CEO da Stellantis encara pior fase de sua gestão e não descarta acabar com marcas do grupo

Com aposentadoria confirmada para 2026, Tavares é pressionado para reverter queda nas ações e cenário negativo nos EUA

Vitor Matsubara

Vitor Matsubara

Com aposentadoria confirmada para 2026, Tavares é pressionado para reverter queda nas ações e cenário negativo nos EUA

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Carlos Tavares, CEO da Stellantis, participou de seu primeiro grande evento público desde o anúncio de sua aposentadoria.

O executivo, que deixará o comando da companhia em meados de 2026, esteve no Salão de Paris, onde enfrentou um batalhão de repórteres que, entre outras coisas, questionaram sobre o momento crítico vivido pela Stellantis em alguns mercados.


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Por causa de problemas como a baixa rentabilidade em seu negócio nos Estados Unidos, a montadora viu suas ações desvalorizarem 45% em um ano.

Pior fase da gestão

Embora tenha minimizado a gravidade do caso ao classificá-lo como um “pequeno erro operacional”, fato é que o valor das ações nunca esteve tão baixo sob o comando de Tavares. É um cenário pouco comum para o português, que se acostumou a colher os louros dos bons trabalhos realizados à frente das marcas do grupo.

Na França, por exemplo, Tavares ainda é visto com admiração por ter conduzido bem os anos pós-fusão entre PSA e FCA, e também por ter recuperado as vendas de Peugeot e Citroën nos últimos tempos.

Executivo não descarta fechar fábricas e extinguir marcas

Em entrevsita à rádio francesa “RTL”, o CEO da Stellantis não descartou realizar demissões e afirmou que medidas extremas, como o fechamento de fábricas e até a extinção de algumas marcas pouco rentáveis para o grupo, podem ser necessárias para lidar com a concorrência das marcas chinesas.

“Vamos precisar fazer grandes esforços”, disse, ressaltanto que a decisão de manter ou acabar com as marcas da Stellantis está nas mãos dos clientes.

Tavares também prometeu que a situação da empresa nos Estados Unidos deve mudar antes do fim do ano. “É essencialmente um caso de excesso de inventário. Acho que posso dizer, com segurança, que essa questão será resolvida antes do Natal”.

Erros estratégicos enfraqueceram marcas nos EUA

Analistas da indústria automotiva apontam alguns erros estratégicos cometidos pela Stellantis, que aumentou os preços além do poder de compra de seus clientes e, depois, tardou a conceder descontos para tentar desovar os estoques.

Com isso, milhares de veículos ainda aguardam por seus compradores. Pelo lado das concessionárias, as queixas se referem ao fato de a empresa ter descontinuado modelos de entrada e abandonado o segmento enquanto as rivais Ford e General Motors renovaram seus carros mais baratos.

A Jeep é uma das marcas que mais sofreram com as decisões equivocadas. Neste caso, caberá a Antonio Filosa, ex-CEO da Stellantis América do Sul, reverter o cenário negativo.

Na semana passada, o executivo, que atualmente é o CEO global da Jeep, foi nomeado como novo chefe de operações da Stellantis em todos os mercados da América do Norte.  

‘Você quem criou esse problema’

Em carta endereçada a Tavares, o presidente do conselho nacional de concessionários da Stellantis, Kevin Farrish, fez duras críticas ao português, ao que ele classificou como uma “degradação rápida” das marcas Chrysler, Dodge, Jeep e Ram em seu país natal. “Você quem criou esse problema”.

A agência de notícias “Reuters” ouviu David Kelleher, presidente do David Auto Group, conglomerado que administra revendas das marcas Chrysler, Dodge, Jeep e Ram nos Estados Unidos. 

Quando a Stellantis foi criada em 2021, David afirmou que vendia uma média de 165 carros novos por mês. Neste ano, esse volume despencou para 89. 

“Precisamos de um CEO que entenda o mercado norte-americano”, concluiu Kelleher.