Como as montadoras estão tentando driblar a crise dos semicondutores

Negociações com fornecedores e investimentos em logística são saídas para lidar com problema

Vitor Matsubara

Vitor Matsubara

Negociações com fornecedores e investimentos em logística são saídas para lidar com problema

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A escassez no fornecimento de chips ainda é o principal inimigo da indústria automotiva. Desde o começo da pandemia, em 2020, todas as fabricantes já precisaram paralisar suas fábricas ao menos uma vez por conta da crise dos semicondutores.

Diante disso, Automotive Business procurou todas as montadoras com produção nacional para descobrir as estratégias de cada empresa para driblar o problema. Ficaram de fora apenas as companhias que fabricam veículos no regime CKD, no qual apenas a montagem é realizada no país.

De todas as fabricantes, apenas a General Motors não respondeu nossa reportagem até a publicação desta matéria. Já a HPE, que representa as marcas Mitsubishi e Suzuki no país, preferiu “não entrar em detalhes”.

Stellantis (Fiat, Jeep, Peugeot e Citroën)

A Stellantis conseguiu lidar relativamente bem com o problema que afetou toda a indústria – tanto que, mesmo diante da falta de componentes, a empresa tem produzido o bastante para se sustentar na liderança do mercado. Embora não tenha conseguido se livrar da suspensão da produção nas plantas de Betim (MG) e Goiana (PE), o grupo sustentou a liderança da Fiat e manteve o bom ritmo de vendas de suas outras marcas, sobretudo a Jeep.

Juliano Almeida, diretor de compras e supply chain da Stellantis para América do Sul, reconheceu que a escassez de semicondutores “ainda é um dos principais limitadores do mercado automotivo”. 

“Estamos trabalhando incansavelmente desde 2020 na negociação com fornecedores e na busca de alternativas e de novas fontes de suprimentos para assegurar, na medida do possível, a regularidade do fluxo de produção”, declarou o executivo.

Como parte desse esforço, recentemente, Antonio Filosa, presidente da companhia, anunciou o objetivo de elevar em 70% o número de fornecedores na América do Sul. A Stellantis também ressaltou os esforços em logística, incluindo alternativas de rotas e modais para assegurar suprimentos.

“Estamos monitorando criticidades e implementando ações para mitigação de riscos junto aos fornecedores. Para médio e longo prazos, realizamos estudos para padronização de subcomponentes em plataformas globais, o que vai permitir a otimização do fluxo de suprimentos”, afirmou Juliano. 

Por fim, o porta-voz da Stellantis destacou os esforços para identificar fornecedores que possam se instalar no país.

“Há muito a fazer na localização da produção de componentes e de subcomponentes, na perspectiva de tornar a indústria nacional mais competitiva e de melhorar a gestão de custos de produção. Quanto mais localizada for a produção de componentes, melhor será para o país e a indústria automotiva”. 

Volkswagen

A Volkswagen sentiu o impacto da crise dos semicondutores. Todas as fábricas no Brasil já precisaram ser paralisadas em algumas ocasiões. Com isso, a empresa tem penalizado seu volume de vendas. É por isso que a fabricante afirma que mantém conversas constantes com a matriz em busca de soluções.

“Nos últimos meses, o Grupo Volkswagen tem trabalhado intensamente e com sucesso, em parceria com a sua matriz e fornecedores, para minimizar os efeitos do gargalo de semicondutores nos produtos do Grupo Volkswagen”.

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Otimista, o grupo acredita que a situação “melhorará gradualmente em 2022 e que a produção de veículos nas fábricas de automóveis se estabilizará ao longo do ano em comparação com 2021”.

De toda maneira, a empresa lembrou que a situação do fornecimento de semicondutores “continua tensa” por causa dos riscos gerados pela pandemia do coronavírus e do eventual surgimento de novas variantes.

“Esses riscos podem ter impacto negativo e adverso na situação, fazendo com que o ano de 2022 permaneça muito volátil e desafiador. Em razão disso, analisamos a situação diariamente para limitar o impacto na produção”, concluiu a VW.

Hyundai

Mesmo com algumas pausas na produção pela falta de componentes, a Hyundai está conseguindo manter o HB20 na liderança de vendas entre os automóveis de passeio em 2022. Resta saber se a fabricante conseguirá seguir neste ritmo com a estreia do novo HB20, cuja demanda deve aumentar significativamente nos próximos meses.

A empresa diz que “está monitorando de perto a situação para otimizar a produção de acordo com as condições de fornecimento e tomando as medidas necessárias, como ajustes nos cronogramas de produção”.

Além disso, a Hyundai declarou que está “reforçando o estoque de componentes, expandindo a aplicação de componentes produzidos localmente e diversificando a cadeia de suprimentos por meio da cooperação com vários parceiros de semicondutores, gerenciando estoques preventivamente e continuamente procurando por peças de chip alternativas”.

Honda

A Honda não sentiu tanto os efeitos da crise dos semicondutores como algumas concorrentes. Com produção de automóveis em Itirapina (SP) e de motores e transmissões em Sumaré (SP), a empresa também se “beneficiou” com o enxugamento de sua linha de produtos, uma vez que o Civic deixou de ser fabricado no país.

Mesmo assim, a marca reconheceu que “houve paradas de produção em momentos específicos” na rotina das fábricas.

“Diante da limitação da oferta de semicondutores em toda a indústria, a Honda Automóveis do Brasil vem administrando as operações de acordo com a disponibilidade global deste insumo e monitorando a situação junto a seus fornecedores, de forma a manter uma atualização constante sobre o fornecimento dos itens necessários para a produção”, disse a empresa.

Toyota

A Toyota precisou se virar para não amargar uma queda mais substancial nas vendas. A fabricante tomou medidas extremas, como a retirada da central multimídia de alguns modelos, para reduzir a necessidade de chips eletrônicos em cada carro.

Segundo a empresa, a Toyota “vem buscando soluções que minimizem os impactos ao consumidor e mantém diálogo constante e aberto com seus fornecedores”.


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A fabricante ainda ressaltou que aplica em suas unidades o TPS (Toyota Production System) “como forma de minimizar o grande impacto que essa situação atípica vem causando em toda a indústria”.

Nissan

A Nissan mantém duas fábricas no país: uma delas opera em conjunto com a Renault em São José dos Pinhais (PR) e a outra funciona em Resende (RJ).

Perguntada sobre a situação das plantas, a empresa disse que “como todo o setor automotivo, a fábrica da Nissan em Resende também está sendo afetada pela falta de semicondutores e outras peças”.

“A empresa continua a trabalhar em estreita colaboração com seus parceiros fornecedores para avaliar o impacto na cadeia de suprimentos e produção e o foco principal é manter o mais consistente possível o atendimento às demandas dos clientes e da rede de concessionários”, informou a fabricante.

Caoa Chery

As mudanças realizadas na Caoa Chery em 2022 limitaram a produção de veículos à planta de Anápolis (GO).

Em nota enviada à AB, a empresa classificou a falta de semicondutores como “um grande desafio para toda a indústria nos últimos dois anos, assim como questões de logística”.

A Caoa Chery diz que “se programou para que esses pontos não impactassem de forma agressiva nas operações da empresa. Foram realizadas diversas análises e mapeamentos, em conjunto com empresas e fornecedores parceiros, que resultaram em medidas eficazes na contenção dessa situação”, afirmou.

A fabricante disse ter feito “ajustes na linha de produção” para seguir com o cronograma de investimentos e lançamentos de produtos, além de oferecer produtos a pronta entrega. 

Renault

Produzido veículos em São José dos Pinhais (PR), a Renault precisou interromper as atividades em algumas ocasiões. A empresa revelou que “segue realizando uma gestão de crise diária”. Esse plano é liderado pela matriz na França com o objetivo de “minimizar os impactos em nossas fábricas no país”.

Mitsubishi

Atualmente, a Mitsubishi produz os veículos L200 Triton, L200 Triton Sport, Outlander Sport e Eclipse Cross na planta de Catalão (GO). Quem comanda as operações da fábrica é o grupo HPE, que, até pouco atrás, também fazia a antiga geração do Suzuki Jimny. Questionada sobre como a crise dos semicondutores afeta a linha de montagem dos modelos da Mitsubishi, a HPE preferiu não entrar em detalhes.

Chevrolet

A Chevrolet foi a marca mais afetada pela crise dos semicondutores. A General Motors precisou interromper a produção de veículos por cinco meses, o que acabou custando a perda da liderança de vendas de automóveis de passeio em 2021.

Procurada pela reportagem de AB, a assessoria de imprensa da General Motors não respondeu até o fechamento desta matéria. Caso envie um posicionamento, este conteúdo será atualizado.