BYD promete 10 mil empregos diretos em Camaçari até o fim de 2025

Após escândalo de trabalho em condições degradantes, empresa promete investimento na formacao de profissionais e a abertura de 20 mil vagas em dois anos

Giovanna Riato

Giovanna Riato

Após escândalo de trabalho em condições degradantes, empresa promete investimento na formacao de profissionais e a abertura de 20 mil vagas em dois anos

Entrada da planta da BYD em Camaçari, Bahia – Foto: Giovanna Riato/AB

A BYD anunciou o objetivo de abrir 10 mil vagas de trabalho no Brasil até o fim de 2025. O plano é duplicar esse número no ano seguinte, e chegar a 20 mil empregos diretos em 2026.

A promessa foi feita na segunda-feira, 2, em visita da imprensa e de autoridades à fábrica que a montadora chinesa constrói em Camaçari (BA) com investimento de R$ 5,5 bilhões.

O número de empregos foi revelado, coincidentemente, dias depois de reportagem da Agência Pública revelar que a empresa é investigada por manter trabalhadores da construção da fábrica em condições degradantes.

BYD investigada por maus tratos aos trabalhadores

A empresa, que se autointitula uma greentech, não uma montadora, trabalha sua imagem mundo afora com foco em sustentabilidade. Se confirmado que a submete funcionários da construção da fábrica a más condições de trabalho, o esforço de imagem não será condizente com comportamento flagrado na realidade.

Durante a cerimônia na futura fábrica, Stella Li, CEO Américas e Europa e vice-presidente global da BYD, agradeceu ao apoio dos governantes do Brasil. Segundo ela, isso permitiu que a empresa chegasse à etapa atual tão rapidamente.

O escândalo estaria ligado justamente à pressa para concluir a primeira etapa de construção da unidade. A BYD sobe um enorme galpão de montagem final totalmente novo, além de uma área para inspeção dos carros e, por fim, uma pista de testes.

O governador da Bahia, Jerônimo Rodrigues, que esteve presente no evento, também cobrou explicações sobre o fato.

“A empresa se comprometeu que vai dar conta de apurar o que houve. Confio muito que as pessoas poderão saber que a mão de obra que faz esses automóveis é tratada de forma decente. Vamos tratar bem, zelar bem, pelos brasileiros e chineses que trabalham aqui. Espero que este evento não seja ação intencionada por competição política industrial”, declarou.

Produção começa com Song Pro e Dolphin Mini

Em paralelo, a companhia deve reconstruir a área onde, até 2021, a Ford mantinha suas operações.

“Vamos aproveitar algumas coisas, mas devemos refazer a grande parte dos prédios”, conta Henri Karam, head de relações públicas da empresa.

A BYD confirmou que começará a operação em março de 2025 com o Song Pro e o Dolphin Mini. Segundo a companhia. Inicialmente, a unidade vai trabalhar em regime SKD, com a montagem de kits importados da China.

Inclusive, a fabricante garante que já há uma série de conjuntos trazidos da Ásia à espera da montagem local.

O plano é chegar à produção completa dos carros a partir de agosto, com processos de estamparia e pintura. A partir de então, a companhia estuda novas etapas.

“Não teremos aqui apenas o maior complexo industrial para a produção de carros fora da China, mas também a maior estrutura de produção de partes e componentes, que é parte da nossa estratégia verticalizada”, diz Stella Li.

De acordo com a executiva, a BYD quer já ter 10 mil trabalhadores empregados na unidade até o fim do ano que vem. Já ao longo de 2026, outras 10 mil vagas serão abertas, encerrando o ano com total de 20 mil pessoas na fábrica.

Motor híbrido flex nos planos da BYD em Camaçari

A montadora apresentou o protótipo de seu motor híbrido flex, que será feito na unidade baiana. Segundo a companhia, o conjunto mecânico foi desenvolvido em parceria entre engenheiros locais e chineses.

O conjunto vai equipar o Song Pro, com produção em fábrica de motores no complexo de Camaçari. A empresa não detalha, no entanto, quando isso vai acontecer.

Stella Li, disse ter visto o projeto do motor em em sua visita ao Brasil em março. “Em sete meses, a pesquisa já se transformou em realidade”, destacou a executiva.

Ela reforça que a empresa terá centro de pesquisa e desenvolvimento no país. E promete que trabalhará com “grande engajamento” para contribuir com a formação de novos profissionais para a mobilidade eletrificada.

A ideia é dar oportunidade também a pessoas em situação de vulnerabilidade, assegura.

“Vamos abrir vagas de estágio com intercâmbio na China para garantir novas oportunidades a essas pessoas”, promete Stella.

A vice-presidente lembrou da relevância de trazer ao Brasil a produção de baterias. Segundo ela, fazer localmente esses kits de forma completa é “parte do sonho” da empresa – sem especificar quando ou como o sonho se transformará em realidade.

BYD quer topo do mercado

A BYD está no Brasil desde 2016, com montagem de ônibus e o início das vendas de automóveis.

Foi nos últimos dois anos, no entanto, que a empresa acelerou a ofensiva com a meta declarada de chegar ao topo do mercado nacional. A meta é ficar entre as três maiores, com disputa de espaço com as peso pesado Fiat, Volkswagen e General Motors.

Com o início das vendas do Dolphin e do Dolphin Mini, carros elétricos que chegaram com o título de mais baratos do mercado local, a companhia já garantiu espaço entre as 10 marcas mais vendidas do país