6 derrubou as vendas de pesados no mercado doméstico, o que levou muitas montadoras, inclusive a Mercedes, a reduzirem o ritmo de produção ao longo de boa parte do ano — houve concessão de férias coletivas, aplicação de lay-off e corte de turno.
No caso das vendas de pesados, as da Mercedes-Benz caíram até novembro 32% na comparação com as registradas no mesmo período em 2022, somando 9,3 mil unidades. O desempenho levou a empresa a deter a terceira maior fatia no segmento, atrás de Scania e Volvo. No mesmo período do ano passado, a empresa tinha em mãos a segunda maior fatia.
Considerando as vendas totais da montadora, envolvendo outros modelos, as vendas caíram 24,5%, somando 20,6 mil unidades até novembro. A líder Volkswagen Caminhões e Ônibus, que assim como a Mercedes tem uma oferta que atende outros segmentos afora o de pesados, registrou 24,6 mil unidades na mesma base de comparação.
Não será uma tarefa simples retomar a posição de liderança em que esteve há poucos anos. Afora as cirscunstâncias do mercado, uma nova equipe de vendas assume o departamento comercial da montadora, e é preciso dar tempo ao tempo para vermos como será seu desempenho já a partir de 2024.
Roberto Leoncini, o vice-presidente de vendas que elevou o desempenho comercial da montadora a patamares históricos ao longo de quase uma década, se aposentou e deixa agora o legado (e a pressão por entregas no mesmo nível) para Jefferson Ferrarez.
O fato é que a montadora passa por um grande processo de transformação e já não é de hoje: no ano passado, por exemplo, reestruturou toda a operação na fábrica de São Bernardo do Campo (SP) no sentido de deixá-la mais enxuta e, portanto, eficiente.
Lidar com uma nova realidade industrial é algo que precisa de tempo de adaptação, mas nesse ínterim houve a luta para manter as linhas abastecidas com semicondutores, o Euro 6, as eleições e um cenário econômico que afastou o frotista dos negócios.
Episódios que consumiram energia e recursos da fabricante enquanto internamente mudanças profundas ocorriam. A ver se em 2024, com a poeira um pouco mais baixa, algo de paz e normalidade possa pairar sobre as suas atividades no país. A volta do segundo turno no ABC Paulista, na esteira do programa Caminho da Escola, já pode ser um indicador de bons ventos à frente.