Ritmo de produção da unidade da Jaguar Land Rover, que varia de 8 a 36 veículos/dia, é reflexo das demandas do mercado premium local
A fábrica da Jaguar Land Rover (JLR), instalada em Itatiaia (RJ), vai completar oito anos em junho em meio à expectativa de que sua linha de montagem, que hoje produz dois modelos de SUVs, alcance volumes maiores do que os atuais.
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Saem montados da unidade diariamente um volume que varia de oito a até 36 veículos, em um turno de operação com 200 funcionários. O que dita o ritmo de produção, obviamente, é a demanda do mercado.
Produzir aquém das possibilidades não é uma escolha da montadora, é bom frisar. O baixo volume é reflexo de um mercado premium doméstico que estagnou em patamar menor do que aquele que induziu a companhia a produzir localmente.
Dados da Abeifa, a associação que representa importadores e também a JLR no Brasil, mostram que em 2013 as vendas da fabricante somaram mais de 10 mil unidades.
Em 2023, as vendas dos modelos produzidos em Itatiaia foram de pouco mais de 1,91 mil unidades. Em 2022, o volume chegou a 1,99 mil.
Segundo Leandro Moreira, diretor de operações, o fluxo hoje de veículos na linha segue essas demandas desse mercado, mas há como atender a um eventual aumento dos pedidos com a estrutura existente.
“Caso a demanda cresça ainda mais, há espaço para construção de outras áreas, para a incorporação de outros processos que não temos hoje na unidade”, disse Moreira na quinta-feira, 29.
Itatiaia pode ter área de armação de carrocerias para JLR
Dentre esses processos poderiam estar a instalação de uma área de armação de carrocerias (body in white, na terminologia em inglês) e de pintura, tarefas que, hoje, não são executadas em Itatiaia.
Pelo volume de vendas atual da fabricantes com suas marcas Range Rover e Discovery, tais processos são realizados em outras fábricas da companhia no mundo – o custo de importação acaba sendo menor do que aquele que seria despendido para localizá-los no país.
De forma que a linha da JLR em Itatiaia recebe de uma unidade instalada em Liverpool, na Inglaterra, as carrocerias dos dois modelos, soldadas e pintadas, em containeres que desembarcam no porto do Rio de Janeiro.
Uma vez na fábrica, as unidades recebem as demais peças e partes que ficam estocadas em um centro de armazenamento que abriga 1,8 mil part numbers. Segundo Moreira, não é uma operação CKD, quando kits de componentes pré-montados abastecem as linhas de produção.
De qualquer maneira, componentes-chave como suspensão, transmissão e motores chegam a Itatiaia praticamente prontos de fornecedores estrangeiros. Enquanto que elementos do interior, faróis, pneus, bancos e vidros são entregues por empresas locais.
Os motores que equipam os SUVs chegam da fábrica da JLR em Wolverhampton, na Inglaterra. A trasmissão de nove velocidades é produzida pela ZF nos Estados Unidos.
Veículos da JLR tem baixo conteúdo local
Os dois modelos produzidos pela JLR na unidade, a propósito, têm baixo índice de componentes nacionais, cerca de 16%, disse o diretor de operações. Seria um outro reflexo de um mercado que proporciona volumes considerados baixos.
A quantidade de peças produzidas no país está longe dos 65% exigidos pelo Inovar-Auto, a política industrial que vigorava à época da construção da fábrica da JLR de Itatiaia, a qual concedia benefícios fiscais para quem produzisse veículos com mais peças brasileiras.
Com o fim do regime em 2017, a obrigatoriedade acabou caindo por terra. E as montadoras que construíram fábricas no Brasil em função dele acabaram, de certa forma, deixando de lado o desenvolvimento de fornecedores locais.
A Audi, por exemplo, encerrou as suas operações em São José dos Pinhais (PR) em 2019 por causa dessa nova realidade mercadológica e fiscal no pós-Inovar Auto. A BMW, por sua vez, mantém uma produção em Araquari (SC) que também depende muito de peças importadas.
É capaz que, com o lançamentos das versões renovadas do Discovery e do Range Rover, as vendas venham a ser maiores em 2024. Se serão suficientes para que a produção das linhas da fabricante seja maior, teremos que aguardar para ver.