Chuvas no RS e greve derrubam produção de veículos no país

Problemas que afetaram a estrutura produtiva do país tiraram das linhas 28 mil unidades

Bruno de Oliveira

Bruno de Oliveira

Problemas que afetaram a estrutura produtiva do país tiraram das linhas 28 mil unidades

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Se maio foi amarelo na área da segurança viária, na indústria automotiva o mês foi vermelho: as chuvas que assolaram o Rio Grande do Sul, a consequente paralisação de algumas fábricas e a greve na Renault derrubaram os números de produção no período.

Pelas contas da Anfavea, a associação que representa as fabricantes com produção local, todos esses fatores em conjunto tiraram das linhas de montagem 28 mil unidades.


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Cerca de 15 mil unidades desse total deixaram de ser produzidas pela Renault, por causa da greve de 29 dias. O volume restante, por causa do imbróglio logístico causado pela crise ambiental no sul do país, que deixou as montadoras sem peças.

O quadro, portanto, resultou em uma produção total de 167 mil unidades em maio, 25% a menos do que em abril e 27% a menos do que em maio do ano passado. No acumulado do ano, o volume de produção caiu 2%, somando 967 mil unidades.

O presidente da Anfavea, Marcio de Lima Leite, disse na sexta-feira, 7, que as montadoras já projetavam vendas de veículos zero KM menores em maio, cerca de 14 mil unidades a menos na comparação com o resultado de maio do ano passado, com reflexos na produção. O histórico, segundo a entidade, é de que as vendas no mercado interno geralmente caem no mês.

Mas ainda que as fabricantes busquem formas de suavizar o desempenho negativo do mês nas fábricas com dados ligados à demanda, o fato é que os acontecimentos do mês mostraram que a cadeia automotiva local opera em um sistema frágil em diversos aspectos.

O comportamento da indústria em maio mostrou, por exemplo, que não há margens ou condições para a criação de um plano B para superar intempéries que surgem ao sabor do acaso.

Ao contrário do que foi dito pelas empresas do setor à época da pandemia, de que o período serviu de aprendizado em termos de alternativas de fontes de suprimentos, não foi visto em maio, na prática, que algo mudou nesse sentido.


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O corte das vias de escoamento do RS, que é um importante polo produtor de autopeças, acabou no final das contas paralisando a produção de algumas fabricantes de veículos. Como foi o caso da Volkswagen, que chegou a recorrer à fornecedores externos e, ainda assim, teve de interromper parte de suas linhas.

Maio mostrou também que as exportações de veículos, em queda livre, seguem sem oferecer volumes que possam ocupar mais a produção das montadoras no sentido de compensar eventuais perdas no mercado interno. Mas isso é algo que já se tornou sistêmico, dependendo de esforços do governo na costura de acordos bilaterais. 

Mas nem só de más notícias viveu o setor automotivo em maio. O quadro de funcionários verificado no mês chegou a 103,3 mil trabalhadores. A última vez que a indústria contou com uma força de trabalho deste tamanho foi em julho de 2022.

As vagas surgem na esteira dos investimentos recentes feitos pelas montadoras em capacidade e produção de novos modelos. E é possível que nos próximos meses o quadro aumente ainda mais, com a aplicação dos recursos aportados penas empresas após a criação do Programa Mobilidade Verde, o Mover.