Completamente novo, SUV compacto tem design, conteúdo e desempenho para incomodar rivais
Apesar de ser bastante conhecida no Brasil há décadas, a Renault viveu seu auge nos anos 1990. A marca fez sucesso com produtos modernos, bem equipados e alguns até refinados, como Twingo, Clio, Mégane e Laguna.
Essa abordagem mudaria radicalmente no fim dos anos 2000, quando a gestão de Carlos Ghosn implantou produtos de baixo custo. Especialmente aqueles de origem Dacia, como Sandero, Logan e Duster.
Mudança de rota com o Renault Kardian
A estratégia deu certo, mas cobrou o preço mais tarde. A marca se afastou das primeiras posições e ficou conhecida por fabricar carros pouco refinados – e pouco rentáveis também.
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O primeiro passo foi dado no fim do ano passado com o anúncio do novo plano estratégico Internacional Game Plan, que prevê a estreia de oito produtos inéditos até 2027.
SUV compacto é inteiramente novo
Aí entra o Kardian, o primeiro desses produtos lançado no Brasil. Ele estreia para reposicionar a empresa no país, algo que se consolidará com as chegadas de um inédito SUV médio híbrido flex em 2025 e de uma futura picape.
Tudo no Kardian é novo. O modelo é o primeiro a usar a plataforma CMF-B, que será replicada nos futuros lançamentos da empresa.
O motor também é inédito: trata-se de um 1.0 turbo de três cilindros, que entrega 125 cv e 22,5 kgfm de torque máximo. A transmissão é automatizada de seis marchas com dupla embreagem banhada a óleo.
O Kardian faz 9 km/l na cidade e 9,7 km/l, na estrada, com etanol e 13,1 km/l no perímetro urbano e 13,9 km/l em trechos rodoviários, quando movido a gasolina – dados do Programa Brasileiro de Etiquetagem Veicular (PBEV).
Porte do Renault Kardian é de hatch
O design foi concebido pelo centro de estilo da Renault na América Latina. Segundo a marca, não há qualquer semelhança com o Dacia Sandero Stepway, que foi utilizado como “mula” de testes durante o desenvolvimento do projeto. O Kardian é o primeiro modelo nacional da marca a replicar a nova identidade visual global.
Assim como o Fiat Pulse, seu principal rival, o Kardian está mais para um hatchback do que um SUV compacto nas medidas. São 4,11 metros de comprimento, 1,77 m de largura, 1,54 m de altura e 2,60 m de distância entre-eixos – este último o maior da categoria.
O porta-malas acomoda bons 358 litros. O ângulo de entrada é de 20 graus e o ângulo de saída é de 36 graus, com altura livre do solo de 21 cm.
O produto foi concebido “para um público mais jovem ao qual a Renault normalmente atinge”, segundo Aldo Costa, diretor de marketing da empresa. O alvo está nos clientes de 35 a 45 anos e que são fãs de tecnologia.
Vale lembrar que o projeto será global, com produção confirmada na Índia, Marrocos e Turquia.
Kardian leva Renault a outro patamar
O Kardian será vendido em três versões de acabamento (Evolution, Techno e Première Edition) e resgata uma qualidade de construção ausente nos modelos da Renault nos últimos anos.
O acabamento é mais refinado, com iluminação ambiente e preocupação com os detalhes de design. Além dos apliques na cor laranja, a alavanca do câmbio automatizado é do tipo joystick, como nos modelos mais sofisticados.
A segurança também merece destaque. São seis airbags de fabrica em todas as versões e um bom pacote de assistências à condução com 13 itens, incluindo piloto automático adaptativo, alerta de colisão frontal e frenagem autônoma de emergência. Os dois últimos, a propósito, já equipam a versão Techno.
Como anda o Renault Kardian?
Nosso primeiro contato com o SUV aconteceu nas estradas serranas de Gramado (RS). A topografia cheia de subidas e curvas permitiu avaliar as respostas do motor turbinado e da transmissão.
Ambos funcionam em sintonia o tempo todo. A caixa automatizada de dupla embreagem realiza as trocas de forma extremamente suave e, inclusive, faz as reduções de marcha no tempo adequado para impedir que o Kardian perca o embalo.
No modo Sport, o pedal do acelerador fica mais sensível e as trocas de marcha são realizadas em giro pouco mais elevado, mas não espere um temperamento arisco. Afinal de contas, estamos falando de um SUV com pegada mais familiar.
A direção com assistência elétrica é bem mais leve que a dos outros modelos da Renault, mas não tanto quanto no Pulse, por exemplo. Mesmo assim, a experiência de condução é satisfatória. Contribui para isso a acertada calibragem da suspensão, que filtra muito bem as imperfeições do solo sem deixar o carro desconfortável no rodar.
O acabamento de boa qualidade é muito superior ao padrão ao qual estávamos acostumados da Renault. Apesar do uso de plásticos duros em algumas partes da cabine, existe uma combinação interessante de couro sintético e tecido em pontos de contato dos passageiros, como nos apoios de braço. Os detalhes alaranjados são de muito bom gosto e deixam a cabine mais jovial.
Os bancos dianteiros são confortáveis e acomodam muito bem o corpo nas curvas, além de terem espuma com densidade adequada para suportar motorista e passageiros nas viagens longas. Atrás, o espaço interno é bom, especialmente para as pernas. O porta-malas de 358 litros também agrada.
A posição de alguns comandos é estranha. A alavanca que regula a distância do banco do motorista em relação aos pedais está instalada em uma posição bastante baixa, obrigando o condutor a se contorcer para alcançá-la. Do seu lado esquerdo, o comando para regular a altura do facho dos faróis também está muito baixo do que deveria, quase próximo à alavanca do capô.
Já a central mulimídia apresentou funcionamento irregular durante nosso test drive. Além de ter parado de funcionar repentinamente, ela se mostrou pouco responsiva ao toque dos dedos, levando preciosos segundos para realizar a tarefa solicitada. Até na hora de engatar a marcha a ré ela foi preguiçosa, demorando para exibir a imagem da câmera traseira.
Apesar desses problemas, o Kardian agradou bastante no primeiro contato. Além de ser uma evolução significativa frente aos modelos da Renault em desempenho, acabamento e itens de série, ele se apresenta como um forte concorrente para Fiat Pulse e Volkswagen Nivus, inclusive no preço. Parece que a briga vai esquentar em breve…