Após sucesso no Brasil, Filosa tenta alavancar vendas da Jeep nos EUA

Executivo acredita que marca pode chegar a 1 milhão de veículos vendidos no país

Vitor Matsubara

Vitor Matsubara

Executivo acredita que marca pode chegar a 1 milhão de veículos vendidos no país

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Antonio Filosa tem uma missão bastante difícil em seu novo desafio profissional. Respaldado pelo bom trabalho realizado à frente da Stellantis na América do Sul, o novo CEO da Jeep tem a missão de melhorar o desempenho da marca nos Estados Unidos.

Apesar dos bons resultados no fim da década passada, quando chegou a vender quase 1 milhão de veículos em 2018, a Jeep jamais repetiu o desempenho comercial desde então.


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Mesmo assim, Filosa acredita que não só é possível repetir o feito conquistado seis anos atrás, como também aumentar as vendas globais para 2 milhões de unidades.

“Estamos construindo um caminho para chegar ao crescimento, tanto de volume quanto de rentabilidade”, assegurou o executivo à “Automotive News Europe”.

Jeep paga o preço por abandonar nichos de mercado

Filosa acredita que uma das razões do mau desempenho da Jeep foi ter abandonado nichos do mercado de SUVs.

O Cherokee, por exemplo, teve pouquíssimas atualizações em sua última geração antes de sair de linha em 2023. O Renegade, que era o carro de entrada da empresa no país, também foi descontinuado por lá.

Com pouco menos de 643 mil unidades comercializadas nos Estados Unidos em 2023, a Jeep pretende recuperar terreno com os lançamentos de dois carros elétricos: o Wagoneer S e o Recon, ambos com estreias marcadas para este ano.

“Quando você não marca presença na briga dos SUVs médios, você está fora de um segmento que nos EUA representa mais de quatro milhões de unidades por ano. Esse volume é maior do que um ano inteiro de boas vendas na Alemanha e do mesmo tamanho de toda a região da América Latina”, comparou o executivo.

“Vamos cobrir o mercado de forma mais eficiente a partir do final deste ano com nossos lançamentos. Se nós queremos um crescimento sustentável, nós precisamos ser consistentes na estreia de novos modelos e nunca mais sermos pegos desprevinidos em segmentos cruciais”, afirmou.

Na tentativa de aumentar as vendas em seu país natal, a Jeep reduziu os preços de alguns modelos, como Grand Cherokee e Compass, em até US$ 4 mil. A estratégia surtiu efeito e fez as vendas da marca crescerem 1,8% no primeiro trimestre. Otimista, Filosa espera que a empresa consiga igualar ou superar esse volume no restante do ano.

Wagoneer terá dura missão de encarar Tesla

Só que essa tarefa não será nada fácil. O Wagoneer S enfrentará a concorrência de pesos-pesados da categoria de SUVs elétricos, como o Tesla Model Y, que domina o segmento nos Estados Unidos, China e Europa. Além dele, marcas como Cadillac e Genesis também brigam por espaço.

Apesar das dificuldades, Filosa acredita que a Jeep pode conquistar clientes da Tesla “que buscam algo mais sofisticado”. O italiano acredita que o Wagoneer S poderá seduzir compradores mais jovens, sobretudo das regiões do nordeste dos EUA e na Flórida – e até fora da América do Norte.

“É um produto bastante icônico que precisa brigar contra competidores com boa aceitação nos Estados Unidos e em outros mercados. Sinceramente estou otimista em relação à aceitação do modelo, inclusive em outras regiões do planeta. Acabamos de mostrá-lo à nossa rede de concessionários na Itália e eles adoraram o veículo”, disse.

Recon pode fisgar clientes de Wrangler

Quanto ao Recon, uma espécie de Wrangler elétrico com portas e teto removíveis, Filosa acredita que o produto vai atrair fãs do jipão interessados em eletrificação. Concessionários elogiaram o produto pelo seu design, que faz jus à identidade da marca Jeep.

“Precisamos falar com uma enorme comunidade de felizes donos de Wrangler para explicar a eles que o Recon condiz com nossos valores e nossa capacidade (de enfrentar trilhas). Acho que muitos vão perceber isso, e acredito que vamos revolucionar a indústria”, afirmou.

Filosa turbinou resultados da Stellantis

O atual CEO da Jeep esteve à frente das operações da Stellantis na América do Sul de 2018 a 2023, quando foi nomeado para o lugar de Christian Meunier, que deixou o comando da Jeep nos Estados Unidos.

O executivo também levou para lá o então diretor de estratégia de produto da Stellantis e vice-presidente da marca Ram no Brasil, Breno Kamei, para ser responsável global pelos produtos da Jeep.

Durante seu “mandato”, Filosa reposicionou todas as marcas da Stellantis no Brasil. A Fiat deixou de ser vista apenas como uma marca de carros populares com os lançamentos da nova Strada e da atualização da Toro. A Jeep realizou novos lançamentos, como o Commander, primeiro produto da marca inteiramente desenvolvido no Brasil.

Quem também se deu bem no período foi a Ram, que ganhou autonomia para projetar e fabricar um veículo fora dos Estados Unidos, e se tornou uma marca mais aspiracional. Peugeot e Citroën também se estabilizaram e vivem dias mais tranquilos com novidades e posicionamentos mais bem definidos. 

Com a saída de Filosa, a Stellantis chamou Emmanuele Cappellano para comandar as atividades na região. O italiano, que assumiu o cargo no começo do ano, já havia trabalhado no Brasil quando a Stellantis ainda se chamava FCA. Na ocasião, Cappellano chegou à diretoria financeira da companhia.