Representantes das montadoras discutiram com o ministro Fernando Haddad temas como crédito e exportações
Em meio às notícias de paradas de produção causadas por demanda fraca, representantes das montadoras instaladas no país estiveram reunidos na quarta-feira, 22, com o ministro da fazenda, Fernando Haddad. Participaram do encontro, além de Marcio de Lima Leite, presidente da Anfavea, representantes da Volkswagen, Mercedes-Benz, Iveco, Ford, Stellantis e CNH Industrial.
Segundo apurou a reportagem com a associação que representa as fabricantes, o encontro foi protocolar. Ou seja, integra uma agenda de compromissos que a entidade já tinha agendada em Brasília (DF).
Na semana passada, de acordo com essa agenda, o presidente da Anfavea se encontrou com Marina Silva, ministra do Meio Ambiente, para debaterem, dentre outras coisas, sobre descarbonização.
Juros e crédito entram na pauta da Anfavea com a Fazenda
No encontro com Haddad, os representantes da indústria falaram sobre itens da pauta que o setor já havia apresentado em outras oportunidades ao Ministério da Fazenda. No entanto, questões como crédito e outros estímulos ao consumo também vieram à mesa, uma vez que se vive dias em que parte das montadoras anunciaram algum tipo de ajuste na produção aleganda falta de demanda.
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Na saída do encontro com o ministro Haddad, o presidente da Anfavea afirmou à imprensa que na reunião foi apresentada a realidade do setor, “os investimentos feitos e dados de um mercado que não dá sinais positivos”. O diagnóstico citado, que integra um estudo amplo que trata também da cesta fiscal que incide sobre o setor automotivo, já foi apresentado pela associação em reuniões anteriores.
“Temos medidas de curto, médio e longo-prazo. São coisas distintas. Em primeiro momento, estamos trabalhando com foco em exportações, com convergência regulatória. O governo está atento às necessidades do setor, mas não estamos discutindo medidas de curto-prazo”, disse Leite após a reunião com o ministro.
Semicondutores têm impacto menor
Leite também afirmou que não acredita em demissões em massa no setor por causa da queda na demanda, e falou também que hoje a crise dos semicondutores já é algo que não limita tanto a produção de veículos como antes. É bom lembrar, contudo, que a falta de chips segue parando as linhas de montagem, como foi o caso da Stellantis na fábrica de Goiana (PE), que na semana passada anunciou férias coletivas por esta razão.
Ainda que o representante tenha afirmado que as montadoras não discutem medidas de curto-prazo para reverter o quadro de vendas menores, interlocutores da indústria comentam que, sim, o assunto foi discutido com o ministro da Fazenda.
À reportagem, uma dessas fontes contou que o momento é de buscar formas para que tanto as montadoras quanto o governo abram mão de receitas. O objetivo é conseguir uma redução significativa do preço médio dos veículos zero quilômetro.
“Muita coisa ainda está sendo discutida. A conversa gira em torno de uma redução do preço das tabelas de um lado, e um alívio tributário do outro, para se chegar a um preço menor que possa atrair o consumidor”, disse a fonte.
Isso é algo que já foi proposto pela Anfavea no ano passado. Na ocasião, governo e montadoras discutiram a redução do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) como forma de melhorar o ambiente nos financiamentos de veículos, que caíram muito nos últimos meses e têm preocupado a cadeia automotiva.
Pelas contas da entidade, cerca de R$ 100 milhões são arrecadados via IOF pelo governo mensalmente por meio de transações dentro da cadeia automotiva. A Anfavea acredita que uma vez zerado o imposto, ou diminuído, ele criaria condições mais favoráveis para o consumidor de veículos, que teria, em teoria, uma parcela menor para pagar por mês.
Balde de água fria do Copom
As montadoras iniciaram o ano alertando que demanda poderia se tornar algo preocupante em 2023, e que o cenário de juros altos representam o principal entrave às vendas a prazo.
Se havia alguma esperança de que o Banco Central se sensibilizaria aos pedidos do Governo Federal (que também reverbera o de diversos setores da economia) por uma taxa Selic menor, essa esperança se esvaiu no início da noite de quarta-feira, com o anúncio de manutenção da taxa em 13,75% ao ano feito pelo Comitê de Política Monetária (Copom) em sua última reunião.
“O ambiente externo se deteriorou. Os episódios envolvendo bancos nos Estados Unidos e na Europa elevaram a incerteza e a volatilidade dos mercados e requerem monitoramento. Em paralelo, dados recentes de atividade e inflação globais se mantêm resilientes e a política monetária nas economias centrais segue avançando em trajetória contracionista”, argumentou o comitê para manter inalterado o patamar da taxa básica.
A Confederação Nacional da Indústria (CNI) considerou equivocada a decisão do Copom. Na avaliação da instituição, o cenário atual indica que o Copom já deveria ter reduzido a Selic nesta reunião.
“A CNI espera que esse processo de redução da Selic se inicie na próxima reunião. A Confederação acredita que a manutenção da taxa de juros é, neste momento, desnecessária para o combate à inflação e apenas traz custos adicionais para a atividade econômica”, informou a confederação por meio de nota.
A próxima reunião do comitê ocorrerá em 45 dias.