Estrutura de carregamento de carros eletrificados no Brasil dobra de tamanho, mas conta precisa fechar

Debate no #ABX24 mostra que futuro da recarga no país não terá só uma, mas várias soluções para diferentes públicos

Raphael Panaro

Raphael Panaro

Debate no #ABX24 mostra que futuro da recarga no país não terá só uma, mas várias soluções para diferentes públicos

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O Brasil evoluiu, mas ainda engatinha quando o assunto é mobilidade elétrica. Atualmente são mais de 180 mil veículos híbridos plug-in ou elétricos no país. E a estrutura de carregamento para esses eletrificados?

Hoje existem mais de 10 mil estações de recarga espalhadas no território nacional. O número parece razoável, porém a proporção é de apenas um carregador para 18 automóveis leves (sem contar os pesados).


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É o suficiente? É preciso ter mais carregadores rápidos? Qual é o futuro da infraestrutura? Todas estas perguntas foram respondidas durante o Automotive Business Experience 2024 – #ABX24.

Estrutura de carregamento precisa ser rentável

Em 2024 houve um boom na estrutura de carregamento para eletrificados. O número de aparelhos mais que dobrou a oferta em relação ao fim do ano passado. E, em um primeiro momento, estes postos de recarga instalados, majoritariamente pela iniciativa privada (até para estimular o mercado), não praticavam cobranças para os usuários.

É exatamente o ponto que Thiago Castilha, CMO da E-Wolf, levantou sobre um segundo momento dessa expansão durante o painel “Recarga elétrica: positiva e operante?” que ocorreu no #ABX24.

“Para crescer tem que ter viés econômico, ensinar como que fatura com isso, mostrar como que ganha dinheiro com isso. Porque onde tem negócio, tudo se desenvolve”, aponta o executivo da companhia de soluções de mobilidade e de carregadores.

Francisco Scroffa, CEO da Enel X, braço do grupo italiano de energia, foi além e disse que qualquer modelo de negócio vai funcionar, mas é preciso segmentar o cliente.

“Não é o mesmo negócio para o motorista privado, para o motorista de aplicativo ou para os ônibus elétricos. Então, a gente tem que entender qual vai fechar a conta primeiro”, apontou o executivo. A Enel X já instalou mais de 7 mil carregadores domésticos em parceria com diferentes montadoras de automóveis. 

Não existe aparelho de recarga certo ou errado

Mas as estações domiciliares (carga lenta) são a melhor saída? É preciso mais carregadores rápidos nas rodovias ou hubs de recarga? Rebello, diretor de mobilidade elétrica da Raízen Power, é sucinto.

“Não existe carregador certo ou errado, melhor ou pior, existe o carregador instalado na ocasião e no momento de uso correto para o seu usuário”, resumiu Rebello, que acredita na complementaridade das soluções.

“Grandes áreas de adensamento urbano, onde você tem uma dificuldade grande de infraestrutura, como a estabilização de grid e capacidade, vai ter uma dificuldade de que cada usuário tenha carregador em casa. Mas isso pode ser rapidamente resolvido se você criar mais pontos de contato na jornada do consumidor”, disse o executivo.

Regulamentação para separar crianças dos adultos

Com a expansão da estrutura de carregamento para carros eletrificados, outros problemas vão aparecer: a qualidade dos equipamentos e do fornecimento de energia.

“Existem empresas que importam o carregador, que não tem um mínimo de qualidade técnica, um mínimo de segurança. E a mesma coisa na área de serviço. Então, a gente está chegando num momento que agora a gente vai separar as crianças dos adultos”, ponderou Thiago Castilha, CMO da E-Wolf.

Vale lembrar que bateria de carro elétrico é da mesma natureza da de celulares e smartphones. Então, é preciso ter as ferramentas certas e boa procedência para não dar problema a médio e longo prazo.

“A gente está trabalhando junto ao Inmetro para ter um mínimo de certificação. Para essa rede crescer temos que falar de qualidade”, completou Castilha, que pediu regulamentação e regras para o cenário da mobilidade se desenvolver mais rapidamente no país.

App unificado pode facilitar vida do usuário

Com diversas empresas oferecendo serviço de recarga em shoppings, postos, hubs ou supermercados, em geral é necessário baixar aplicativos, fazer cadastro e colocar a forma de pagamento em cada um. O que pode atrasar ou até mesmo fazer o usuário desistir de recarregar seu carro devido à “burocracia”.

Alexandre Miyahara, CEO da Circuito, empresa de soluções de mobilidade, apresentou uma novidade durante o debate no #ABX24.

“É o primeiro case do Brasil de aplicativos integrados. A gente quer tirar a barreira de usabilidade para o usuário. A nossa proposta é usar o aplicativo que quiser e carregar nos carregadores que você encontrar”, revelou Miyahara.

A Circuito também promete investir R$ 35 milhões e instalar 100 carregadores de 120 kWh em pontos estratégicos da cidade de São Paulo – 60 até o fim deste ano e 40 até o primeiro trimestre de 2025.

Motoristas de apps de transporte na vanguarda?

A falta de estrutura de carregamento e carregadores para eletrificados era um dos fatores que poderia atrasar a eletrificação das frotas de aplicativos de transporte. E, consequentemente, a descarbonização e agenda ESG das empresas. No entanto, Thiago Hipólito, diretor de inovação da 99, contou uma surpresa.

“Era algo que a gente até acreditava que podia barrar a adoção. E na prática, não. Hoje, a gente passou de seis mil carros eletrificados. A escalabilidade disso está sendo muito mais acelerada do que a própria adoção de mercado”, explicou Hipólito.

A 99 começou um projeto-piloto em 2022 com pouco mais de 100 carros eletrificados em uma parceria com a Prefeitura de São Paulo. Recentemente, a empresa lançou uma categoria dedicada para viagens em veículos elétricos.

Para atingir esse número, a companhia teve de trabalhar junto aos motoristas, com adequação da infraestrutura das casas e instalação de carregadores domésticos. Além de um estudo de campo para entender o itinerário e ajudar aos motoristas a não ficarem com baterias sem energia no carro durante o expediente.

“Estabelecemos lógicas de onde ele frequenta, no que a gente chama de mapa de calor, para poder posicionar os carregadores de carga rápida. Então, essa combinação, de uma carga durante à noite em casa e uma oportunidade para terminar o dia, tem funcionado muito bem”, completou. 

Um terceiro (e importante) ponto apontado pelo diretor da empresa de transporte é que o carro elétrico consegue ter um custo (combustível e manutenção) até 80% menor em relação ao veículo a combustão. Na China, a 99 diz que são mais de 30 milhões de corridas por dia e que 95% dos carros novos registrados na plataforma por lá são elétricos.