Mesmo sem chips, Nissan fica no azul e vai produzir 80 mil Kicks em 2022

Companhia vai interromper operação na fábrica por uma semana e prepara a fabricação de um novo modelo

Giovanna Riato

Giovanna Riato

Companhia vai interromper operação na fábrica por uma semana e prepara a fabricação de um novo modelo

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A falta de chips eletrônicos que assombra a indústria automotiva fará a Nissan interromper a sua produção brasileira por uma semana. A fábrica da montadora em Resende (RJ) vai parar entre 4 e 8 de julho por causa da escassez de conjuntos e sistemas que contêm semicondutores.

A empresa pretende aproveitar de alguma forma a interrupção compulsória da operação para fazer treinamentos com os colaboradores e garantir um descanso remunerado aos funcionários, sem desconto de dias de férias ou uso de ferramentas como lay-off, a licença temporária do contrato de trabalho.

Airton Cousseau, presidente da Nissan Mercosul, aponta que a falta de chips tem sido persistente:

“A crise dos semicondutores ainda não melhorou. Há sempre projeção de melhora, mas isso não se concretiza na realidade”, avalia.

Perda de produção não afeta investimentos

O executivo diz que o problema de suprimentos deve causar redução de 20% na produção da companhia em 2022. “Esperávamos fazer 100 mil veículos no Brasil, mas devemos ficar em 80 mil”, estima. Todas as unidades serão do Kicks, único modelo que a montadoras faz localmente por enquanto.

Recentemente, a Nissan anunciou investimento de R$ 1,3 bilhão para modernizar a fábrica local e iniciar a produção de um novo carro até 2025. O aporte compõe os mais de R$ 50 bilhões planejados pelas fabricantes de veículos para o Brasil nos próximos anos.

Inaugurada em 2014, a fábrica da Nissan em Resende tem capacidade para produzir 140 mil carros por ano e, com a chegada de um novo modelo, esse potencial tende a ser melhor aproveitado. Cousseau aponta que a unidade é altamente competitiva comparada às outras plantas da organização, que tem mais de 20 fábricas espalhadas ao redor do mundo.

Por isso, segundo o presidente, o Brasil tem sido beneficiado na logística global de semicondutores da Nissan. Como todas as montadoras, a empresa têm priorizado alguns mercados diante da falta de componentes para atender todos.

Nissan foca em nacionalização e em manter contas no azul

Cousseau entende que o momento é favorável à busca das empresas por nacionalizar mais componentes e sistemas dos carros. “Com a crise na Rússia, muitas companhias têm reavaliado investimentos, buscado nações mais estáveis. Entre os países emergentes, o Brasil ganha espaço não só por isso, mas também por ser um grande mercado automotivo”, diz.

“Sempre defendi a nacionalização como o caminho para a competitividade. Com mais conteúdo local evitamos os efeitos de flutuações cambiais e problemas logísticos”, complementa Cousseau.

O executivo diz que essa é uma busca constante na organização. Segundo Cousseau, a Nissan fez uma série de reestruturações ao longo da pandemia de Covid-19 para reduzir seus custos e evitar demissões. Com isso, a empresa permanece com as contas no azul apesar das flutuações do mercado, aponta.

Ele conta que a fábrica teve um incremento de eficiência, com muito treinamento, mesmo sendo ainda pouco automatizada – algo que deve mudar com o investimento planejado para os próximo anos. 

“Com o início da produção de um novo modelo, nosso market share, que está em 3%, vai crescer, mas eu não preciso de uma participação enorme de mercado. Prefiro uma fatia menor, mas sustentável, no azul”, diz, apontando o caminho que a empresa busca para o futuro.