Discurso de Santiago Chamorro vai contra o apregoado pelas demais montadoras instaladas no país, que pedem fim da isenção para tais veículos
É impossível negar que o speech sobre transição energética da General Motors não esteja muito bem alinhado globalmente. Fosse uma escola de samba, receberia nota 10 no quesito harmonia. Não à toa, o presidente da GM América do Sul, Santiago Chamorro, afirmou que a empresa é, ao menos por ora, contra o fim da alíquota zero para a importação de carros elétricos.
“Fechar as fronteiras para os veículos no país é fechar as fronteiras para que o consumidor possa experimentar esse tipo de tecnologia e também aos benefícios para o meio ambiente”, disse Chamorro. “Esse mercado avança porque há incentivos. Não é bom retirá-los”, complementou o executivo. A declaração foi dada em coletiva realizada nesta sexta, 10, durante lançamento da nova Chevrolet Montana para concessionários.
Tal discurso vai contra ao que é defendido pela Anfavea, associação que representa as montadoras instaladas no país. As fabricantes pretendem apresentar ao governo federal proposta que altera o modelo atual de isenção de imposto para os carros elétricos importados.
Além de importação, GM que ir direto para o elétrico
O posicionamento da GM, contudo, não pode ser tomado como um mero ato de rebeldia. A empresa é a única entre as instaladas no país que defende um transição direta dos veículos a combustão para os elétricos. Suas concorrentes Stellantis, Toyota e Volkswagen devem caminhar pela trilha dos híbridos flex. Tecnologia esta que não chega a ser esnobada por Chamorro.
“Todas as tecnologias têm espaço no mercado, mas devemos reconhecer que existem diferenças entre elas. O veículo elétrico, categoricamente, é melhor que o híbrido para o meio ambiente”, salientou o presidente da GM América do Sul.
Vale ressaltar que estudo recente, divulgado por uma universidade austríaca, apontou que os híbridos plug-in (PHEV), por exemplo, poluem mais do que o apontado por dados oficiais.
Além do discurso alinhado com a matriz, focado na agenda ESG, há também motivo estratégico para que a GM defenda, por enquanto, a manutenção da alíquota zero de importação. A companhia vai ampliar seu portfólio de elétricos no país, e trará em breve Bolt EUV, Blazer EV e Equinox EV.
Importante destacar que a Chevrolet já comercializa por aqui o Bolt hatchback – modelo que chegou com atraso de pouco mais de um ano e hoje é vendido a partir de R$ 329 mil.
Produção de carros elétricos da GM no Brasil
O presidente da GM América do Sul garante, porém, que a companhia irá produzir veículos elétricos no Brasil. Chamorro crê no potencial do país que, segundo ele, é rica fonte de metais utilizados na produção de baterias. O executivo, no entanto, admite que levará algum tempo para a industrialização de elétricos em território nacional.
“Acreditamos que, com boas políticas governamentais, podemos avançar neste sentido. Precisamos de uma política de industrialização de veículos elétricos, o que ainda não existe. Há um draft, um rascunho, por meio do capítulo 4 do Rota 2030, mas tem que se estabelecer um horizonte para a produção [nacional]”, enfatizou.
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Além disso, Chamorro avalia, com base em pesquisas com clientes, que em dado momento a demanda por carros elétricos será suficiente para viabilizar a produção destes veículos no Brasil. No entanto, o presidente da GM não chegou a precisar quando a montadora pretende encetar tal processo de industrialização.
“O cliente, quando falamos com ele, responde, ao ser perguntado se prefere optar pela tecnologia do futuro ou a de transição, ele fala que quer o elétrico”, comentou o executivo. Ele admitiu, porém, que atualmente existe uma diferença expressiva de valores entre um modelo a combustão e um carro puramente elétrico.
Justamente por isso, Chamorro crê numa transição energética gradativa por aqui. O executivo disse que a GM contempla dentro de sua estratégia a coexistência entre carros elétricos e a combustão sendo produzidos no Brasil. A empresa aponta também que sua proposta é a de incorporar novas tecnologias sem abdicar logo de cara do legado existente.
Por fim, a GM admite que ainda é difícil para o Brasil garantir os mesmos incentivos para a compra de um carro elétrico que os países da Europa e os Estados Unidos. No entanto, a companhia norte-americana considera que o governo federal é capaz de desenhar alguns tipos de benefícios e estímulos para que o consumidor troque seu antigo modelo a combustão por um veículo “tecnológico e amigável ao meio ambiente” como o puramente elétrico.