Ainda que o Planalto tenha tocado em assunto caro às montadoras, cenário do crédito ainda é considerado adverso ao consumidor médio
Ainda que no ano passado o estado tenha criado o pacote de socorro às montadoras, que ajudou a adicionar cerca de 200 mil veículos ao volume de vendas do ano, as fabricantes defendem que a solução mais efetiva para melhor o ambiente de negócios no setor é o crédito mais barato ao consumidor.
Na segunda-feira, 5, o presidente Lula aproveitou a retomada dos trabalhos no Congresso para avisar, via mensagem enviada à casa, que uma das prioridades do Planalto neste ano é viabilizar a diminuição do custo do crédito e, portanto, aumentar a sua oferta.
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O poder executivo passa, dessa forma, a tocar um tema importante para uma indústria que almeja vender mais e atender uma alegada demanda reprimida. Mas não será algo simples fazer com que o crédito volte a ser acessível ao consumidor brasileiro médio.
“O crédito é fundamental, principalmente para bens de consumo de alto valor como o automóvel. Mas tem outros fatores que precisam estar alinhados também, como a taxa de juros mais baixa, para a parcela caber no bolso do consumidor. Assim como uma taxa de inadimplência baixa”, disse o consultor Fernando Trujillo, da S&P.
No caso da Selic, houve uma pequena redução ao longo do ano passado após forte debate entre representantes do Banco Central e do ministério da Fazenda. Mas, ainda que a taxa básica tenha diminuído, contrair crédito no país ainda é considerado algo caro, como podemos ver nesta reportagem.
Segundo David Wong, diretor da consultoria Alvarez & Marsal no Brasil, a questão em torno dos financiamentos de veículos não é a disponibilidade dos recursos, mas o seu custo financeiro.
“Os bancos ainda têm um risco muito alto na operação por causa do índice de inadimplência no país. E isso não se resolve com uma canetada, mas com medidas ligadas ao aumento da renda do consumidor”, afirmou Wong.
Segundo dados da Anef, que é a associação dos bancos das montadoras, a inadimplência acima de 90 dias está em 5,3% para financiamentos do setor por meio de Crédito Direto ao Consumidor (CDC).
Entre janeiro e setembro de 2023, as instituições financeiras liberaram RS 151 bilhões para viabilizar vendas a prazo de veículos, 4,6% a mais do que no mesmo período em 2022. Mas o aumento de desembolsos se deu mais em função de práticas específicas das financiadoras, não por causa da queda da selic, afirmou a associação.
Veículo mais caro também pesou no bolso do consumidor
O consultor disse, ainda, que o preço médio dos veículos no mercado brasileiro também aumentou nos últimos meses, o que também dificultaria a aquisição de automóveis a prazo, por exemplo.
“O preço do ativo subiu muito acima da inflação. Ainda que a Selic esteja hoje menor, o preço do carro está maior, o que nos leva novamente a um cenário adverso ao consumidor médio que não tem recurso para dar uma entrada próxima a 50% do valor do financiamento”, disse Wong.
Dados da B3 mostraram que no ano passado o volume de veículos novos financiados chegou a 2,043 milhões de unidades, 17% a mais sobre a mesma base em 2022. Este número chegou a 3,5 milhões de unidades há dez anos e veio caindo paulatinamente abaixo deste patamar desde então.