Pedidos por novos modelos voltaram a aparecer no segundo trimestre na esteira das políticas econômicas do governo
Era fevereiro quando a Volvo, em seu primeiro evento para imprensa do ano, apresentou uma projeção contundente e preocupante acerca do mercado de caminhões para 2023: queda de mais de 20% nas vendas baseada em cenário de crédito caro e de incerteza política após as eleições presidenciais.
O palpite pouco usual entre as montadoras, que costumam defender posições otimistas diante dos momentos de crise, se mostrou certeiro em setembro, se observarmos a expectativa da Fenabrave para o segmento, revisada na segunda-feira, 3. Contudo, a mesma Volvo, nove meses depois, reaparece no mercado com um novo prognóstico, desta vez mais animador.
“O frotista voltou a comprar”, disse Carlos Ribeiro, presidente do Volvo Financial Services (VFS), o braço financeiro da montadora, cujos indicadores de desempenho comercial, divulgados na quarta-feira, 5, servem de termômetro para os licenciamentos de veículos pesados no país.
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Commodities como milho e soja, dois dos principais produtos transportados por caminhões pesados no país, estão com o preço em alta no mercado externo, o que indica que pelo menos a demanda não exerceu pressão nos frotistas a ponto de fazer com que dessem um passo atrás em negócios envolvendo renovação de frota.
Por outro lado, a elevação do preço do diesel e a queda do frete rodoviário influenciam no custo operacional dos transportadores, de forma que caminhões mais novos — sobretudo aqueles equipados com motor Euro 6, que já trazem um powertrain mais eficiente em termos de consusmo –, se mostram como uma oportunidade de enxugar despesas.
Se há demanda e uma oportunidade de enxugar gastos na operação de transporte, por que então frotistas passaram alguns meses do ano reticentes a respeito de investimentos em caminhões novos?
“Existem algumas razões. Houve um movimento de pré-compra no final do ano passado, com as empresas comprando caminhões Euro 5, mais baratos, antes da vigência da norma Euro 6. Outra coisa: os clientes queriam ver os rumos que o país tomaria após a eleição de Lula, em termos de política econômica”, contou Ribeiro, da VFS.
Segundo o executivo, o telefone voltou a tocar a partir do segundo trimestre, à medida que ganhou proporção em diversos setores o discurso em defesa de uma taxa básica de juros mais baixa, além da possibilidade de reforma tributária por meio da PEC 45. “Diria que esses dois fatores combinados fizeram com que os investimentos em frota fossem retomados.”
Banco da Volvo ficou mais atrativo
Os juros mais baixos do que o atual patamar, 12,75% ao ano, são vistos como facilitadores de novos negócios, ainda mais dentro do setor de caminhões, que depende muito de crédito e financiamento para existir. No entanto, o quadro de alguma forma ajudou a Volvo, via área de serviços financeiros, a aumentar a sua participação nos financiamentos dos veículos que produz em Curitiba (PR).
O presidente do VFS explicou que a empresa conseguiu trabalhar para que o financiamento pelo banco da montadora fosse mais atrativo do que os produtos de outras instituições financeiras do mercado.
Se, por um lado, a fabricante tem mais flexibilidade em termos de parcelas, tempo de pagamento e, pincipalmente em risco (spread), os chamados bancos de varejo foram perdendo espaço entre os financiamentos envolvendo caminhões novos Volvo.
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Afora a questão dos juros, há também as encrencas do escândalo Americanas: como seus principais credores são os bancos, não restou outra alternativa a eles senão restringir ainda mais o crédito no mercado com o risco real de calote por parte da varejista, que tenta se recuperar judicialmente.
Dessa forma, a organização afirma que o cliente que se lançou no mercado em busca de novos caminhões encontrou no braço financeiro da Volvo uma espécie de porto seguro, e isso, claro, refletiu no balanço da financeiro da companhia: em 2021 a empresa tinha em carteira R$ 10 bilhões em financiamentos, já em 2023, ano em que completa 30 anos de operações no Brasil, o valor chegou a R$ 22 bilhões.
Volvo Financial financiou 48% das vendas de caminhões
Quase metade das vendas realizadas pela companhia no acumulado do ano (48%) envolveram financiamento do VFS. A meta para o ano, segundo Ribeiro, era a de chegar em dezembro com 40%. Vale ressaltar que o banco da montadora também financia veículos fora de estrada e ônibus.
O executivo disse que os financiamentos representam 60% do faturamento da Volvo Financial Services. A outra fatia é divida em consórcios (30%) locação de veículos e seguros. Do total financiado pela empresa até setembro, 55% foi via CDC (Crédito Direto ao Consumidor) e 45% foi via Finame, do BNDES.
A respeito de como será o mercado em 2024, o presidente do VFS foi cauteloso. “Pode ser que as coisas melhorem. Tem uma expectativa grande de PIB crescente, tem as obras do PAC também. Não podemos divulgar guidance, mas se esperávamos um cenário ruim, que depois se reverteu, por que não esperar por algo melhor no ano que vem?”, finalizou.