Van roda até 289 km e dá passo importante para o futuro, mas preço ainda intimida
O segmento de vans foi um dos que mais cresceu desde o início da pandemia do coronavírus. A ascensão das empresas de comércio eletrônico aqueceu o segmento e logo várias empresas aproveitaram a necessidade de reforçar suas frotas para trabalhar sua imagem de responsabilidade social.
Logo era de se esperar que a demanda por veículos zero combustão cresceria. Quem se aproveitou disso foi a Stellantis, que oferece três variações de furgão elétrico: Peugeot E-Expert, Fiat E-Scudo e Citroën Ë-Jumpy.
Automotive Business passou uma semana com o furgão elétrico da Citroën para descobrir como é dirigir um veículo utilitário sem emitir poluentes. A experiência é bastante inusitada e, veja só, até divertida.
Estranho silêncio no furgão elétrico
Bastam poucos segundos dentro do Citroën Ë-Jumpy para notar algo diferente. A ausência de ruído do motor torna a experiência a bordo bastante agradável e incomum.
O motor elétrico é exatamente o mesmo do e-208 GT, a opção elétrica do 208 que vem lá da França. São 136 cv e 26,4 kgfm de torque instantâneo. Ou seja, mais potência e menos torque do que o Jumpy 1.5 turbodiesel, que entrega 120 cv e 30,6 kgfm de torque máximo.
Embora tenha mais torque, a entrega no Jumpy a combustão só acontece a partir dos 1.750 rpm, ao passo que na versão elétrica todos os 26,5 kgfm estão disponíveis assim que o motorista pisa no acelerador. Sendo assim, quem procura desempenho encontra no Ë-Jumpy a melhor opção.
Dimensões da Citroën Ë-Jumpy ajudam
Lembre apenas que a autonomia declarada de até 330 km na cidade (ou 289 km, de acordo com o novo padrão estabelecido pelo Inmetro no Brasil) pode despencar se você pisar com vontade no acelerador. No percurso rodoviário, o furgão elétrico pode rodar até 237 km com uma única carga, segundo a Citroën.
A boa notícia é que a carga das baterias pode ir de 0 a 80% em apenas 35 minutos em uma estação de 100 kW. Ao volante, o motorista escolhe entre três modos de condução: Eco, Normal e Power. Como você imagina, o último deles prioriza o desempenho, enquanto o primeiro limita o desempenho e o funcionamento do ar-condicionado na tentativa de poupar a carga das baterias.
Independentemente da sua necessidade, no modo Power o Ë-Jumpy precisa de 11,9 segundos para acelerar de 0 a 100 km/h e não passa dos 130 km/h. Mas isso pouco importa em um veículo feito para o trabalho pesado. Aqui, o importante é o quanto de carga o furgão pode levar.
Na área volumétrica de 6,1 m3 dá para acomodar até 1.002 kg. O acesso ao compartimento pode ser feito por meio das portas traseiras, que podem ter o ângulo de abertura ampliado apenas desencaixando um dos suportes das dobradiças. Existe, ainda, a porta corrediça lateral do lado direito, que torna o embarque e desembarque bastante prático.
Só lembre que vagas pequenas dificilmente comportam o furgão de 5,30 metros de comprimento. Pelo menos o Ë-Jumpy tem 1,93 metro de altura, o que permite ao furgão entrar na maioria das garagens subterrâneas sem sustos, algo que nem todas as vans conseguem realizar.
Essa característica faz toda a diferença nas entregas e retiradas de mercadorias, uma vez que não é preciso estacionar ao ar livre para realizar o serviço.
Além disso, o motorista não passa aperto nas manobras, já que a ampla área envidraçada e o bom campo de visão dos espelhos retrovisores laterais dão conta do recado. E ainda existe a bem-vinda câmera de ré para realizar manobras de estacionamento.
Conforto e conteúdo de automóvel
Mesmo sem a obrigação de entregar conforto de um automóvel de passeio, o Citroën Ë-Jumpy agrada pela dirigibilidade. A direção eletro-hidráulica é bastante leve e os bancos são confortáveis para quem precisa passar várias horas seguidas sentado.
A transmissão automática (que nem poderia ser chamada assim, já que só possui uma marcha) representa um ganho substancial de conforto ao dispensar o pedal de embreagem. Porém, nada me chamou mais atenção na cabine que o ótimo isolamento acústico: como em um bom automóvel de passeio, praticamente não se ouve o que acontece do lado de fora.
E o que vem no furgão elétrico? A Citroën foi generosa na lista de equipamentos do Ë-Jumpy, que inclui itens como piloto automático, controles de estabilidade e de tração, central multimídia com tela tátil de sete polegadas e suporte a Android Auto e Apple CarPlay (ainda com uso de fios), ar-condicionado, vidros elétricos, acendimento automático dos faróis e travamento central das portas.
Preço é salgado, mas compensa
Porém, tudo tem o seu preço, e no caso do Ë-Jumpy ele é bem alto. Por R$ 334.990, ele custa nada menos do que R$ 143.750 a mais do que o Jumpy movido a combustão. Só que antes de você escrever seu comentário maldoso, é importante pensar em um dos fatores mais importantes de decisão de compra de um veículo para o trabalho: o custo de manutenção.
Em que pese o valor mais elevado, o Ë-Jumpy se torna atraente na hora de manter. Os valores das revisões do furgão elétrico são muito inferiores aos pedidos na versão movida a diesel.
A primeira manutenção sai por R$ 624, mesmo valor cobrado por cada uma das duas revisões consequentes. No plano das seis primeiras revisões, o proprietário não vai pagar mais do que R$ 1.402 – aqui, pela quarta parada para manutenção. Nesta mesma revisão, o dono de um Jumpy 1.5 precisa desembolsar R$ 2.238 – uma diferença de R$ 836, mais do que suficiente para pagar qualquer uma das outras revisões do furgão elétrico.
Rapidamente você se lembrará de outro benefício de comprar o Ë-Jumpy. Afinal de contas, não há necessidade de abastecer o furgão com diesel, cujo valor médio do litro está em R$ 6,43 no fim de janeiro de 2023. Em vez disso, o proprietário vai gastar com eletricidade, mas as despesas podem ser menores neste caso.
Desenhado para atender ao trabalhador que precisa transportar carga, o furgão elétrico cumpre bem o seu papel. Ele é espaçoso (por dentro e por fora), versátil, fácil de dirigir e relativamente ágil para suas dimensões.
O único (e principal) empecilho é justamente o preço, fazendo com que o Ë-Jumpy ainda atinja um público bastante restrito, composto em sua maioria por grandes empresas que querem se mostrar preocupadas com a agenda ESG.
Apesar disso, como você notou na nossa avaliação, quem pode fazer um investimento extra terá motivos de sobra para aumentar sua frota com mais carros elétricos no futuro. Até porque esse é o futuro. Falta só ele custar menos.