Após quedas em setembro, entidade revisa para baixo previsões para automóveis e ônibus, mas eleva expectativa para comerciais leves e caminhões
Após o fechamento de setembro com falta de carros a entregar nas concessionárias e queda nas vendas, a Fenabrave, que reúne os distribuidores autorizados de veículos, decidiu revisar para baixo sua expectativa geral de mercado para 2021, apresentando na segunda-feira, 4, a terceira projeção deste ano. A última revisão foi feita em julho e agora a entidade puxou significativamente para baixo as estimativas de vendas de automóveis e ônibus, mas aumentou bastante os prognósticos para as compras de comerciais leves e caminhões.
Somando os volumes de automóveis, comerciais leves, caminhões e ônibus, a Fenabrave considerava que seriam vendidos quase 2,3 milhões de veículos este ano e agora cortou sua estimativa para 2,16 milhões, o que reduz para menos da metade a expectativa de crescimento de 2021, que em julho era de 11,6% e agora baixou para 4,8% – ou seja, no ritmo atual não será possível recuperar nem um quarto da queda média de 26% do mercado em 2020, que fechou com pouco mais de 2 milhões de emplacamentos.
Para Alarico Assumpção Jr., presidente da Fenabrave, o setor enfrenta hoje “possivelmente o ponto mais crítico dessa crise de abastecimento de veículos” e só no começo de 2022 haverá maior clareza sobre quando será normalizado o fornecimento de semicondutores para que as fábricas retomem a produção em níveis suficientes para atender a demanda. Contudo, o dirigente admite que a escassez de componentes já comprometeu o resultado esperado para 2021, a projeção anterior não pode mais ser atingida.
“Estamos diante de muitas incertezas e da maior crise de abastecimento de veículos já vivida nos últimos anos. Isso nos fez reduzir as expectativas de crescimento para o ano, infelizmente”, admite Alarico Assumpção Jr.
Automóveis, o maior problema
O segmento que apresenta o maior problema de paralisações de fábricas por falta de semicondutores, e que por consequência está puxando o mercado e as previsões para baixo, é o de automóveis, que atualmente representa 73% das vendas de veículos no País e teve em setembro o pior mês do ano, com apenas 109.077 emplacamentos, resultado quase 9% inferior ao de agosto e expressivos 32% abaixo de setembro de 2020, quando o setor ainda começava a se recuperar da crise trazida pela primeira onda da pandemia de coronavírus no Brasil, mas já conseguia operar em níveis de vendas superiores aos de agora.
Com isso, a Fenabrave, que esperava pela venda de 1,78 milhão de automóveis em 2021, rebaixou sua expectativa em mais de 200 mil unidades, para 1,58 milhão, o que irá representar queda de 2,2% sobre 2020. De janeiro a setembro os emplacamentos de carros somaram 1,15 milhão de unidades, ainda em alta de 7,6% sobre o mesmo período do ano passado.
O subsegmento de veículos leves representado por modelos utilitários, ou comerciais leves, também enfrenta problemas e o desempenho mensal do foi negativo em setembro, com 33.777 emplacamentos, revelando queda de 14% ante agosto e retração de 11,7% sobre o mesmo mês de 2020. Mas na soma de nove meses a performance está bastante acima da média do mercado, com 313,3 mil picapes e vans vendidas, o que corresponde a uma aquecida alta de 40% na comparação com idêntico intervalo do ano passado.
Com esse crescimento ainda folgado sobre 2020, a Fenabrave reajustou para cima sua previsão de vendas de comerciais leves este ano, que era de 379,5 mil unidades e alta 13,2% em julho, e agora subiu para 430,5 mil veículos e crescimento expressivo de 28,4%.
“Com a falta de automóveis, muitos consumidores migraram para os comerciais leves, onde há uma maior disponibilidade de produtos na indústria”, analisa Assumpção Jr., referindo-se especialmente à demanda aumentada por picapes, que são capazes de atender tanto o uso comercial como o de transporte individual e de famílias.
Na soma dos dois segmentos de veículos leves, com os automóveis puxando o mercado para baixo com seu maior peso numérico, a Fenabrave projeta a venda de pouco mais de 2 milhões de unidades, o que representará tímida alta de apenas 3,1% sobre 2020. No acumulado de nove meses de 2021 foram vendidos 1,47 milhão de carros e utilitários, em crescimento de 13,2% na comparação com o mesmo período do ano passado.
Caminhões para cima, ônibus para baixo
No segmento de veículos pesados, a Fenabrave considerou que subavaliou o potencial de crescimento das vendas de caminhões este ano, cuja produção também enfrenta falta de componentes, mas como os volumes são menores o problema é contornado com menos dificuldades. Depois de três trimestres de aquecimento contínuo, a entidade aumentou pela segunda vez, em quase 13 pontos porcentuais, sua expectativa de crescimento, de 30,5% para 43,1 para setor, estimando o total de 127,6 mil emplacamentos em 2021, ou cerca de 11 mil caminhões a mais do que projetava em julho passado. No acumulado de nove meses, a expansão já é de quase 50%, com 93,7 mi, veículos vendidos.
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No mercado de ônibus o cenário é oposto, a avaliação da Fenabrave é de ter superestimado o poder de recuperação do segmento que mais sofreu os efeitos adversos da pandemia de coronavírus – e segue sendo afetado pala baixa demanda dos operadores que vêm acumulando prejuízos com a inflação do diesel e remuneração insuficiente para cobrir os custos. O potencial, que já era baixo, só piora.
Foram emplacados 13.660 ônibus de janeiro a setembro, em pequena alta de 4,2% sobre o mesmo período de 2020. Contudo, na visão da Fenabrave, esse desempenho deve cair ainda mais, para fechar o ano com 18.425 emplacamentos e crescimento irrelevante de 1,1% – até julho, a estimativa era de expansão bem maior, de 11,6%, ou 20.150 unidades.