Automechanika 2022 evidencia que setor de autopeças europeu “corre atrás” da eletrificação

Maior feira do mundo para o segmento escancara como as empresas do ramo enfrentam a transição dos veículos a combustão para os puramente elétricos no continente

Marcus Celestino

Marcus Celestino

Maior feira do mundo para o segmento escancara como as empresas do ramo enfrentam a transição dos veículos a combustão para os puramente elétricos no continente

A pluralidade cultural no retorno da Automechanika Frankfurt, maior feira de autopeças do mundo, que vai até o próximo dia 17, contagia. Depois do cancelamento em 2020, por conta da pandemia, e de uma edição voltada para o digital, fria, em 2021, foi interessantíssimo notar que apertos de mão ainda são determinantes para o fechamento de um negócio.


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Tudo bem que esta ainda não é uma edição da Automechanika como as de outrora. Expositores chineses, por questões sanitárias, foram relegados a um papel coadjuvante e não mais ostentam o título de um dos “donos da feira” como antigamente. Russos, por sua vez, não se fazem presentes por evidente problema geopolítico.

Segundo Detlef Braun, membro da diretoria executiva da Messe Frankfurt, cerca de 2.800 expositores cobrem aproximadamente 200 mil metros quadrados do local. Este ano, ainda de acordo com Braun, 83% das empresas na mostra vêm do exterior. O número, vale frisar, não foge tanto dos 86% da edição de 2018.

Este ano, 40 empresas brasileiras participam do evento. Destas, 33 compõem o estande comunitário montado pelo Sindipeças, por meio de programa da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex). Levando em consideração o cenário de retomada, o número é expressivo. Vale lembrar que, em 2018, última edição 100% presencial da feira antes da pandemia, 50 companhias representaram o país.

Automechanika 2022: Retomada e corrida à eletrificação

A Automechanika 2022 ocupa oito pavilhões da Messe Frankfurt – isso sem contar a tradicional área externa, onde as companhias usualmente organizam atividades para entreter os visitantes. A edição 2018 teve, bom rememorar, os 12 halls do centro de eventos ocupados por mais de 5 mil empresas. 

Para a feira, reflexo do mercado, é um momento de retomada. O evento, que nasceu como um plano de última hora para substituir o Salão do Automóvel de Frankfurt, em 1971, hoje é a única feira da indústria na cidade. Isso porque o tradicional IAA rumou para Munique e passou a priorizar a mobilidade como um todo. 

A Automechanika segue em Frankfurt, mas, assim como o IAA, também evoluiu. Tem a inédita área “Innovation4Mobility”, seção dedicada à novas soluções de mobilidade, tecnologias alternativas, conectividade e digitalização. Há também espaço voltado para o networking, utilizado no primeiro dia de feira mais para um cafezinho do que para uma captação de lead.

O evento também deixa transparecer que o aftermarket europeu, em estabilização após a crise de semicondutores, corre atrás da eletrificação. Segundo estudo Roland Berger, entre 58% e 82% dos veículos comercializados no continente até 2030 serão elétricos. A partir de 2038, mais EVs serão vistos nas ruas do que modelos equipados com motor a combustão.

Ainda de acordo com a consultoria, a demanda por componentes tradicionais na Europa pode cair em até 17% em 2040. “A cadeia de valor tradicional não mais existirá. A capacidade de colaborar e estar aberto a novos modelos de negócios será a chave para o sucesso”, frisa Frank Schlehuber, consultor-sênior da Associação Europeia de Fornecedores Automotivos (Clepa).


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De acordo com a Roland Berger, o segmento tem inúmeras possibilidades com as quais pode trabalhar para não perder força. Oficinas, por exemplo, podem oferecer tipos distintos de diagnósticos e reparos, foco exclusivo em elétricos ou até mesmo adotarem abordagem mais generalista, cuidando ainda de veículos a combustão. 

Distribuidores podem atuar com logística reversa de componentes para VEs, enfatizando remanufatura. Fabricantes, por sua vez, têm como uma das opções trabalhar em parceria com fornecedores de baterias que, embora à frente no quesito inovação, não têm o mesmo know-how em aftermarket.

Ainda conforme o estudo da Roland Berger, a exploração do mercado de veículos puramente elétricos pode render frutos ao setor: entre € 6 e € 7 bilhões. Só que a macieira não alimentará a todos, especialmente em grupo que movimenta cifras muito mais generosas.

“Nos últimos 50 anos, a indústria automotiva evoluiu em ritmo lento. Hoje, vemos a necessidade de uma rápida mudança. O problema é que nem todos conseguirão mudar tão rapidamente e, especialmente, no timing perfeito”, afirma um executivo do segmento, quase arauto do apocalipse.

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Além da Automechanika Franfkurt, versões, digamos, mais compactas do evento são realizadas em outros pontos do globo. Após a tradicional, e original, edição alemã, Buenos Aires recebe a feira entre 11 e 14 de outubro. Dubai, outro importante hub para o setor, sedia o evento entre 22 e 24 de novembro. Em xeque por conta de supracitadas questões sanitárias, a Automechanika Xangai segue na agenda da organizadora, com datas reservadas entre os dias 1 e 4 de dezembro.