Autopeças se reúnem em torno do etanol e da localização de componentes

Na esteira do motor híbrido flex, fabricantes devem ganhar fôlego para investir em eletrificação

Bruno de Oliveira

Bruno de Oliveira

Na esteira do motor híbrido flex, fabricantes devem ganhar fôlego para investir em eletrificação

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As fabricantes de autopeças instaladas no país olham com atenção para os rumos que as montadoras tomam rumo à descarbonização da frota circulante. A transformação que os modelos elétricos impõem na cadeia produtiva será menos drástica do que o esperado, um cenário que acalma de certa forma um aflito setor de partes e peças.

O powertrain elétrico demanda uma nova configuração componentes, o que na prática significa que a lista de peças dentro das montadoras, será menor porque alguns deles deixarão de existir por falta de aplicação. E quando aparece uma montadora afirmando que o motor a combustão seguiá vivo ancorado no etanol, as autopeças respiram aliviadas.


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Na segunda-feira, 24, durante o 4º Encontro da Indústria de Autopeças, realizado pelo Sindipeças no São Paulo Expo, representantes das fabricantes de veículos e de componentes se reuniram em torno das possibilidades que o motor híbrido flex ainda pode proporcionar em termos de novos negócios.

A depender da Stellantis, a maior montadora do país, os veículos híbridos flex que pretende lançar no mercado regional devem proporcionar oportunidades aos seus fornecedores sem que sejam feitas grandes mudanças em termos produtivos, pelo menor por ora. Na ótica da montadora, os modelos híbridos darão mais tempo para que a cadeia possa ter condições de investir em eletrificação.

“Temos um plano forte de localização de componentes e de descentralização do parque de fornecedores para otimizar as entregas. Com a chegada de novas tecnologias, fica claro que precisaremos de uma cadeia de fornecedores mais forte e integrada”, disse Juliano Almeida, vice-presidente de compras da Stellantis América do Sul, durante o evento. 

Já no caso da Volkswagen, outra montadora que defende os motores híbridos flex como ferramenta de transição à eletrificação, apostar nesse tipo de powertrain também cria oportunidades de se aumentar o nível de inovação na indústria automotiva nacional.


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Para Henrique Araújo, diretor de relações institucionais e governamentais da fabricante, uma vez mais modernos, os veículos produzidos aqui demandam maiores investimento em pesquisa e desenvolvimento, o que acaba beneficiando também a cadeia de fornecedores.

“Hoje conseguimos desenvolver e produzir mais rápido do que em anos anteriores, investimos muito em inovação para acompanhar a evolução dos modelos que passamos a vender no Brasil”, contou Araújo, citando exemplos da própria montadora, como serviços digitais no pós-venda e laboratórios de testes e desenvolvimento de produtos.

A eletrificação em outros países também deverá beneficiar as fabricantes de autopeças instaladas no Brasil, segundo Benjamin Krieger, secretário-executivo da Clepa, a associação europeia das empresas de autopeças. “Em acordos bilaterais, como é o caso do estabelecido entre o Brasil e a União Europeia, sempre os dois lados saem ganhando”, contou o representante da entidade.

Lá como cá, segundo dados da consultoria McKinsey divulgados por Krieger, infraestrutura de recarga ainda é um entrave para massificação dos modelos elétricos na região, o que de certa forma influencia nas operações dos fornecedores que atendem à produção de veículos europeia. 50% dos carregadores disponíveis na UE estão concentrados na Holanda e na Alemanha apenas.

“A Europa também precisa considerar alternativas à eletrificação, como o uso de biocombustíveis. As metas [de emissões] talvez estejam muito rígidas na região”, disse Krieger. “Podemos ficar isolados do mundo em algum momento.”