Festival Interlagos é o novo Salão do Automóvel?

Mesmo sem grande novidade no formato, evento se firma como grande encontro para aficionados por carros, ainda que a tradicional mostra automotiva siga como promessa para o setor

Vitor Matsubara

Vitor Matsubara

Mesmo sem grande novidade no formato, evento se firma como grande encontro para aficionados por carros, ainda que a tradicional mostra automotiva siga como promessa para o setor

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O Festival Interlagos não é o Salão do Automóvel, mas, na ausência do tradicional evento, se consolida como o maior encontro focado em veículos leves da indústria automotiva brasileira, com forte apelo aos aficionados por carros.

Apesar de a edição realizada no último fim de semana ter sido apenas a terceira, ele atraiu a atenção de várias montadoras e alcançou público que, segundo estima a organização, chegou a 120 mil pessoas. O volume é o triplo da edição passada, quando o Festival teve de acontecer em meio às obras que ocorriam no autódromo por causa da realização do festival de música The Town. 


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Neste ano, nada menos do que 19 marcas estiveram presentes de forma oficial no evento. Foram elas: Abarth, BYD, Chevrolet, Fiat, Ford, GWM, Honda, Jaecoo, Jeep, Land Rover, Lexus, Mitsubishi, Neta, Omoda, Ram, Renault, Suzuki, Toyota e Volvo.

Enquanto a lista de novas montadoras chinesas é ampla, empresas com presença forte no mercado brasileiro ficaram de fora, como Volkswagen, Hyundai e Nissan, mas é inegável que o evento ganha relevância no vácuo deixado pelo Salão do Automóvel, que teve sua última edição em 2018.

Desde então, várias tentativas de realizar novamente o que era o maior motor show do Hemisfério Sul foram feitas, mas nenhuma delas evoluiu do campo das ideias para a realidade.

Festival Interlagos trouxe trações mais interativas para aficionados por carros

Uma das grandes reivindicações das montadoras em relação ao Salão do Automóvel é atendida no Festival Interlagos: a maior interatividade para os visitantes.

Além da possibilidade de dirigir vários carros no autódromo – o que, convenhamos, já é o suficiente para atrair muita gente ao evento – quem foi teve a chance de experimentar modelos também em uma pista off-road e aproveitar outras atrações.


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Havia uma mini pista de arrancada, museu de carros clássicos e especiais (com direito à única LaFerrari do Brasil), exposição de veículos preparados, um espaço destinado à apresentações de drifting e até um palco musical para shows no fim do dia. 

Outro desejo antigo das fabricantes de veículos foi concedido pelo Festival: quem saía da pista de testes apaixonado pelo automóvel que conduziu, podia fechar a compra do veículo ali mesmo. De olho em facilitar esses trâmites, algumas montadoras levaram seu braço financeiro e o Banco Santander também garantiu espaço de destaque. 

Mais espaço para os expositores

A edição deste ano ofereceu novas possibilidades para os expositores mostrarem suas novidades. Algumas montadoras tinham estandes fora da área dos boxes, onde ficaram a maioria das marcas.

É o caso da novata Neta, que promete iniciar suas atividades no Brasil ainda em 2024. Em seu vistoso espaço de três andares no centro do autódromo, estiveram expostos os três modelos (Aya, X e GT) com os quais a empresa vai começar suas operações ainda em 2024.

“O Festival Interlagos é uma ótima oportunidade de reunir os principais parceiros de negócio da marca, como concessionários, fornecedores, jornalistas, influenciadores digitais e, claro, clientes”, afirmou Henrique Sampaio, diretor de marketing e produto da empresa.

Formato já foi explorado na década passada

O modelo do Festival Interlagos não é exatamente inédito. Diversos eventos de experimentação já foram realizados antes no mundo. No Brasil, o exemplo mais emblemático foi o Quatro Rodas Experience, realizado pela Editora Abril até meados da década passada.

Além de ter a chancela da mais famosa publicação de automóveis do Brasil, o evento tinha um importante chamariz: a possibilidade de dirigir carros que, até então, o visitante só podia apreciar estacionados no Salão do Automóvel.

A cereja do bolo era a possibilidade de experimentar vários veículos no Autódromo de Interlagos, o mesmo circuito responsável por tantos momentos marcantes do automobilismo, sobretudo na Fórmula 1.

O evento fez bastante sucesso à época, mas deixou de existir em parte porque as montadoras decidiram realizar iniciativas semelhantes por conta própria.

Afinal de contas, era a oportunidade de convidar clientes e potenciais consumidores para experimentar seus produtos sem a incômoda presença dos concorrentes a poucos metros de distância.

Salão do Automóvel segue nos planos

A promessa de realizar um novo modelo de Salão do Automóvel é repetida desde 2020, quando o evento foi cancelado pela falta de expositores.

Na época, mesmo com o público crescente da mostra, que recebia mais de 800 mil visitantes, a maioria das marcas não quis mais investir os valores necessário para participar do Salão, que se acumulavam entre a reserva de área de exposição, estandes chamativos o bastante para atrair o público e outras ativações lá dentro.

Pesava contra também a proibição de realizar a venda de carros no pavilhão de exposições ou em alguma área no entorno da mostra. Para as montadoras, já não era mais viável destinar montantes elevados sem a possibilidade de vender um carro sequer.

Sobram promessas, mas até agora…

Desde então, a RX, organizadora do evento e dona da marca Salão do Automóvel, e a Anfavea, associação que representa as fabricantes de veículos, já prometeram em várias ocasiões que voltariam a realizar o evento em novo formato.

Em 2022, o evento foi rebatizado de São Paulo Motor Experience e prometido para o meio do ano, justamente no Autódromo de Interlagos. Só que a crise dos semicondutores ainda abalava a indústria automotiva e, mais uma vez, o assunto morreu. As montadoras não investiriam para participar de um evento quando não tinham estoque de veículos para oferecer ao público. Houve quem dissesse que era o “evento certo, no momento errado”.

No ano seguinte, foi noticiado que a mostra se chamaria Congresso Internacional do Setor Automotivo e aconteceria no segundo semestre. O evento, de fato, aconteceu, mas com uma outra proposta: em Brasília (DF), com menos foco no consumidor e mais em mostrar ao governo as tecnologias de baixo carbono e soluções de eletrificação que a indústria pode oferecer. Uma missão mais institucional.

Até Lula pediu a volta do Salão

A promessa mais recente veio no último trimestre do ano passado, quando a Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores) alardeou que o Salão do Automóvel aconteceria neste ano – mais precisamente em novembro. Até agora, porém, não há nada confirmado.

O local seria o Pavilhão de Exposições do Anhembi, que foi reconstruído com fundos privados e surge como favorito em vez do São Paulo Expo, palco das últimas duas edições da feira. Caso isso aconteça, o evento deixará o São Paulo Expo, palco das duas últimas edições.

Importante apontar que, recentemente, até o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), pediu para que as montadoras realizem um esforço conjunto pelo retorno do Salão. 

No Festival Interlagos, executivos ligados às montadoras asseguraram que há espaço para os dois eventos. De fato, por enquanto, o Salão do Automóvel, segue com um papel institucional que ainda não foi ameaçado. O encontro atraia presenças do alto escalão internacional das montadoras para anunciar novidades locais e tinha também a missão de aproximar a indústria automotiva de governo e autoridades.

Agora, para provar a visão de que o Salão e o Festival podem ter convivência saudável e complementar só falta uma coisa: o motor show brasileiro voltar a acontecer. Ano que vem, quem sabe?