O protótipo 01 do e-Delivery é revelado na Alemanha em 2017: primeiro caminhão elétrico projetado no Brasil
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Com a mesma ousadia que há 40 anos surgiu com os primeiros caminhões Volkswagen do mundo no Brasil, em 2017 a Volkswagen Caminhões e Ônibus (VWCO) surpreendeu mais uma vez. Já como membro da holding VW Truck & Bus (Traton Group a partir de 2018), a exótica fabricante de marca alemã e matriz brasileira atravessou o Oceano Atlântico rumo à Alemanha, levando para mostrar aos europeus o primeiro protótipo de caminhão elétrico desenvolvido por sua engenharia brasileira, o e-Delivery.
Este texto faz parte da série especial de reportagens sobre os 40 anos da Volkswagen Caminhões e Ônibus (VWCO)
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A versão elétrica do Delivery foi revelada em outubro de 2017 em um evento realizado em Hamburgo, Alemanha, sobre as inovações tecnológicas das as empresas da VW Truck & Bus. Ao lado de MAN e Scania, as outras duas fabricantes centenárias pertencentes ao mesmo grupo, a VWCO mostrou que sua “bula” para projetar produtos robustos e de baixo custo também pode ser aplicada às principais tendências tecnológicas globais que estão guiando o setor de transportes.
Com engenharia independente e recursos para investir gerados dentro de casa, sem dependência de uma matriz no exterior, a VWCO lançou o primeiro caminhão elétrico brasileiro, fazendo uma aposta que nenhuma outra fabricante multinacional de veículos instalada no Brasil teve ousadia de fazer até o momento. Roberto Cortes ao lado do e-Delivery: mais uma aposta ousada da VWCO
“Fizemos porque somos ousados e inovadores. Foi assim quando lançamos os primeiros caminhões cara-chata no Brasil e depois com o Consórcio Modular de Resende. Não é diferente com novas tecnologias. O e-Delivery representa mais um marco histórico da empresa. Trata-se de uma plataforma totalmente nova, desenvolvida no Brasil, que insere a engenharia brasileira na rota global de tecnologia”, sublinha Roberto Cortes, presidente da VWCO.
Cortes explica que o e-Delivery foi planejado desde o início do projeto da nova geração da linha Delivery de caminhões leves e médios, que começaram a ser desenvolvidos em 2012 mas só foram lançados em 2017, apenas um mês antes do protótipo elétrico ser apresentado na Alemanha. “Não partimos do zero, já tínhamos previsto desde o começo que a nova família de caminhões teria uma versão elétrica. Por isso o produto está sendo lançado em tempo recorde”, lembra o executivo. O e-Delivery deveria começar a ser produzido no segundo semestre de 2020, mas a pandemia atrasou o plano para o fim do primeiro semestre de 2021.
ESTRATÉGIA ELÉTRICA ACELERADA
Não só o desenvolvimento técnico do e-Delivery andou mais rápido do que o usual, também a estratégia comercial avançou acelerada. Dias depois de apresentar o e-Delivery na Alemanha, a VWCO expôs o modelo ao público brasileiro na Fenatran de 2017 e anunciou que a Ambev iria testar o veículo para entregas de bebidas em São Paulo. Ambev testou o e-Delivery por 30 mil km na entrega de bebidas em São Paulo: encomenda de 1,6 mil unidades
Antes mesmo de iniciar os testes, em agosto de 2018 a Ambev confirmou a intenção de comprar 1,6 mil unidades do e-Delivery para eletrificar 35% de sua frota até 2023 – na época foi o maior negócio de aquisição de veículos elétricos em uma só encomenda já anunciado no mundo.
O primeiro e-Delivery 4×2 de 11 toneladas foi entregue à Ambev para testes em outubro de 2018 e no mês seguinte foi substituído por outro, um modelo 6×2 de 14 toneladas. Foi com este último que a fabricante e distribuidora de bebidas decidiu ficar. Dois anos depois de iniciar as avaliações e rodar 30 mil quilômetros com alguns protótipos, em outubro de 2020 a empresa confirmou a encomenda das primeiras 100 unidades, que começam a ser produzidas e entregues ao fim do primeiro semestre de 2021. Já foram construídos 17 protótipos do e-Delivery para testes e a fábrica preparou uma área exclusiva para ensaios dos processos
A fase de testes foi concluída. No total, 17 protótipos do e-Delivery foram colocados para rodar em ensaios próprios da engenharia e em clientes. A fábrica iniciou a preparação para produzir o elétrico já no fim de 2019, com investimentos de R$ 110 milhões para criar uma planta piloto de testes e uma área anexa dedicada à eletrificação – o veículo entra na produção na linha regular de montagem, no meio do trajeto o chassi é “desviado” para ser equipado com o powertrain elétrico e depois volta à linha para receber a cabine e inspeções finais.
ELETRIFICAÇÃO DO CONCEITO “MAIS VOCÊ NÃO PRECISA”
O e-Delivery foi projetado seguindo o mesmo conceito “mais você não precisa”, que a VWCO aplica há anos para oferecer produtos a preços competitivos. Um caminhão elétrico continua a custar mais que o dobro de um modelo equivalente a diesel, mas a fabricante encontrou algumas fórmulas para reduzir os custos – o que pode tornar o veículo atraente inclusive em mercados desenvolvidos. O e-Delivery em exposição no IAA de Hannover em 2018: alinhamento com tendência tecnológica global com custos menores
O domínio da tecnologia alinha a VWCO com a tendência de eletrificação dos veículos em vários países da Europa, abrindo caminho para exportação a mercados maduros. “O projeto do novo Delivery já foi pensado para ser global, portanto ele se encaixa em vários países. Exportar o e-Delivery é também uma possibilidade a ser explorada”, explica Roberto Cortes.
Segundo o vice-presidente de engenharia Rodrigo Chaves, o projeto do caminhão elétrico da VWCO é bastante flexível e existe a possibilidade de configurar o modelo para atender a legislação na Europa e vários outros países. “No desenvolvimento buscamos incluir o máximo possível empresas parceiras locais para fabricar o produto. Com isso podemos produzir e exportar de forma competitiva”, explica.
Seguindo o conceito do mínimo necessário, o e-Delivery será oferecido com dois módulos de baterias com células importadas da chinesa CATL e montadas no Brasil pela Moura, um com autonomia para até 100 km e outro para 200 km. “Nos testes de entregas urbanas com a Ambev, a necessidade de autonomia diária ficou entre 50 e 70 quilômetros. Se essa é a necessidade, o transportador não precisa pagar mais por isso”, aponta Walter Pelizzari Jr., gerente executivo de estratégia corporativa envolvido no projeto elétrico da VWCO. Trabalho no projeto do e-Delivery: arquitetura flexível com foco em localização de componentes e globalização do produto
O e-Delivery nasce com mais partes importadas do que a média dos outros modelos da VWCO, a começar pelas baterias de lítio ainda sem produção nacional, mas tem conteúdo nacional suficiente para ser financiado pela linha Finame do BNDES. Entre os fornecedores brasileiros estão a catarinense Weg, que fornece o motor elétrico, e a pernambucana Moura, que por enquanto só montará os módulos, mas tem planos de produzir no Brasil baterias de alto desempenho quando a demanda justificar o investimento. A Meritor produz no Brasil o eixo trativo que foi adaptado ao powertrain elétrico do e-Delivery. O veículo foi desenvolvido em parceria com a Eletra, empresa brasileira que há 30 anos desenvolve ônibus elétricos no País, incluindo híbridos e trólebus.
MAIS MODELOS ELÉTRICOS NO HORIZONTE
Segundo o presidente da VWCO, faz parte do programa de investimentos de R$ 2 bilhões até 2025 o desenvolvimento de mais aplicações elétricas para caminhões e ônibus VW. A aposta é que esses modelos vão estar cada vez mais presentes no transporte urbano de carga e passageiros das grandes cidades brasileiras e de outros países emergentes, onde até o momento a empresa está praticamente sozinha nessa concorrência. Logotipo e quadro de instrumentos (com monitoramento da carga das baterias) são as poucas diferenças visuais do e-Delivery em relação ao resto da família de caminhões leves e médios
Roberto Cortes avalia que, com o tempo, o custo maior de aquisição de um veículo elétrico será reduzido e parcialmente compensado pelo custo muito mais baixo de operação e manutenção. Conforme mostraram os testes, o e-Delivery tem gastos com combustível 70% menores e a manutenção custa 50% menos. O propulsor elétrico tem grande longevidade, número pequeno de componentes, não precisa de óleo nem de caixa de câmbio. Até os freios duram 10 vezes mais, pois o sistema de regeneração da energia cinética das frenagens, para recarregar as baterias, também funciona como um freio-motor e preserva lonas, pastilhas e discos.
No projeto do seu caminhão elétrico, a VWCO desenvolveu uma arquitetura flexível, que permite a rápida integração para utilização de componentes dos integrantes do Traton Group (Scania, MAN, Navistar/International e a própria VWCO). Por isso, segundo Rodrigo Chaves, já existem muitas soluções na prateleira que podem ser usadas para fazer o e-Delivery em diversas configurações possíveis de peso, capacidade, powetrain e autonomia. Testes com o ônibus híbrido Volksbus e-Flex: próxima aposta na eletrificação
Novas versões do e-Delivery já estão planejadas e também deve entrar em testes de circulação o Volksbus e-Flex, apresentado pela primeira vez em 2018 no Salão de Hannover, na Alemanha. Em outra solução criativa da engenharia brasileira da VWCO, é um ônibus híbrido plug-in que pode recarregar as baterias na tomada ou por meio de um motor flex (bicombustível etanol-gasolina) usado como gerador para alimentar a tração 100% elétrica. Se usar só biocombustível, o veículo é neutro em emissões de CO2 e tem autonomia estendida pelo gerador a combustão, baseado no motor turbo 1.4 TSI, produzido pela Volkswagen em São Carlos (SP), em uma sinergia com uma empresa do mesmo grupo que aumenta o grau de nacionalização do ônibus.
Com soluções criativas e certas doses de arrojo, a VWCO começa a construir um ecossistema de eletrificação do transporte no Brasil com a mesma receita que construiu uma marca de caminhões e ônibus. “Estava convencido que esta iniciativa ia ser um sucesso e está sendo, nossa fábrica já está pronta para produzir o e-Delivery e nosso objetivo é seguir investindo para ampliar a oferta de elétricos”, promete Cortes.
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