Fabricantes articulam com Brasília meios para que financiamentos voltem a ser viáveis aos consumidores
Se no começo da pandemia o principal problema enfrentado pelas montadoras de veículos instaladas no país era a oferta, o entrave agora, mais de dois anos depois do primeiro caso registrado de Covid-19, virou a demanda.
Hoje, sete de cada 10 negócios fechados envolvendo veículos no Brasil são realizados à vista. Pela ótica da Anfavea, a associação que representa as fabricantes, tal quadro inviabiliza maiores volumes de vendas.
Inviabiliza e preocupa. Segundo Márcio de Lima Leite, presidente da entidade, os atuais 2,1 milhões de veículos licenciados no mercado doméstico produzem dois indesejáveis efeitos.
O primeiro diz respeito aos investimentos feitos pelas matrizes na região. Com um mercado estagnado neste patamar, disse Leite, ficam mais fracos os argumentos das filiais na hora de se pleitear mais recursos para a operação local.
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“Já enfrentamos aqui o Risco Brasil, que é a alta carga tributária. Tem também a retenção dos créditos fiscais. Com isso, o Brasil vai perdendo competitividade para outros mercados e isso pesa no momento em que a matriz estuda para onde enviar recursos”, contou.
O segundo efeito tem a ver com a capacidade produtiva. As linhas instaladas aqui podem produzir 4 milhões de veículos/ano, metade do que é vendido no mercado brasileiro pelo menos há três anos.
Para o presidente da Anfavea este é outro fator que pode determinar mais ou menos investimentos na região, assim como a permanência das empresas em solo brasileiro como fabricantes locais. A Ford, por exemplo, optou por encerrar a produção no país no início de 2021.
Anfavea projeta vendas e produção maiores em 2023
De qualquer forma, o mercado brasileiro já não proporciona há tempos vendas em volumes próximos à capacidade instalada, e o cenário criado pela pandemia tornou isso quase utópico. De 2020 pra cá, vender veículos tornou-se algo complexo, tanto pela falta de veículos nos pontos de venda, quanto pelo desaquecimento da economia. Os juros aumentaram e caiu a renda média do brasileiro, que não acompanhou a alta do preço dos veículos.
Para a Anfavea, 2023 será um ano com menos oscilações em termos produtivos, condição que levou a associação a projetar vendas 3% maiores este ano, na comparação com o que foi vendido no ano passado.
Para se vender mais, contou o presidente da Anfavea, é preciso melhorar as condições de crédito no país. tanto que o tema é considerado o item principal da agenda de prioridades que a entidade negocia com o governo federal há alguns meses.
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“Este ano, o driver para vender mais é o aquecimento da demanda, e achamos que isso pode ocorrer por meio de condições melhores de crédito. O mercado poderia ser maior não fossem os juros que são praticados atualmente”, disse Leite.
Montadoras preparam, de novo, lista com pedidos setoriais
A Anfavea apresentou para a equipe de transição do atual governo uma lista formada por 12 pautas – entre elas a retomada da venda a prazo. Segundo Leite, foi feita uma apresentação, em jantar, ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e ao ministro da Fazenda, Fernando Haddad.
“Queremos trabalhar com o governo dizendo o que é importante para o setor, no sentido de atrair mais invetimentos para o país”, contou o presidente da Anfavea, que afirmou, ainda, que há aderência entre as pretenções das montadoras com as do ministério da Indústria, o MDIC.
Anfavea espera ter melhor relacionamento com o governo
Esta não é a primeira vez que a associação prepara uma lista de pleitos do setor para ser entregue ao Governo Federal. Em maio do ano passado, logo após Márcio de Lima Leite assumir a presidência da Anfavea, a entidade elencou e apresentou as pautas no Distrito Federal.
A expectativa, neste momento, é de que, passadas as eleições presidenciais, haja mais interlocução entre indústria automotiva e Planalto, via MDIC.
O que parece, à princípio, é que as montadoras se fizeram ouvir a respeito de suas demandas, e que o governo está disposto a executar pelo menos parte do que foi requisitado – a julgar pelo discurso de posse do ministro do MDIC, e vice-presidente da República, Geraldo Alckmin (PSB).
No entanto, pouco foi proposto para que as vendas voltem a ficar aquecidas por meio de medidas governamentais. No ano passado, conversas sobre redução do IOF foram mantidas, mas o assunto esfriou. Resta saber se esta, e outras manobras, surgirão na mesa de discussão nos próximos meses.