Galvão, presidente da Eaton América Latina: decisões estratégicas compensaram fatores negativos do mercado
“Este foi um ano atípico. Poderia dizer que foi negativo, porque perdemos o fornecimento para a Ford Caminhões e as exportações para a Argentina caíram mais do que era previsto. Mas fechamos novos contratos que compensaram as perdas e garantem crescimento nos próximos anos.” Assim Antonio Carlos Galvão, presidente da Eaton América Latina, avalia o desempenho dos negócios em 2019, que poderia ser melhor sem os fatores negativos mencionados, mas que seria bem pior se a empresa não tivesse tomado decisões estratégicas, anos atrás, que hoje conferem sustentabilidade e expansão futura às operações no Brasil.
“No passado recente tomamos a decisão acertada de focar no desenvolvimento local de tecnologia e novas transmissões, com isso ganhamos contratos de fornecimento que garantem nosso crescimento no período 2020-2023”, afirma Antonio Carlos Galvão.
Como exemplo dos novos contratos conquistados, o executivo cita a Fenatran realizada entre 14 e 18 deste mês, onde metade dos fabricantes de caminhões expunham produtos equipados com novas caixas de câmbio (manuais e automatizadas) e embreagens fornecidas pela Eaton, incluindo VWCO, Mercedes-Benz e Iveco. Em outra frente de negócios, a Mercedes-Benz já confirmou que irá nacionalizar a transmissão automatizada do novo Actros com componentes produzidos pela Eaton em Mogi Guaçu.
Sem poder revelar ainda os outros contratos já firmados, Galvão informa que “teremos mais novidades nos próximos anos, por isso já é possível antever que 2020 será melhor que 2019, que 2021 será ainda melhor e assim sucessivamente até 2023”.
Galvão admite que o encerramento da operação de caminhões da Ford no Brasil “foi uma perda de fornecimento importante”, mas ele revela que, pelas movimentações do mercado e colocação de pedidos, já é possível prever que outros clientes da Eaton vão ocupar os espaços deixados.
Sobre a queda das exportações provocadas pela profunda retração da economia argentina, o presidente da Eaton conta que a empresa buscou contratos em outros mercados externos para compensar o tombo no país vizinho. Com isso, a participação das vendas externas na produção das fábricas do grupo no Brasil até cresceram, saindo do nível de 20% a 25% para fechar 2019 em torno de 30%.
DESENVOLVIMENTO LOCAL
Para Galvão, a base de sustentação da Eaton no Brasil é a capacidade de desenvolvimento local, que permite oferecer aos clientes soluções adequadas para rodar no País. “Não dá para aplicar uma mesma transmissão desenvolvida lá fora em um caminhão aqui, porque são muito diferentes as condições de carga, topografia, piso etc. Conhecemos essa realidade e desenvolvemos produtos para enfrentar as características da região”, afirma.
“Nossa capacidade de engenharia local foi fundamental para oferecer a cada cliente o que ele precisa e assim conquistar novos negócios. Não oferecemos uma mesma transmissão para duas montadoras. Cada uma significa anos de trabalho em conjunto; os resultados dessa estratégia estão aparecendo”, pontua.
A Eaton tem um centro de engenharia alocado na planta de Valinhos (SP) com mais de 100 pessoas, que além de adaptar produtos para as necessidades locais, também é referência global do grupo para projetos de transmissões para picapes e caminhões leves. “É essa infraestrutura que dá sustentação ao nosso desenvolvimento local e maior envolvimento com os fabricantes de veículos”, diz Galvão.
O executivo também destaca o elevado grau de qualificação das fábricas brasileiras da Eaton. O grupo tem mais de 300 plantas no mundo e por meio de auditoria interna classifica apenas 15 delas como sendo de “classe mundial” e somente sete são “modelo”, entre estas duas no Brasil, Valinhos (produção de transmissões) e Mogi Mirim (engrenagens e componentes para caixas de câmbio).
FONTES DE CRESCIMENTO
Linha de produção de transmissões automatizadas da Eaton em Valinhos (SP): crescimento acelerado
Na próxima década, Galvão avalia que mais negócios virão da maior penetração de transmissões automatizadas, hoje presentes em quase metade dos caminhões novos vendidos no País (acima de 95% no caso dos modelos pesados). Com isso, novos desenvolvimentos serão necessários para novos veículos nos próximos anos, com a provável conquista de contratos. “É uma tendência natural, pois o câmbio automatizado representa sensível redução dos custos operacionais [de manutenção e consumo de combustível]”, destaca. A Eaton já fornece caixas automatizadas para três montadoras no Brasil: Mercedes-Benz, Iveco e VWCO (também fornecia à Ford Caminhões).
Outra fonte de potencial crescimento para a Eaton no Brasil são os contratos de manufatura de componentes, uma operação que já está em alta em Mogi Mirim, onde são produzidas em três turno de trabalho engrenagens para caixas das General Motors e Mercedes-Benz. “É possível conquistar novos contratos, porque os fabricantes de veículos não conseguem fazer tudo sozinhos”, pondera Galvão.
Também está no horizonte de novas oportunidades de expansão dos negócios a produção nacional de válvulas ORVR (Onboard Refueling Vapor Recovery), que evita a o vazamento por evaporação na atmosfera de gases tóxicos do tanque de combustível. A Eaton produz a ORVR há mais de 20 anos nos Estados Unidos, onde mais de 300 milhões de veículos leves já foram equipados com o dispositivo. O plano é fabricar a válvula em Valinhos a partir de 2023, quando a legislação brasileira de prevê a instalação obrigatória do instrumento de contenção de emissões evaporativas nos veículos vendidos no País.