Brasil segue sem conseguir produzir mais veículos

Volume que saiu das linhas de produção no primeiro trimestre é o mesmo do ano passado. Exportações e importados impedem crescimento

Bruno de Oliveira

Bruno de Oliveira

Volume que saiu das linhas de produção no primeiro trimestre é o mesmo do ano passado. Exportações e importados impedem crescimento

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A produção de veículos no país encerrou o primeiro trimestre com volume praticamente similar ao visto no mesmo período em 2023, indicando novamente estagnação.

Com o fim das águas de março, citando a canção célebre de Elis Regina e Tom Jobim, não houve nada de novo no front, também citando célebre livro e filme dos anos 1930.

Tudo segue igual porque permanecem ativos os fatores que impedem que as linhas de produção instaladas no país proporcionem volumes maiores do que os atuais.


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Ainda que o mercado interno tenha apresentado leve melhora no ambiente de crédito e, consequentemente, nas vendas, as exportações em queda livre tiraram automóveis dos programas de produção.

Até março, segundo dados da Anfavea divulgados na segunda-feira, 8, foram produzidos no primeiro trimestre 538 mil veículos, 0,4% a mais do que o volume registrado no janeiro-março de 2023.

O crescimento poderia ter sido de 5%, segundo o presidente Marcio de Lima Leite, não fossem as vendas de modelos importados de automóveis no mercado doméstico, outro fator que também não é novidade ao leitor.

Leite afirma que cerca de 60 mil veículos a mais poderiam ter sido produzidos pelas fabricantes instaladas no país caso a participação dos modelos importados nas vendas tivessem sido menores no trimestre.

As exportações cada vez menores preocupam a indústria, que demonstra que pelos seus domínios não há muito o que fazer a respeito de uma reviravolta. “Dependemos de acordos internacionais”, disse o presidente da Anfavea.

De qualquer forma, nem tudo está perdido e há fatos a se comemorar no trimestre da indústria automotiva. Houve aumento impotante na produção de caminhões no trimestre (+20%), assim como na produção de ônibus (+61,6%).

Produção de caminhões e ônibus sustentam as linhas

O desempenho contrasta com a produção de automóveis, que caiu 1%, somando 167 mil unidades. A produção de pesados, portanto, equilibrou a balança produtiva da indústria no período.

Como as importações são geralmente realizadas pelas mesmas empresas que mantêm produção no país, não há como dizer que a produção estagnada tenha provocado algum tipo de prejuízo a elas.

Entretanto, a capacidade ociosa das fabricantes é algo que preocupa ainda que as fábricas tenham passado por processo de ajuste às demandas brasileiras nos últimos anos, mitigando os custos operacionais e eventuais perdas.

A expectativa da indústria é que o Mover, a nova política setorial que sucedeu ao Rota 2030, crie condições para que a produção seja maior no futuro — claro, confluindo com a melhora de indicadores socioeconômicos.

Dados da consultoria Bright Consulting, por exemplo, mostram que a produção de veículos leves deverá chegar a 3,5 milhões de unidades/ano por volta de 2028, com as vendas em patamar semelhante. Com isso, a capacidade estaria ocupada em 78%.

Por ora, as montadoras produzem com o que têm, e do jeito que dá, à espera de novos acordos no mercado externo e condições de crédito que estimulem o consumidor a comprar um veículo novo, gerando maior fluxo nas linhas.