MP dos descontos para pesados deve terminar sem usar nem 1/3 dos recursos

Programa de renovação de frota, que termina em outubro, usou pouco mais de R$ 100 milhões, do total de R$ 1 bi

Ana Paula Machado

Ana Paula Machado

Programa de renovação de frota, que termina em outubro, usou pouco mais de R$ 100 milhões, do total de R$ 1 bi

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O projeto de renovação de frota de veículos pesados deve mesmo chegar ao fim em outubro sem usar nem 1/3 dos recursos previstos. Em julho, o governo editou a Medida Provisória (MP) 1175, que concede descontos para compra de caminhões e ônibus.

Como a MP não foi votada, ela deve acabar mesmo no dia 5 de outubro. Sem ser renovada e sem alcançar o principal objetivo, o de aquecer o mercado de pesados. 

O governo destinou R$ 1 bilhão em créditos, sendo R$ 700 milhões para as negociações envolvendo caminhões e R$ 300 milhões na compra de ônibus. Cada montadora poderia “reservar” um montante desses recursos para a venda dentro da nova regra. 

De acordo com a regra, a empresa deveria encaminhar caminhões com mais de 20 anos de idade à reciclagem, antes da nova compra ser efetivada. Os descontos nos preços dos caminhões variaram de R$ 33,6 mil a R$ 80,3 mil. 

Pouco mais de R$ 100 milhões foram usados

O diretor executivo de caminhões da Volvo, Alcides Cavalcanti, disse que do valor reservado para os descontos, somente R$ 100 milhões foram usados pelas montadoras. Segundo ele, a complexidade do projeto foi “enorme”, o que dificultou as vendas com desconto. 

“Foram usados pouco mais de R$ 100 milhões. Na Volvo, por exemplo, devemos ter vendido cerca de 50 caminhões. Por isso, acreditamos que a MP não deve ser renovada e acabar no dia 5 de outubro”, afirmou o executivo durante o #ABX23. 


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Havia a expectativa de que o projeto fosse prolongado até se gastar todo o montante reservado para as vendas de caminhões e ônibus.

No mês passado, durante o evento de entrega dos caminhões antigos em uma usina da Gerdau, em Araçariguama, no interior de São Paulo, o vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, Geraldo Alckmin, havia dito que esse programa seria estendido até se chegar ao valor total dos descontos tributários, de R$ 1 bilhão. 

Complexidade do programa foi o grande entrave

Para Ricardo Alouche, vice-presidente de vendas da Volkswagen Caminhões e Ônibus (VWCO), este projeto deveria durar por pelo menos um ano, pela sua complexidade. “O pontapé inicial foi dado. O governo agora sabe como fazer um programa de renovação de frota, mas todo o ecossistema precisa ser melhor estruturado, para não ocorrer atrasos no processo”, disse Alouche durante o #ABX23. 

Segundo ele, um dos entraves para o programa não ter tido o sucesso esperado foi a falta de celeridade dos Detrans. “A burocracia é grande na hora de dar baixa em um veículo. Eles não estavam preparados. E isso atrasava a certificação e, consequentemente, a concessão dos descontos.”

Renovação de frota é um anseio da sociedade

Roberto Leoncini, vice-presidente de vendas da Mercedes-Benz, a renovação de frota não é somente o desejo da montadora para vender mais caminhões, é um anseio da sociedade. E não somente na questão ambiental. Segundo o executivo, o ganho de eficiência logística deve ser considerado na hora de elaborar programas como este. 

“O governo aprendeu e, ao longo desses três meses, o programa foi se ajustando e eles escutavam as nossas demandas. Mas precisa ser um programa de longo prazo para ser realmente eficiente”, afirmou Leoncini, durante o #ABX23. 

O trabalho dos fabricantes agora é para que um projeto mais eficiente de renovação de frota esteja no novo programa automotivo, o Mobilidade Verde & Inovação. Luis Gambim, diretor comercial da DAF Brasil, acrescentou, durante o #ABX23, que o governo debate com as companhias para ter regras para a iniciativa. 

“Esse programa de renovação de frota foi importante, pois, o governo agora já tem um norte para um projeto mais completo. E eles absorveram as mensagens que foram passadas.”

Falta de crédito também foi entrave

Durante o evento Renault E-Tech Days, em São Paulo (SP), na penúltima semana de setembro, o secretário de desenvolvimento industrial do MDIC, Uallace Moreira Lima, afirmou que o vice-presidente tem tentado dialogar com o Congresso para tentar renovar a MP. Para ele, a medida tem peculiaridades que demandam um tempo maior.

“Quatro meses não é o suficiente para esgotar o volume de recursos”, afirmou Uallace.

Segundo o secretário do MDIC, o público-alvo desta renovação de frota demorou um tempo para entender a dinâmica dos descontos e como funciona o programa, que inclui a entrega de um veículo com mais de 20 anos de uso.

Além disso, a restrição de crédito é vista como outro empecilho para a MP dos descontos de pesados deslanchar.

“A taxa de juros que temos hoje inviabiliza um programa desta natureza. Enquanto não tivermos taxas de juros mais racionais dificilmente um programa desta natureza vai se desenvolver com maior rapidez”.