Carro elétrico ainda esbarra em custo e portfólio no Brasil

Para especialistas, altos preços e pouca oferta de modelos diminuem o ritmo de crescimento da frota

Ana Paula Machado

Ana Paula Machado

Para especialistas, altos preços e pouca oferta de modelos diminuem o ritmo de crescimento da frota

Imagem de Destaque

As vendas de veículos eletrificados no país seguem em alta. Até maio, segundo a Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE), foram comercializados 26 mil carros híbridos e elétricos no Brasil. Alta de 149% no comparativo com 2023.

Porém, quando se avalia o ritmo de crescimento da participação desses veículos na frota circulante do país percebe-se que ela ainda é muito pequena.

No ano passado, segundo a consultoria Bright, os carros eletrificados responderam por 0,46% da frota circulante no país. Em 2023, havia 217.408 desses veículos no Brasil em um total de 47.177.536 automóveis. 


VEJA MAIS:– Aumenta interesse do brasileiro por carros híbridos e elétricos

– Carro elétrico é ineficiente para o Brasil, avaliam executivos


E quais as barreiras que travam a aceleração desse segmento no país? Segundo pesquisa do Instituto Ipsos, o alto preço dos veículos eletrificados impede que mais pessoas entrem nesse segmento. No levantamento Ipsos Drivers, que entrevistou 1,2 mil pessoas nas capitais e nas regiões metropolitanas, 48,3% dos ouvidos veem o valor dos carros como um empecilho. 

“Custo mais elevado, restringe as vendas. Uma pessoa que vai comprar um BYD Dolphin Mini, por exemplo, pode pagar perto de R$ 120 mil. Com esse dinheiro ela compra um SUV de combustão interna”, diz Fernando Trujillo, da S&P Global. “Preço é um dos pontos que acaba restringindo o acesso à essa tecnologia.”

Segundo ele, outro ponto limitante é a pouca oferta de modelos no mercado brasileiro. Mesmo as empresas do segmento premium têm portfólio mais restrito no Brasil e isso acaba afetando o volume de vendas. 

“O que vai diminuir o custo dos veículos eletrificados é o aumento da escala de produção e vendas. Quando montadoras tradicionais, como Stellantis, Volkswagen e General Motors, começarem a dispor um portfólio mais completo no mercado brasileiro”, acredita Trujillo. 

Desvalorização do elétrico usado chega a 40%

O aumento da escala, no entanto, deve demorar mais que o esperado, justamente porque o Brasil ainda tem uma solução ambientalmente viável, o etanol. E com a aprovação do Mobilidade Verde e Inovação (Mover) os incentivos ao uso de biocombustíveis estão mais estimulados. 

“Hoje, o que tem de oferta no mercado brasileiro é 95% do segmento premium e veículo chinês. As marcas premium alcançam somente 10% do mercado e os carros vindos da China ainda têm muito desafios pela frente”, afirma Trujillo.

“Além disso, é uma tecnologia nova, não somente no Brasil, mas lá fora também, e não vemos este céu de brigadeiro como se imaginava”, pondera o consultor.

O segmento também esbarra no preço de revenda dos veículos. Segundo Trujillo, a desvalorização dos carros eletrificados gira, em média, em 40%, enquanto a dos automóveis a combustão não passa de 20%. 

Barreiras de custo e portfólio limitam mercado

Murilo Briganti, da Bright, também ressalta que as barreiras do custo e de portfólio são os limitadores desse segmento. “Quem compra um carro elétrico são as classe A e B e famílias que têm mais de um veículo”, disse. 

Para ele, as pessoas que buscam um carro elétrico de entrada – que hoje são os mais acessíveis – como o seu primeiro automóvel ou para atender a sua família, não encontram modelos no Brasil que atendam as suas necessidades. 

Briganti acrescentou, no entanto, que as vendas estão crescendo e isso pode fazer com que, no futuro, a frota também aumente no país. “O consumidor está entendendo as tecnologias e tem mercado para todos os tipos de veículos. O que determinará a preferência é o poder aquisitivo e o uso desse carro.”