Federação avalia que este ano será uma espécie de espelho de 2022 em frentes ligadas ao negócio da distribuição veicular
A depender das expectativas dos concessionários de veículos que operam no país, nada de novo no front das vendas em 2023. As projeções divulgadas pela Fenabrave na quinta-feira, 5, passam uma mensagem ao mercado de que este ano será uma espécie de espelho de 2022 em diversas frentes ligadas ao negócio da distribuição veicular.
Entraves logísticos gerados por outro avanço da Covid-19 na China, juros altos que esfriam o apetite dos consumidores, retração em economias desenvolvidas e a escassez de semicondutores nas prateleiras dos fornecedores globais, pelas contas da Fenabrave, levarão o mercado doméstico a fechar o ano com os mesmos 2,1 milhões de veículos emplacados de 2022.
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“Isso se não acontecer nenhum fato novo. A nossa posição, neste momento, é conservadora acerca de projeções para o ano”, disse Andreta Junior, presidente da federação que representa as concessionárias que operam no país. “Tudo poderá mudar daqui a três meses, para cima ou para baixo”, completou.
E o que poderá mudar no trimestre, a ponto de influenciar as próximas projeções da entidade? Segundo seu presidente, poderá ser uma eventual flutuação do dólar para patamares acima dos R$ 5,30 atuais. Ou o recrudescimento do conflito Rússia-Ucrânia, que ganhou novos e violentos capítulos no começo de janeiro. Ou ainda a condução da política econômica pela nova equipe do Governo Federal.
“O dólar pode cair para quatro reais, mas também poderá chegar a seis, e isso poderá refletir na tabela dos veículos, assim como a falta de componentes. Também temos que ver quem serão os nomes que vão compor os ministérios da Economia e da Indústria. Ainda é tudo muito nebuloso, então preferimos adotar um tom conservador a respeito das projeções neste momento”, contou Andreta Junior.
Montadoras esperam 2023 idêntico ao projetado pela Fenabrave
Em linhas gerais, tanto o setor de distribuição, quanto as montadoras que o abastece com modelos novos, seguem de certa forma em modo reativo a todos esses desafios que persistem desde 2020. Não há outro plano que não seja o de mitigar os efeitos que esses entraves produzem no cotidiano dos fabricantes e das concessionárias.
“Até onde sabemos, a expectativa das montadoras acerca das vendas para o ano é a mesma do que a nossa, ou seja, todos esses desafios seguem existindo em 2023. Uma série de lançamentos será feita este ano, e isso puxa as vendas. Mas até que ponto o mercado vai ter forças para absorver, não sabemos. Assim como não se sabe se haverá peças para montar esses veículos”, disse o presidente da Fenabrave.
Não se vende menos veículos só aqui, que fique claro. Nos Estados Unidos, por exemplo, os emplacamentos apontavam para queda de 8% na comparação com o total vendido em 2021, segundo projeção divulgada pela consultoria Cox Automotive em dezembro. Analistas daquele país, inclusive, apontam que será preciso algum tipo de incentivo via governo para que as vendas possam voltar a crescer, afora aqueles que já são concedidos aos compradores de veículos elétricos.
“Incentivos são bem-vindos”, diz presidente da Fenabrave
Por ora, ninguém naquele mercado parece se arriscar a propor algum tipo de medida, e o mesmo ocorre por aqui. Contudo, Andreta Junior afirma que neste momento “todo tipo de incentivo é bem-vindo”, mesmo que nenhuma conversa nesse sentido tenha sido discutida com a recém-empossada equipe do Ministério da Indústria, o MDIC.
O presidente da Fenabrave, aliás, esteve em Brasília (DF) na solenidade que marcou a posse do ministro Geraldo Alckmin (PSB) à frente da pasta, na quarta-feira, 4. Antonio Calcagnotto, secretário da Anfavea, também esteve na cerimônia. Ele substituiu na ocasião o presidente da associação, Marcio de Lima Leite, que se recupera da Covid-19.
Andreta Junior informou que ainda não há nenhum tipo de plano traçado pelo ministério que trate de questões ligadas ao setor automotivo, mas que o ministro, assim como o presidente Lula (PT), tem livre-trânsito dentro da indústria, e que isso, por si só, já é algo positivo.
“O ministro falou sobre a retomada da industralização no país, e isso é importante para se aumentar o PIB. E quanto maior o PIB, maiores as chances de se vender mais veículos”, explicou Andreta Junior. A Fenabrave trabalha com uma projeção de crescimento do produto interno para o ano em uma faixa que vai de 2,5% a 3%. “A indústria, hoje, puxa o nosso PIB para baixo”, finalizou.