Andrea Sagiorato faz parte da segunda geração da família na Ford e participa de grandes projetos da empresa
Algumas famílias atravessam gerações na mesma empresa dentro da indústria automotiva. Andrea Sagiorato sempre teve uma relação com a Ford. Desde criança ela acompanhava o dia-a-dia de seu pai, que trabalhou por quase quatro décadas na área de desenho técnico da fabricante.
Por causa da profissão dele, Andrea chegou a morar nos Estados Unidos antes de se mudar para Camaçari, onde a Ford produziu automóveis de 2001 a 2022.
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Apesar disso, ela não pensava em trabalhar na indústria automotiva – pelo menos até o momento em que precisou procurar um estágio.
“Estava em uma festa que meu pai fez com alguns colegas da Ford e, como eu estava cursando design gráfico, eles me falaram que a área de design estava precisando de estagiários. Pensei que seria uma ótima oportunidade, até pelas referências que tinha do meu pai e de alguns tios que trabalharam na Ford”
Assim começava o segundo capítulo da família Sagiorato dentro da companhia – além de Andrea, seu irmão também atua na Ford, na área de engenharia.
Alegria com primeira criação
O primeiro grande trabalho de Andrea surgiu ainda durante seu estágio. Foi ela a responsável por desenhar a logomarca da versão Freestyle do EcoSport. A ideia era ousada para os padrões conservadores da Ford na época, que se limitavam a tipologias sóbrias e sem muitas cores.
Sua proposta tinha o nome “Freestyle” com fonte na cor laranja bastante descolada e jovial, como se tivesse sido escrita a mão. Aos risos, ela lembra de quando viu sua criação pela primeira vez.
“Era um sábado e eu estava no ônibus viajando pra fazer minha consultoria do TCC. De repente vi aquela logomarca que fiz em uma ação que a Ford estava fazendo na praia (para o lançamento do carro). Eu ficava falando para a moça que estava sentada ao meu lado: ‘fui eu que fiz!’, e ela não entendendo nada!”
Hoje Andrea já se acostumou a ver suas criações pelas ruas do Brasil. No entanto, ela admite que ainda se orgulha quando encontra um carro no qual trabalhou por aí.
“Quando eu vi o Ka (da última geração, lançada em 2015) num semáforo pela primeira vez, baixei o vidro só para elogiar o carro que aquela senhora estava dirigindo. Ela ficou super feliz”.
Andrea viu ascensão das mulheres na Ford
Apesar de nunca ter trabalhado em outra montadora fora a Ford (onde está há 18 anos), Andrea teve experiências em outras áreas, mesmo com a pouca idade.
“Logo que meu estágio terminou eu tive de sair da empresa porque não havia vagas, mas meu chefe prometeu que me traria de volta. Enquanto isso resolvi explorar outras áreas e trabalhei com moda e publicidade. Foram experiências legais, mas eu sentia falta da Ford”.
O retorno aconteceu dois anos após o término do estágio, mas ainda havia poucas mulheres dentro da empresa. Felizmente esse cenário mudou e Andrea se diz privilegiada por ter acompanhado esse processo.
“Quando cheguei (na fábrica da Ford em Camaçari) era apenas eu e a secretária da chefia. Esse cenário era diferente na área de color & material, mas elas ficavam em São Paulo. Foi sensacional porque eu vi essa mudança acontecendo”, recorda.
“Éramos poucas e, de repente, várias mulheres chegaram para o time em um ambiente que era extremamente masculino. Hoje a presença feminina já é grande em vários níveis e logo isso também deve acontecer nos cargos executivos”, acredita a designer.
Apesar de ter voltado a São Paulo três anos atrás para trabalhar no escritório da Ford, ela viaja esporadicamente para a Bahia para participar dos futuros projetos da empresa.
A fabricante ainda mantém um centro de desenvolvimento de projetos em Camaçari, ao lado do complexo administrado pela BYD.
Designer trabalhou na nova Ranger
Atualmente, Andrea participa de vários projetos importantes e consegue realizar todas as etapas do desenvolvimento de design de um veículo.
Recentemente, ela trabalhou ativamente no novo Mustang e na nova geração da Ranger, que é fabricada na Argentina e estreou no Brasil em 2023.
Andrea cuidou da nacionalização do projeto em várias partes da picape. Desde a escolha dos materiais empregados no acabamento da parte interna dos modelos até o desenvolvimento de várias peças junto aos fornecedores.
Neste caso, ela precisou conversar com cada fornecedor e analisar se a cor de cada peça apresentada atendia aos padrões estabelecidos pela Ford. Andrea realizou até um trabalho de campo ao exibir as amostras à luz do sol para identificar possíveis melhorias na coloração.
“É um trabalho extremamente exaustivo, mas muito gratificante depois de feito”.
Paixão pelo Mustang virou tatuagem
Apesar de falar com orgulho de suas criações, Andrea não esconde a predileção pelo modelo mais icônico da história da Ford: o Mustang.
Essa admiração ficou evidente durante a apresentação da nova geração do modelo, que acaba de chegar ao Brasil. Andrea falou com bastante entusiasmo enquanto explicava alguns dos detalhes mais importantes do carro. Tudo isso sem deixar a vaidade de lado, já que ela escolheu o figurino a dedo para combinar com a paleta de cores do Mustang.
Inclusive, a paixão pelo pony car é tamanha que ela resolveu eternizá-lo em sua pele. “Fiz a tatuagem há uns três anos”, lembra, enquanto mostra o Mustang 1966 tatuado em sua perna. “Se eu fizesse quando eu era estagiária, lá no começo dos anos 2000, meu pai ia me matar (risos)! Então só fiz quando saí de casa mesmo!”.