Conheça Cecília Rabelo e Rafaela Ferreira, jovens talentos do automobilismo nacional

Duas únicas mulheres pilotos no grid da Fórmula 4 Brasil têm planos ambiciosos para o futuro

Marcus Celestino

Marcus Celestino

Duas únicas mulheres pilotos no grid da Fórmula 4 Brasil têm planos ambiciosos para o futuro

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O último brasileiro a disputar uma temporada completa da Fórmula 1 foi Felipe Massa, em 2017, pela Williams. Já a última mulher a tentar se classificar para um Grande Prêmio foi a italiana Giovanna Amati, no ainda mais longínquo ano de 1992. Todavia, duas jovens promessas do automobilismo nacional anseiam por quebrar tais tabus.

Cecília Rabelo, 15, e Rafaela Ferreira, 18 anos completados recentemente, estreiam em 2023 na Fórmula 4 Brasil, categoria de acesso certificada pela FIA que prepara jovens talentos, como elas, para tentar um lugar no topo do esporte a motor. A missão, claro, não é nada fácil, mas garra é o que não falta para as meninas. Tampouco talento.

A mais nova da dupla, Cecília, debutou no kartismo e logo migrou para os fórmulas. Natural de Varginha, a prodígio participou das categorias Rotax Max e Sprinter. Além disso, fez testes e disputou a oitava etapa da Fórmula Delta, em Goiânia, no ano passado.


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Já o currículo de Rafaela é pouco mais extenso. Seu irreparável histórico tem um campeonato sul-catarinense de kart em 2020 e um quarto lugar no Brasileiro de Kart na categoria Graduados A. Além disso, Rafa obteve a sexta colocação da competição na classe OK FIA e, para completar, foi a primeira mulher a conquistar uma pole position na Copa Brasil de Kart (F4 Graduados A).

A paixão dos dois talentos das pistas vêm dos pais. “Meu pai corria de kart e, desde os meus dois anos de idade, eu o acompanhava nas pistas. Aos cinco ele me deixou dar uma voltinha sozinha pela primeira vez no kart indoor e a partir daí me apaixonei”, comenta Rafaela. “Depois, insisti muito e, aos oito anos, ele me deu um kart e a gente começou a competir. Depois disso nunca mais parei”, completa a catarinense natural de Criciúma.

Cecília também nutriu amor pelo motorsport a partir da figura paternal. “Isso [a paixão] veio do meu pai. Ele sempre gostou de automobilismo, participava de track days e eu sempre gostei de estar junto”, diz. “Na primeira vez que o meu pai andou de kart eu acabei andando junto. A partir daí, nós dois começamos a treinar e vi que realmente gostava do esporte”, finaliza.

Ganhando respeito nas pistas 

Cecília e Rafaela se portam como pilotos experientes. Respondem aos questionamentos do repórter com firmeza, mas sem deixar de lado carisma e simpatia. E isso tudo num momento complicado para as conversas, que ocorreram pouco antes de sessão decisiva para a definição do grid de largada da primeira etapa da Fórmula 4, em Interlagos. Ah. E um detalhe que não escapou aos olhos do escriba: ao contrário de figuras com anos de carreira, as duas sequer precisaram de assessores ao lado a fim de guiar a entrevista.

Voltando aos papos, Rafaela comenta que, no início de sua (ainda) curta jornada no motorsport, já notava poucas pilotos mulheres nos flancos. “Nas categorias, em geral, eu era a única menina competindo”, destaca. No entanto, a catarinense faz questão de ressaltar a evolução que ocorreu nos últimos anos. “A gente viu um crescimento, um maior incentivo às meninas. Isso sem contar a F1 Academy, a W Series, além do FIA Girls on Track e vários outros programas que fomentam a presença feminina na pista”, frisa.

Se você, leitora ou leitor, se questionou acerca do significado de “F1 Academy” e “W Series”, explicamos. Estas são categorias de acesso que têm como principal objetivo dar mais chance às mulheres na pirâmide de acesso à Fórmula 1. A primeira estreia este ano. A segunda, infelizmente, tem futuro incerto, mas revelou talentos como Jamie Chadwick – britânica que, hoje, participa da Indy NXT (a antiga Indy Lights).

Sobre as categorias supracitadas Cecília faz coro à fala de Rafaela: “Acho importante dar visibilidade para as mulheres. É uma forma adicional de incentivo porque, querendo ou não, é difícil a gente estar num meio onde a maioria são homens. É uma inspiração, um novo foco”, salienta a mineira. 

No entanto, Cecília e Rafaela concordam que, no motorsport, mulheres têm plenas condições de “bater roda” com os homens. “Como disse, acho uma boa forma de incentivo, mas creio que o interessante é a competição mista, porque conseguimos chegar no nível dos pilotos homens. O legal é trabalhar para evoluir de forma a todo mundo competir junto. Acho que no esporte a motor, diferentemente de outras modalidades, temos condições de brigar em pé de igualdade”, comenta Rafa.

“Fico muito feliz em ver mais meninas entrando no esporte, competindo, e vendo que a gente consegue brigar de igual pra igual”, arremata a piloto catarinense. “É bem legal notar que cada vez mais temos mais mulheres no automobilismo, conquistando mais espaço. A gente tem que ter muita coragem de estar num esporte competindo com os homens, e acredito na evolução, que vamos melhorando cada vez mais”, salienta Cecília. 

Preconceito ou indiferença?

É notório que o meio do automobilismo, além de restrito, é dominado por homens. Todavia, mulheres talentosas, capazes e, acima de tudo, resilientes, como Cecília e Rafaela vêm quebrando barreiras. Usualmente, em conversas com interlocutores, o repórter escuta que o preconceito é bem menor hoje, mas que ainda há algumas situações incômodas. Reflexo de uma sociedade ainda regida por uma geração que resiste em passar o bastão.

O preconceito ou a indiferença, muito por conta disso, se restringiam aos pais de pilotos –  e isso, para deixar claro, sem generalizar. Já nas pistas o respeito, felizmente, é grande. Esse discurso é corroborado por Rafaela. “Quando comecei [o preconceito] era algo mais forte, só que acontecia muito com pais de alguns pilotos, que viravam para os filhos e falavam que eles tinham perdido para uma menina”, diz.

“Ao longo dos anos, [nós, mulheres] fomos ganhando respeito, mostrando que conseguimos competir com os meninos de forma limpa e justa. Hoje tenho muito mais gente que me apoia aqui dentro [do motorsport] do que gente com algum tipo de preconceito”, enfatiza a jovem catarinense. Rafa, importante salientar, também incentiva a presença feminina fora das pistas. Sua fotógrafa, bem como sua personal trainer, são mulheres. Isso por decisão da própria.

Temporada 2023 e planos para o futuro

Cecília Rabelo e Rafaela Ferreira debutam este ano na Fórmula 4 Brasil. A primeira corre pela Cavaleiro Sports, enquanto a segunda atua pela TMG Racing. Nas três primeiras provas do ano, todas realizadas no fim de semana entre 21 e 23 de abril, andaram bem. Cecília foi pega pelos imprevistos do motorsport e obteve como melhor resultado uma décima posição. Já Rafaela conquistou um excepcional sexto lugar na corrida 2.

“Sou a única rookie [caloura] na minha equipe. Os outros três pilotos já correram no ano passado. É bem legal a gente ver que já está andando pertinho deles. São alguns detalhes que temos que ajustar, mas creio que temos condições de brigar sempre por um top 5”, prevê a catarinense. “A gente ainda está se acostumando com o carro, mas estou bem animada para a temporada. Nosso foco principal para este ano é ganhar experiência. Acho que ao decorrer do período vamos evoluir bastante”, vislumbra a mineira.


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Após adquirir experiência suficiente na categoria de aspirantes à Fórmula 1, as duas têm planos, evidentemente, ambiciosos. Rafaela prefere, por exemplo, uma trilha rumo à Europa, mas depende de patrocínios. Cecília pretende ganhar “cancha” e tem como foco viver do automobilismo e também quer rumar para categorias de nível mais alto. “Mas, só de estar na F4 Brasil já é um sonho”, ressalta.

As duas jovens também enxergam com bons olhos categorias de turismo, como a Stock Car e a Porsche Cup. Todavia, o objetivo principal das moças são os fórmulas. Como este repórter mencionou lá no início do texto, talento é o que não falta para que Cecília e Rafaela alcancem seus objetivos.

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Por fim, se os editores permitirem, gostaria de deixar aqui os perfis de Instagram dessas duas feras. Até mesmo porque pedido feito por promessa tem de ser cumprido. Para acompanhar a Rafaela Ferreira na rede social da Meta é só seguir o @rafaelaferreira.18. Já a Cecília Rabelo atende no IG por @ceciliarabelo98.