Por produção local, montadoras negociam limite às importações de elétricos

Fabricantes de veículos buscam ferramentas de fomento para estimular a nacionalização de novas tecnologias de propulsão elétrica

Bruno de Oliveira

Bruno de Oliveira

Fabricantes de veículos buscam ferramentas de fomento para estimular a nacionalização de novas tecnologias de propulsão elétrica

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As montadoras instaladas no país devem apresentar ao governo federal nos próximos dias uma proposta de alteração do imposto de importação sobre os carros elétricos. No entendimento das fabricantes, a atual alíquota zero representa uma espécie de entrave às empresas que já possuem planos de produção local desses modelos.

A proposta de modelo tributário ainda está em definição pela Anfavea, a associação que representa as montadoras. À reportagem, um interlocutor disse que a ideia propor aumento gradual do tributo, segundo um cronograma a ser negociado em Brasília (DF).

Além do escalonamento, existe uma possibilidade, ainda que remota, de se estabelecer um sistema que limitaria os volumes de carros elétricos que as empresas podem importar, novamente, em esquema gradual.

“Existe um consenso na indústria de que é preciso trazer novas tecnologias para a produção local, as matrizes estão cobrando isso. Reduzir o imposto de importação foi uma grande medida para popularizar a propulsão elétrica, mas chegou o momento de nacionalizar. Se não fizermos isso, ficaremos fora do jogo global”, contou a fonte.

Montadoras se preocupam com ociosidade nas linhas

As montadoras argumentam, ainda, que a produção local de modelos elétricos que seria estimulada pela restrição às importações aumentaria a arrecadação fiscal. Além disso, o movimento poderia criar novos postos de trabalho e, principalmente, reduzir uma alegada capacidade ociosa das linhas de produção de veículos do país.

“Os investimentos necessários para produzir veículos são altos. É só olhar o que as montadoras já aportaram. Já existe um parque enorme, mas que não está preparado para produzir elétricos. Precisaria ainda mais investimento. Como aplicar recursos frente ao cenário em que os importados entram no país com imposto zero?”, aponta Ricardo Bacellar, consultor da Bacellar Advisory.

O volume de vendas de modelos elétricos no mercado brasileiro vem crescendo ano a ano, ainda que sobre bases pequenas na comparação com as vendas de veículos equipados com motores térmicos.


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A escala, portanto, ainda é algo que precisa aumentar para justificar a produção local de carros eletrificados. A julgar pelo movimento de algumas montadoras, como Stellantis, Volkswagen e Toyota, isso deverá acontecer em breve na esteira dos veículos híbridos flex.

Na terça-feira, 31, Antonio Filosa, COO da Stellantis na América do Sul, disse que a empresa pretende fabricar na região powertrain elétrico, e não “trazer kits importados da Ásia”, em alusão ao modelo de negócio escolhido por outras marcas que também atuam no Brasil.

O executivo evitou a crítica direta, mas existe uma espécie de sinal de alerta no ambiente das fabricantes acerca do tema, principalmente entre aquelas que fabricam modelos pesados.

Stellantis quer desenvolvimento local de elétricos

Filosa, contudo, ressaltou a importância que o desenvolvimento local tem dentro do planejamento da Stellantis para a região, o qual envolve uma série de lançamentos para os próximos anos de modelos com algum tipo de tecnologia que tenha a eletricidade como combustível.

“Temos 1,5 mil engenheiros, Betim é um dos principais centros de pesquisa da empresa no mundo. Nossos projetos nacionalizaram fornecedores que não tinham operação aqui, alguns vieram da Índia. Qualquer nova tecnologia que envolve eletrificação, a carga tributária deve ser pensada para favorecer a produção local”, disse Filosa em transmissão online.

“Não queremos depender do câmbio e nem da logística de importação”, completou.

Esta não seria a primeira vez que um regime tributário foi aplicado para favorecer a indústria nacional. O Inovar-Auto, programa que vigorou de 2013 a 2017,  foi desenhado para proteger a produção nacional de veículos em detrimento às importadoras, visando metas de eficiência energética.

Também tramitam em Brasília outras propostas ligadas ao cenário tributário para os elétricos. No Senado, aguarda um parecer da Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) o Projeto de Lei 403/2022, que sugere isenção do imposto sobre importação para veículos elétricos e híbridos até dezembro de 2025.