Presidente e CEO da Scania Latin America comenta resultados do estudo Liderança do Setor Automotivo e fala dos desafios da posição
Christopher Podgorski, presidente e CEO da Scania Latin America, resume o papel da liderança de uma empresa na difícil arte de definir prioridades e ser capaz de tomar decisões muitas vezes duras. “Exige sensibilidade, visão futura e a capacidade de acompanhar os movimentos da sociedade”, diz.
Esta entrevista é parte do especial Liderança do Setor Automotivo, que traz as principais conclusões da pesquisa e os comentários de grandes profissionais do segmento.
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Apesar do desafio da tomada de decisões desafiadoras ser extremamente atual no contexto de pandemia de coronavírus, Podgorski concedeu a entrevista a seguir ainda no fim de 2019, quando foi um dos convidados a comentar resultados da segunda edição da pesquisa Liderança do Setor Automotivo, estudo inédito feito por Automotive Business em parceria com a Mandalah e com a MHD Consultoria.
Na conversa a seguir ele avalia, com exclusividade, o impacto da falta de diversidade das posições de comando da indústria automotiva, fala da importância de dar voz e oportunidade a todos nos processos de tomada de decisão e trata dos aspectos que considera importantes a uma boa liderança.
O que você entende como essencial na sua trajetória como líder?
Tenho o privilégio de ser líder dentro de uma companhia que está alinhada com os meus valores e princípios. Sempre tive foco no cliente, me esmerei na busca por qualidade e, sobretudo, mantive o respeito aos indivíduos. Estes são valores importantes da Scania. Sou de origem europeia, com pai polonês e mãe inglesa. Fui criado de um jeito meio espartano, com muito foco em responsabilidade e trabalho. Tive também a oportunidade de morar em outros países e isso me permitiu fazer um caldeirão de ideias, de propostas, de princípios e de valores que me ajudam muito a liderar.
De alguns anos para cá, a Scania rasgou o manual corporativo de visão e missão e resolveu se engajar firmemente no propósito de sustentabilidade, algo que acredito muito e que é bastante pioneiro para uma empresa que oferece soluções de transporte pesado de cargas.
Na minha visão, soluções sustentáveis precisam ticar quatro caixinhas: sustentabilidade econômica e financeira, ambiental e também social.
Por este ponto de vista posso dizer que é fácil liderar uma companhia em que todo mundo tem um norte bem definido.
O perfil mais presente na liderança da indústria automotiva é o do homem branco de meia-idade. Só 7% da alta gestão das empresas são mulheres e apenas 1% são profissionais negros. Além disso, metade é formada em engenharia. O que você acha desta homogeneidade? Na sua percepção há necessidade de mudança?
Não só percebo, como atuamos fortemente nisso aqui na Scania muito como herança de dois executivos: o CEO anterior da companhia, Martin Lundstedt e o atual, o Henrik Henriksson. Há algum tempo, quando temos vaga para uma posição para a liderança, é mandatório dentro da empresa ter uma mulher entre os candidatos finais. Este olhar para a liderança permeia também todos os outros da organização pensando em estratégia e em mudança de comportamento.
Também temos outras iniciativas em diversidade e inclusão e não fazemos isso apenas porque é politicamente correto. Olhamos para o que está acontecendo no mundo, as novas tecnologias e movimentos. Se contratarmos só homens brancos não vamos ter o pacote de competências dentro da companhia que nos permita fazer a transição para o momento de mais disrupção tecnológica. Estamos em um momento de muita mudança, algo que desafia as lideranças, incluindo esta que vos fala.
Vocês medem a diversidade na organização?
Olhando os números, a pesquisa que vocês fizeram fala em 7% de liderança feminina na indústria automotiva. Nós temos 11% e, na média liderança, chegamos a 21%. Isso é um pequeno exemplo que a gente já está em uma jornada para mudar este cenário. É algo que não acontece rápido, mas também não tem volta.
Sendo bem pragmático, diversidade é uma questão de sobrevivência. Não é porque é correto e se alinha com a cultura da companhia, é porque nós precisamos ter dentro da organização as competências que vão permitir que a gente faça a jornada futura.
Na pesquisa, perguntamos às lideranças quais palavras definem o momento atual e “transformação” foi uma das que mais apareceram. Você concorda? Como se sente neste momento?
Pra mim é fácil responder porque esse é o nosso propósito. Queremos liderar a transformação do sistema de transporte e logística para soluções sustentáveis. E não somos arrogantes neste ponto: entendemos que não vamos realizar este processo sozinhos. Esta transformação demanda a inclusão e a cooperação de muitos players. Ninguém vai conseguir desenvolver o pacote de solução completo. Se você tiver diversidade interna você vai conseguir muita coisa, mas vai precisar também de parcerias, de cooperações e coalizões que serão fundamentadas em confiança.
Estou super otimista. Não tenho dúvidas sobre o caminho que seguimos. Estamos atentos e seguindo por direções que, na nossa visão, nos levarão para a solução futura: o sistema de transporte descarbornizado, sem combustível fóssil.
A pesquisa indicou que o equilíbrio entre entregar o curto prazo sem perder de vista a construção de respostas de longo prazo é um desafio para a maior parte da liderança. Como você encara essa busca no seu dia a dia?
Se a gente ficar olhando só para hoje, vamos morrer amanhã. O que a Scania sempre fez é assumir a responsabilidade pelo desenvolvimento das soluções futuras. Naturalmente tem momentos em que você tem de ajustar o nível de ambição porque não dá para abraçar o mundo e criar solução para tudo.
O papel da liderança é priorizar e tomar, muitas vezes, decisões duras. É uma arte, com sensibilidade, visão futura e a capacidade de acompanhar os movimentos da sociedade.
Qual é o aspecto que mais te agrada da posição de liderança?
O que eu mais gosto de fazer é trabalhar através das pessoas, permitir que todos tenham voz ativa e oportunidade de se expressar porque isso faz com que a sua decisão final seja muito mais embasada. Quando você atua dessa forma, torna as coisas muito mais perenes. Você sai da empresa e as coisas continuam lá.