No apagão de São Paulo, carro elétrico virou power bank

Diante da falta energia, consumidores descobriram usos menos usuais para modelos com a tecnologia

Giovanna Riato

Giovanna Riato

Diante da falta energia, consumidores descobriram usos menos usuais para modelos com a tecnologia

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Além de muito prejuízo e uma série de problemas à população, a falta de energia que acometeu São Paulo nos últimos dias colocou à prova os carros elétricos que tanto ganharam espaço nos últimos tempos. Afinal, o que acontece com veículos com a tecnologia em um apagão? Há quem garanta que, em uma série de casos, eles viraram um grande (e útil) power bank.


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É o que assegura Ricardo Bastos, presidente da ABVE – Associação Brasileira do Veículo Elétrico. “No meio dessa crise, descobrimos oportunidades para que carros elétricos e híbridos devolvessem energia para o cliente”, diz. Segundo ele, nos casos mais simples, modelos com a tecnologia foram úteis para manter a bateria dos celulares carregados sem consumo de combustível, por exemplo. 

Há situações em que a energia armazenada na bateria de carros elétricos ou híbridos plug-in fizeram diferença ainda maior. Ele cita que, com um cabo de descarga V2L (Vehicle-to-Load), teve quem conseguiu manter eletrodomésticos e aparelhos hospitalares ligados em casa ou, até mesmo, toda a residência abastecida de energia.

Carro elétrico fornece energia durante apagão

Quem teve uma grata surpresa com o carro elétrico durante o apagão em São Paulo foi o motorista de aplicativo Henrique Guimarães do Nascimento. Há quatro meses, ele comprou um BYD Dolphin para trabalhar. Na época, aproveitou o ensejo da transição energética e instalou placas solares em casa.

“A energia que geramos abastece a rede e é abatida da conta de luz. Por isso, depois do temporal da sexta-feira, quando a rede caiu, também ficamos sem luz”, conta. Foi aí que ele lembrou que o automóvel poderia servir como uma grande bateria e conectou o cabo V2L. “Ficamos três dias sem energia na região e a minha casa era a única com luz na vizinhança. Todo mundo estranhava.”


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Segundo ele, quando o carro estava perto de descarregar, ele ia até um ponto de recarga pública em algum bairro onde o fornecimento não havia caído, enchia a bateria e voltava para casa. “Gastei R$ 70 ao todo e mantive tudo funcionando em casa. Só não usávamos chuveiro elétrico, micro-ondas e fritadeira”, conta.

Carro elétrico compensou o investimento

O carro como salvação no meio do blecaute foi a cereja do bolo para Henrique, que já estava conquistado pela propulsão elétrica. Ele investiu cerca de R$ 15 mil para instalar as placas solares em casa e, com isso, diz garantir que sua conta de luz não passe de R$ 140 reais mensais mesmo com a recarga do automóvel.

“Antes, gastava R$ 3 mil reais com combustível todo mês”, lembra, sem saudade. Ele calcula que, já no quinto mês de uso do Dolphin, ele deve recuperar o investimento na infraestrutura doméstica.

Depois de salvar Henrique do perrengue energético, o carro voltou ao uso diário no aplicativo de transporte. Enquanto isso, 100 mil imóveis seguem sem luz em São Paulo seis dias após o temporal, segundo a própria Enel. Nessa proporção, não há veículo elétrico capaz de salvar.