Jeep deixa de fazer carros na China por pressões políticas

CEO da Stellantis diz que incentivos às empresas locais geram cenário ruim para marcas ocidentais

Vitor Matsubara

Vitor Matsubara

CEO da Stellantis diz que incentivos às empresas locais geram cenário ruim para marcas ocidentais

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A Stellantis encerrou as atividades na única fábrica da Jeep na China. Segundo informações da agência de notícias Bloomberg, a decisão se deu pela crescente pressão política sobre a empresa.

De acordo com Carlos Tavares, CEO da Stellantis, a meta é implementar uma nova estratégia chamada “asset light”, na qual uma empresa mantém a menor quantidade possível de bens e ativos necessários para prosseguir com suas operações.

“Estamos observando o comportamento do mercado chinês nos últimos anos e existe uma interferência política cada vez maior nos negócios do país. Não queremos ser vítimas de sanções cruzadas, como já ocorreu com outras empresas em outras partes do mundo recentemente”, disse o executivo.

Jeep está na China há 12 anos

As declarações de Tavares justificam o fim de uma parceria de 12 anos com a Guangzhou Automobile Group, que era responsável pela fabricação dos modelos da Jeep no país asiático. O movimento da empresa se deu diante das dificuldades enfrentadas por outras marcas de renome, que estão sofrendo para manter uma boa participação de mercado na China.

Várias fabricantes estão preocupadas com a guerra na Ucrânia e se a enorme lista de sanções aplicadas contra a Rússia podem se repetir na China caso o país ataque Taiwan.

Ao mesmo tempo, as gigantes da indústria automotiva, como Volkswagen AG, General Motors e a própria Stellantis enfrentam desafios no mercado chinês devido à concorrência de marcas locais, como BYD e Geely.

Situação ruim para os ocidentais

Tavares lembrou que as marcas alemãs e norte-americanas tiveram queda de 20% nas vendas na China no primeiro semestre do ano. No mesmo período, as fabricantes “da casa” tiveram alta nos resultados.

“No caso das empresas ocidentais, vender carros na China está cada vez mais difícil. Estamos passando por uma transformação muito grande no mercado chinês. Hoje existem dois grandes competidores, Volkswagen e GM, com presença significativa na China. Eu não gostaria de estar no lugar de um deles”, afirmou.

Embora estivesse ciente dos resultados ruins obtidos pela joint-venture formada entre Jeep e GAC, Tavares assegurou que o motivo para deixar o mercado chinês foi outro – e muito mais complexo. O português alega que a decisão foi guiada por uma “quebra de confiança” com seu parceiro local, além da política adotada pelo Partido Comunista da China em apoiar as fabricantes locais. 

Embora tenha assinado um acordo para ampliar sua participação na joint venture com a GAC para 75%, a empresa chinesa “não fez o que deveria ter feito”, segundo Tavares. “Então consideramos que era melhor desistir”, declarou.

A parceria era responsável pela produção dos modelos Cherokee, Renegade, Compass e Grand Commander para abastecer essencialmente o mercado chinês. Com o fim do acordo, a Stellantis deve importar as versões eletrificadas de seus principais modelos para atender a China.