Com produção suspensa, Caoa Chery mantém linha e esvazia estoque

Unidade instalada em Jacareí (SP) está sem atividades produtivas desde 2022 à espera de novos modelos

Bruno de Oliveira

Bruno de Oliveira

Unidade instalada em Jacareí (SP) está sem atividades produtivas desde 2022 à espera de novos modelos

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Pouco mais de um ano após suspensão das suas atividades produtivas, a fábrica da Caoa Chery instalada em Jacareí (SP) hoje serve como uma espécie de centro de distribuição de dois modelos da empresa que são importados da china: o sedã Arrizo 6 pro Hybrid e o elétrico iCar.

O estoque, que desde maio já não recebe novas unidades vindas do exterior, está em vias de acabar com a política de preço agressiva que a marca adotou nas últimas semanas. Com a venda das cerca de 400 unidades restantes, fica a pergunta: o que será da fábrica nos próximos anos?


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Existem muitas incertezas, como o próprio retorno às atividades em 2025 prometido pela companhia. De acordo com o sindicato local dos metalúrgicos, a linha de produção segue intacta e com a manutenção em dia. E há o desejo por parte da Chery de fabricar novos modelos ali.

Entre a vontade e a realidade existe uma negociação da empresa com a sua sócia nacional, a Caoa. Interlocutores da entidade que representam os trabalhadores contam que a fabricante chinesa tem planos de produzir modelos eletrificados inéditos na unidade.

Um comitiva de executivos baseados na China, inclusive, esteve na fábrica em agosto analisando as instalações para tal.

Acontece que introduzir estes novos modelos na fábrica demandaria investimento, e a sócia brasileira estaria reticente quanto a isso, segundo as fontes consultadas pela reportagem. Os R$ 3 bilhões anunciados pela Caoa em agosto não contemplam a fábrica de Jacareí.

Matriz chinesa tem plano B

Como uma espécie de plano B, a Chery estuda caminhos para montar esses novos modelos no país por meios próprios. No radar, estariam veículos de marcas subsidiárias como Omoda, Jetour e Jaecoo, cujos modelos ainda são inéditos no mercado brasileiro.

Ter um aval, ou não, da Caoa na empreitada, e montar uma nova operação local com produção de veículos novos, são coisas que demandam tempo. E, portanto, seria algo que poderia comprometer o prazo de retomada em 2025, disseram as fontes.

Apesar da possível divergência, a sociedade firmada entre Caoa e Chery segue ativa. Segundo dados da Junta Comercial de São Paulo (Jucesp), seu capital é de R$ 2,1 bilhões e tem como representantes Chery Automobile e a Caoa International, sediada em Hong Kong.

Assinam pela companhia, portanto, Yifei Zhang, presidente da Chery no Brasil, e Izabela Molon Luchesi de Oliveira Andrade, representante da Caoa. A Caoa Chery já não tem um par brasileiro ao lado do CEO na gestão. Depois da saída de Marcio Alfonso, em 2022, Durval Pinheiro Junior, seu sucessor, deixou a companhia em agosto. O quadro de funcionários, hoje, é formado por 70 empregados.


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Os dados da Jucesp também mostram que a empresa contratou crédito junto ao Banco do Brasil nos últimos anos. No fim de 2022, foram US$ 30 milhões por meio do Finimp, uma linha de financiamento à importação na qual o banco realiza o pagamento à vista ao exportador e recebe o valor de volta segundo condições negociadas.

Desde o fim de 2017, quando foi estabelecida no país a parceria com a Caoa, a Chery realizou 10 lançamentos no mercado nacional, quase todos produzidos na região. 

A empresa, pelo menos em termos produtivos, nunca conseguiu chegar próximo do patamar que havia prometido atingir na unidade paulista. Se a promessa era de serem feitas ali 150 mil unidades por ano, a partir de 2021, o total produzido na planta até hoje não chegou a 14 mil unidades.

Procurada pela reportagem, a Caoa Chery afirmou que negocia com os chineses acerca da produção de novos modelos em Jacareí e que, de fato, os investimento anunciados recentemente tem como alvo a fábrica em Anápolis. A empresa afirmou, ainda, que a meta de retomar a produção em 2025, em Jacareí, segue inalterada.

* texto atualizado em 14/09, às 11h50.