Montadoras ainda apostam no crédito para mudar cenário das vendas de veículos

Fabricantes acreditam que licenciamentos feitos por clientes pessoa física poderão ser melhores no segundo semestre

Bruno de Oliveira

Bruno de Oliveira

Fabricantes acreditam que licenciamentos feitos por clientes pessoa física poderão ser melhores no segundo semestre

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As vendas de veículos cresceram no mercado doméstico no primeiro bimestre do ano na esteira de eventos pontuais que mexem na demanda, como envelhecimento da frota das locadoras, no caso dos modelos leves, e programas federais como o Caminho da Escola, ligado aos pesados.

De acordo com a Anfavea, a associação que representa as montadoras no país, ambos os fatos levaram o setor a registrar alta de 20% sobre os licenciamentos observados no janeiro-fevereiro do ano passado.


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O indicador positivo, no entanto, atenua cenários que, no fundo, preocupam o setor porque tocam diretamente em um dilema que paira na indústria há algum tempo: o que poderá dar um choque no mercado a ponto de elevar as vendas de forma mais perene?

As vendas aos frotistas, que representam quase a metade do total licenciado no país (46%), devem continuar sendo um importante pilar de sustentação nos licenciamentos, uma vez que as locadoras seguem com apetite para renovação de suas frotas.

E isso acontece porque o modelo de negócio que praticam impõe esta realidade – uma frota atualizada não demanda custos altos de armazenamento e de manutenção, e o giro rápido dessa frota alimenta o serviço que lhes proporciona maior faturamento, que é a venda do automóvel seminovo.

Com esse pano de fundo, é pequena a chance que esse cliente frotista tem para aumentar ainda mais as vendas de veículos no país. No caso, para além do que já vemos hoje expresso em balanços do setor.

Crédito barato pode alavancar vendas de veículos no varejo

No varejo, por outro lado, as possibilidades nesse sentido podem ser maiores. Mas é justamente neste terreno, neste segmento de cliente, que existem as travas ao crescimento das vendas de veículos no país.

De acordo com Márcio de Lima Leite, presidente da Anfavea, do total licenciado no país para pessoas físicas, 70% é feito com pagamentos à vista, com os 30% restantes das vendas sendo realizadas por meio de financiamento.

A proporção mostra por si só que, hoje, as vendas de veículos zero estão restritas a uma fatia de clientes que não representa a maior do mercado doméstico, que é a do consumidor médio brasileiro que adquire bens pagando parcelas mensais.

Acessar essa importante base, a da classe média, tem sido o maior desafio das montadoras no mundo, e não seria diferente aqui também. Vender carros com preços que cabem no bolso desse consumidor tem se mostrado como uma árdua tarefa.

“Apesar da queda do desemprego, o rendimento médio em termos reais do empregado está nos níveis de 2019. Mas os preços dos veículos estão em termos reais acima desses patamares”, disse o consultor David Wong, da Alvarez & Marsal.

“No caso das montadoras, as vendas dos carros maiores são mais rentáveis, apesar do volume. Veículos de preços acessíveis, embora sejam menos rentáveis, conseguem escoamento porque o crédito financeiro está disponível para pessoas jurídicas, pois oferecem menor risco aos bancos e financeiras. Nas vendas a varejo já é o contrário”, completou.

Consumidor fica na expectativa

Para o consultor, as vendas para pessoa física só vão subir de patamar quando houver mudanças no preço dos veículos e/ou nos instrumentos de financiamento disponíveis.

Um ponto de vista que é defendido também pelas montadoras, que há meses comentam que o crédito é fundamental para alavancar as vendas no país de forma contínua e sustentável.

“Esse crescimento [das vendas no bimestre] não é extraordinário, mas é natural porque sempre falamos sobre uma demanda reprimida de pessoas que estavam fora da capacidade de aquisição, e voltaram depois da queda da Selic”, disse na quinta-feira, 7, o presidente da Anfavea.

“Começamos o ano passado com um custo de financiamento de cerca de 30% ao ano. Após a redução da Selic, caiu para 24%, e isso tem ajudado. Mas o consumidor ainda fica na expectativa de uma queda maior dos juros, não resultando, portanto, em novos financiamentos”, completou.

Após reunião com a Febraban, que é a federação que representa os bancos, a Anfavea acredita que o cenário de juros será melhor no segundo semestre, e que, com crédito mais acessível, as vendas de veículos zero irão crescer no período.