Companhia desenvolve a solução com clientes e prepara terreno para as vendas
Nem carro de luxo, nem popular, nem Google Car. Se ninguém furar a fila, o primeiro veículo autônomos a ganhar presença comercial no Brasil será um caminhão da Volvo. Após concluir com sucesso a etapa mais desafiadora de um projeto piloto em Maringá (PR) ao lado da Usaçúcar (leia aqui), a companhia começa a preparar terreno para efetivamente converter a tecnologia em negócio. “Devemos lançar aqui em breve, em dois ou três anos”, antecipa Bernardo Fedalto, diretor de vendas de caminhões no Brasil.
Na prática, no entanto, o ritmo parece mais acelerado, como conta Wilson Lirmann, presidente do Grupo Volvo para a América Latina. “Estamos conversando com uma série de clientes que poderiam se beneficiar do uso destes modelos em suas operações e demonstram interesse. Ainda é algo preliminar, não há nada fechado”. Ele esclarece que a ideia não é colocar um modelo autônomos na prateleira pura e simplesmente. O plano é demonstrar a gama de tecnologias, mas adequar e desenvolver soluções para cada cliente, encaixar perfeitamente o caminhão na aplicação e buscar melhorias de produtividade. O executivo enumera oportunidades nos setores agrícola, de mineração e em outras operações logísticas realizadas em circuito fechado.
Enquanto a maior parte das montadoras tanto de leves quanto de pesados concentra o trabalho com modelos autoguiados nas matrizes, a Volvo usa o Brasil como uma de suas plataformas globais de desenvolvimento para a tecnologia. O projeto com a Usaçúcar demandou mais de um ano de trabalho de um time que reuniu 16 engenheiros da companhia no Brasil, três da Suécia e outros três do cliente. A apresentação dos resultados do projeto na quarta-feira, 31, trouxe ao Brasil executivos e jornalistas globais, um sinal claro de que o trabalho local se encaixa e contribui para a estratégia tecnológica da matriz.
“Toda vez que trabalhamos em uma nova tecnologia, temos que imaginar como será o mundo quando ela chegar ao mercado. No caso dos autônomos não vamos esperar. Fazer o desenvolvimento em parceria com os clientes, construir e ir refinando ao longo do caminho nos dá velocidade”, diz Sasko Cuklevs, diretor mundial de novos negócios e soluções aos consumidores. Assim, no lugar de esperar pelas condições perfeitas com estradas boas, regulamentação e interesse dos clientes, a companhia trabalha em ritmo próprio.
A empresa começa a levar os autônomos para a vida real com operações em circuito fechado, como o canavial brasileiro ou a mina na Suécia, onde a Volvo já tem veículos em circulação (leia aqui). Assim, fica mais fácil reduzir os riscos e, claro, aguardar o avanço da legislação para as vias públicas.
NOVIDADE PARA A FENATRAN
O próximo movimento importante da Volvo para entregar autonomia aos clientes brasileiros acontece ainda em 2017 durante a Fenatran, feira de transportes marcada para outubro, em São Paulo. A companhia vai aproveitar a oportunidade para lançar o Tracking Assistance, sistema de assistência à direção que não isenta o motorista de dirigir, mas entrega a plataforma usada hoje pela Volvo em seus veículos autônomos que estão em teste. Com GPS, mapas e sensores, o condutor acompanha em uma tela no interior do caminhão a localização do veículo com precisão de centímetros e pode programar rotas e operações específicas. Daí é só seguir o roteiro, com margem bem menor para erros e otimização do consumo do combustível.
O recurso pode equipar caminhões novos da linha de semipesados e pesados VM ou atualizar usados que já estão em circulação no mercado. A fabricante não abre previsão de preço, apenas adianta que o lançamento terá um papel cultural ao contribuir para que os transportadores brasileiros comecem a entender e a se interessar por soluções autônomas. “Lá atrás, em 2003, parecia uma loucura oferecer a caixa automatizada I-Shift para caminhões. Hoje as empresas entenderam as vantagens e quase não vendemos veículos sem a tecnologia”, compara Fedalto.
Ele acrescenta que a produção das soluções autônomas, ainda que não sejam feitas em série de forma massificada, precisa amadurecer localmente, com o desenvolvimento de fornecedores e ajuste de custos. “Por enquanto, como estamos em testes e em desenvolvimento é aceitável um investimento maior nestes componentes, algo que precisa mudar no futuro, quando a novidade chegar ao mercado definitivamente.”