Chuvas no RS: Scania importou componentes da Europa para manter produção

Montadora tem entre 12% e 15% dos seus fornecedores instalados no Rio Grande do Sul

Ana Paula Machado

Ana Paula Machado

Montadora tem entre 12% e 15% dos seus fornecedores instalados no Rio Grande do Sul

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A Scania teve que fazer uma operação de guerra para não parar a sua produção no Brasil por causa do desastre ambiental no Rio Grande do Sul. Segundo o vice-presidente de Logística e Operações Industriais, Adolpho Bastos, a companhia teve que importar parte dos componentes de unidades europeias para suprir as necessidades da fábrica em São Bernardo do Campo, no ABC Paulista. 

“Entre 12% e 15% dos nossos fornecedores estão no Rio Grande do Sul. No primeiro momento, procuramos saber como estavam, depois, começamos a realizar as estratégias de fornecimento. Tínhamos estoques e alguns de nossos parceiros também, mas, boa parte dos componentes foram importados”, disse o executivo. 


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A fábrica do ABC é responsável por cerca de 30% da produção global da Scania e o mesmo sistema de produção das outras unidades da montadora pelo mundo. Hoje, a empresa tem 274 fornecedores no Brasil e capacidade instalada de 30 mil unidades por ano. “Atualmente, por dia, fabricamos cerca de 150 veículos, o equivalente ao que produzíamos em 1957, quando iniciamos a operação no país”, afirmou Bastos. 

A companhia comemorou a produção de 500 mil caminhões no Brasil neste mês. O modelo escolhido é o 460 R Super 6×2 e, segundo a Scania, entre as tecnologias embarcadas estão o Actcruise (piloto automático com previsão ativa), o acelerador inteligente (ou controle de aceleração) e freio de cabeçote CRB, de série na gama Super, que garante melhor desempenho de frenagem auxiliar.

“Dobramos o nosso tamanho nos últimos 20 anos, seguindo em uma jornada de investimento contínuo, em clara demonstração da importância do mercado brasileiro para a Scania”, diz Christopher Podgorski, presidente e CEO da Operação Industrial da Scania para América Latina. “O número 500 mil é emblemático e traduz uma trajetória de dedicação de muitas pessoas.”

Novo ciclo de investimento em negociação

Abrigando a primeira fábrica da Scania fora da Europa, o Brasil se tornou também um hub industrial de exportação. Cinquenta e dois países já receberam produtos a partir do Porto de Santos (SP). Em 214 mil metros quadrados de área construída, ocorrem o processo de solda, pintura e montagem de cabinas, usinagem e montagem de motores, usinagem e montagem de eixos e caixa de câmbio e a montagem de caminhões e chassis de ônibus. “Para essa engrenagem funcionar, nossa prioridade ao longo dos anos foi manter o parque fabril atualizado com o que há de melhor em tecnologia”, afirmou Podgorski.

Dentro dessa constante atualização fabril, a Scania investe cerca de R$ 200 milhões por ano em manutenção da fábrica, segundo Podgosrki. “Esses recursos são aplicados fora do ciclo de investimentos”, afirmou o executivo. No último período, de 2017 a 2024, a Scania aplicou R$ 4 bilhões e boa parte dos recursos foram destinados na estrutura fabril. 

O próximo ciclo, de acordo com Podgorski, está em negociação. “Em breve devemos ter novidades. Estou indo para a Suécia amanhã (25 de maio). Queremos manter a fábrica atualizada e a unidade brasileira como uma das melhores da companhia”, afirmou. 

Aportes devem se concentrar em descarbonização

O executivo ressaltou, no entanto, que o próximo ciclo de investimentos da Scania irá aplicar no desenvolvimento de eletrificação e tecnologias de descarbonização. “Estamos acompanhando as novas tecnologias de eletrificação mas, é evidente que os veículos pesados têm momentos diferentes em relação aos automóveis. Tem que fazer sentido para o usuário e ter demanda”, disse o executivo. 

Segundo ele, a Scania avalia também a produção de veículos eletrificados no Brasil. “Podemos trazer para o país essa tecnologia e não somente importar da Europa. Não estou falando quando isso ocorrerá, mas certamente virá. Enquanto isso, vamos investindo na transição como o caminhão a gás e os biocombustíveis.”