Empresa vai remodelar a unidade para produzir apenas veículos híbridos e elétricos
A Caoa Chery anunciou na quinta-feira, 5, profunda reestruturação da fábrica que mantém em Jacareí (SP), onde são produzidos atualmente os modelos Arrizo 6 e os SUVs Tiggo 2 e 3X. O novo planejamento da montadora para a unidade prevê transformação das linhas atuais para a produção de veículos híbridos e elétricos. Em função disso, a fábrica, segundo a montadora, ficará sem atividades produtivas até 2025.
Procurada pela reportagem, a montadora informou que está em negociação acordo com os trabalhadores da fábrica, que conta com quadro de 700 profissionais. Deste total, 450 estão em lay-off promovido pela fabricante no fim de fevereiro. À Automotive Business, o sindicato dos metalúrgicos local afirmou que estão na mesa demissões e opções de ressarcimento aos funcionários da unidade.
Eletrificação e outras razões
A informação foi levada pela montadora ao sindicato na quinta-feira, na parte da manhã, em reunião na sede da empresa em São Paulo (SP). Na oportunidade, segundo Weller Gonçalves, presidente do sindicato, a Caoa Chery alegou outros motivos para a suspensão da produção além da reestruturação. Dentre eles, falta de êxito comercial do modelo Tiggo 3X, decisão de importar o sedã Arrizo 6 e também aumento do custo logístico no país.
“Se aumentaram os custos logísticos, que também envolvem importação, como que a montadora afirma que compensa mais importar o Arrizo 6 neste momento?”, questionou o representante do sindicato.
Ainda de acordo com Gonçalves, a empresa não apresentou garantias de que retomará a produção em 2025, nem quando será desligada a produção por completo na unidade. “Não tem garantia nenhuma, até porque temos um acordo de lay-off que ela não cumpriu. Nós, do sindicat,o não confiamos. No ano passado houve 280 contratações, fora a perspectiva da produção de 40 mil veículos. Em três anos tudo pode mudar.”
A montadora ainda informou aos trabalhadores que não levará o maquinário das linhas de Jacareí para Anápolis (GO), onde o Grupo Caoa também mantém uma unidade produtiva que também fabrica modelos Hyundai.
Mercado em ascensão
Desde o fim de 2017, quando se estabeleceu no país a sua parceria com a Caoa, a Chery realizou 10 lançamentos no mercado nacional, todos produzidos na região. No ano passado, a empresa realizou contratações em Jacareí para atender às demandas do Tiggo 3X, e registrou em dezembro cerca de 40 mil unidades licenciadas, o que lhe concedeu 2% de fatia do mercado nacional.
“Vamos fazer mais dois lançamentos de veículos completamente novos em 2022 e nossa expectativa é chegar a 60 mil carros e ganhar mais um ponto de participação, subindo a 3%”, projetou o então CEO Marcio Alfonso, à época.
Apesar dos resultados comerciais, a empresa, em termos produtivos, nunca conseguiu chegar próximo do patamar que havia prometido atingir na unidade paulista. Se a promessa era de serem produzidas ali 150 mil unidades por ano, em 2021, o de maior volume histórico da companhia naquela fábrica, o total chegou a 14 mil unidades.
A situação, inclusive, chegou a levantar suspeitas entre os trabalhadores de que algo ia mal: “Mesmo com as contratações, vimos que a empresa não estava expandindo na velocidade que eles prometeram, inclusive tirando de linha alguns modelos [como o Arrizo 5] e fechando a área onde eram montados os motores e as transmissões, que passaram a chegar ao país importados da China”, contou Weller Gonçalves.
A própria saída de Marcio Alfonso do comando da unidade aumentou os rumores entre os trabalhadores de que algo de grave poderia acontecer com a planta de Jacareí.
Modelos elétricos na pauta
A montadora alegou aos trabalhadores que irá produzir em Jacareí um modelo elétrico que está sendo desenvolvido na China, e que com ele inicaria uma espécie de ofensiva de veículos construídos com este tipo de powetrain aqui na América do Sul – vale lembrar que a parceria com a Caoa se deu, principalmente, por causa dos planos de internacionalização da marca chinesa.
Estava nos projetos da empresa no ano passado dobrar a oferta de carros elétricos da marca no país, juntando um compacto com o já disponível sedã Arrizo 5e. Atualmente a Caoa Chery oito carros em sua gama, seis SUVs e dois sedãs. Naquele momento, o CEO Marcio Alfonso admitiu que alguns devem sair de linha e o primeiro deles seria o Tiggo 7 TXS, substituído pelo Tiggo 7 Pro lançado recentemente.
Próximos passos
Na próxima semana, em 10 de maio, os representantes do sindicato se reunirão novamente com negociadores da Caoa Chery. A entidade antecipou que levará a eles uma proposta que envolve, dentre outras coisas, a manutenção do lay-off e estabilidade de três meses aos funcionários.
Nas contas da entidade serão demitidos todos os 370 funcionários da área de produção da fábrica de Jacareí e mais 50% dos funcionários da área administrativa, totalizando 485 demissões.
Por meio de nota, a Caoa Chery informou que “seguirá prestando atendimento integral aos clientes dos modelos fabricados em Jacareí, mantendo total assistência técnica, garantias, peças e serviços em suas mais de 140 concessionárias localizadas em todas as regiões do país”.