PSA confia na “Virada Brasil” para voltar ao lucro no País

Carlos Tavares, CEO do Grupo PSA: otimismo com o Brasil segue em alta

Redação AB

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Carlos Tavares, CEO do Grupo PSA: otimismo com o Brasil segue em alta

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Até agora todos os planos de recuperação desenhados pelo CEO Carlos Tavares no comando do Grupo PSA deram resultados melhores e mais rápido do que era esperado. Após assumir a companhia francesa em 2014 com números perigosamente negativos, o executivo trouxe de volta o lucro e ainda fez sobrar dinheiro para comprar da GM a Opel em 2017, que apenas um ano depois também voltou à lucratividade pela primeira vez após 20 anos. As ações culminaram em 2018 no mais lucrativo balanço da PSA, apresentado há menos de um mês. A operação brasileira, contudo, seguiu no vermelho pelo sétimo ano consecutivo, algo que Tavares espera que seja revertido com o plano “Virada Brasil”, lançado discretamente há um ano e não divulgado ao público externo, com o objetivo central de reconquistar rentabilidade e participação de 5% no mercado local com a soma das vendas das marcas Peugeot e Citroën (hoje o índice é de 2%).
O plano prossegue até 2021, mas a “virada” aqui parece ser bem mais demorada do que aconteceu na Europa, de onde o Grupo PSA tira a maior parte de seus bons resultados atualmente. Cerca de um ano atrás, quando esteve no Brasil no início do plano, Tavares avaliava que a situação tinha melhorado e esperava o retorno do País à lucratividade “para breve”, mas estava satisfeito porque a divisão América Latina dava lucro havia três anos (2015, 2016 e 2017), apesar dos seguidos prejuízos em seu maior mercado desde 2011. Em nova visita à subsidiária brasileira esta semana, o CEO repetiu quase o mesmo que disse em 2018: “Ainda perdemos dinheiro aqui, mas está melhor do que antes”, avaliou. Só que desta vez os outros mercados latino-americanos não conseguiram compensar as perdas no Brasil, o balanço da região fechou próximo da estabilidade especialmente por causa do tombo na Argentina.

“Creio que vamos voltar ao lucro no País em 2019. Estamos perto, o plano Virada Brasil está produzindo bons efeitos. Temos de ter lucratividade em todos os países, mas o que mais importa é o resultado da região toda. Desta vez a situação é crítica na Argentina, portanto o Brasil pode ajudar no resultado”, ponderou Carlos Tavares.

O CEO explica que o “Virada Brasil” segue a mesma “simplicidade” dos demais planos bem-sucedidos que desenhou, com base em corte de custos e aumento de receitas para gerar lucro. “Não se trata de bala de prata, são coisas clássicas que dão bons resultados quando aplicadas por equipes eficientes e alinhadas na mesma direção”, diz. Foi o que aconteceu com o “Back in the Race” para recuperar a PSA quando assumiu em 2014, que deu origem já em 2016 ao sucessor “Push to Pass”, projetado para até 2021 turbinar os resultados da companhia, e do “Pace” feito em 2017 para recolocar a Opel na lucratividade. Todos deram resultados acima do esperado, colocando as margens de ganho da PSA hoje (em torno de 8%) acima até de fabricantes premium como BMW e Mercedes-Benz.
“Tive sorte de ganhar carta branca dos controladores (a família Peugeot) para tomar as ações necessárias e de ter equipes que aceitam ser desafiadas a fazer melhor, não se acomodar diante das conquistas”, avalia Tavares. Exemplo disso, segundo ele, é o que acontece agora na América Latina. “Nos últimos anos ganhamos muito dinheiro na Argentina e avisei que era perigoso concentrar todos os ganhos em um só lugar. A realidade mostra que eu estava certo”, aponta.

RECEITA PARA O BRASIL

No caso brasileiro, Tavares espera que a receita simples que já aplicou na Europa seja replicada com cortes de despesas fixas, redução de custos variáveis (por meio de negociações nas compras de insumos e componentes) e maior eficiência nos gastos de marketing. “Apenas aqui as crises são mais frequentes então os planos também precisam ser mais curtos para aproveitar os bons períodos entre as crises”, ironizou.
Pelo lado dos produtos, segue em curso o programa iniciado em 2015 de 16 lançamentos na América Latina até 2021, à razão de dois por ano (um Peugeot e outro Citroën). No mercado brasileiro o objetivo é reconquistar a participação de 5%, índice que as duas marcas já tiveram há cerca de 10 anos, mas Tavares destaca que desta vez o porcentual crescerá obrigatoriamente atrelado à rentabilidade.
A estratégia inclui uma ofensiva no segmento de mercado que mais cresce, o de SUVs, que começou com o Peugeot 2008 fabricado em Porto Real (RJ), continuou com os importados 3008 e 5008, e prosseguiu com o Citroën C4 Cactus desde o ano passado também feito na planta brasileira. Este ano o 2008 deve passar por alguma renovação. Também foi iniciada com sucesso a investida no mercado de utilitários com os Citroën Jumpy e Jumper e Peugeot Expert e Boxer.
Dentro do plano, falta apresentar sete novos modelos de 2019 a 2021 e a maioria deles será construída sobre a nova plataforma modular global CMP do grupo, a ser introduzida na planta argentina de El Palomar no fim deste ano. O primeiro produto construído sobre ela chega aos mercados do Mercosul em 2020. No mesmo ano também é esperada a introdução de uma variante da CMP no Brasil, que possivelmente dará origem a outro SUV de maior porte.
A Opel já está no Chile e seus modelos devem também ser lançados no Peru e na Colômbia, mas não está prevista a inclusão da marca alemã no Mercosul, pois o imposto de importação é alto nesses mercados e no momento está fora de questão o investimento na produção local.
Espera-se que o plano seja capaz de reverter anos seguidos de retração, refletida na redução drástica das vendas de Peugeot e Citroën no mercado brasileiro, que no ano passado somaram volume quatro vezes menor do que o registrado em 2011, último ano lucrativo da PSA no País. De 176 mil unidades naquele ano, os emplacamento caíram para 44 mil em 2018, resultado ainda pior (-11%) que o de 2017, na contramão do mercado brasileiro, que cresceu quase 14% no mesmo período. A participação das duas marcas desceu a apenas 1,8%.
Com as vendas aquecidas do C4 Cactus e dos novos utilitários, no primeiro bimestre do ano já houve recuperação com crescimento de 22% nas vendas de Peugeot e Citroën em comparação com o mesmo período de 2018. A projeção para o ano todo é de expansão de 10%. Tavares avalia que o desempenho vai melhorar com a chegada de novos produtos mais competitivos. “Precisamos melhorar os custos das peças, a eficiência da distribuição e tornar as marcas mais conhecidas”, resume.
“Estamos otimistas com o Brasil porque é grande o potencial do mercado e de ir à direção correta do crescimento. A economia e a moeda parecem estáveis, mas o País precisa aumentar a produtividade para se tornar mais competitivo e assim criar riqueza. Uma das medidas para isso acontecer é abrir mais às importações para provocar o aumento da eficiência dos fabricantes locais”, aconselha Tavares.