Presidente Lula se soma a um grupo dentro da indústria que defende a retomada do autoshow no país
“Eu só peço uma coisa a vocês em troca. Voltem para o Salão do Automóvel”, disse o presidente Lula aos CEOs das montadoras que estiveram presentes na nova sede da Anfavea. A associação das fabricantes, e agora o líder do executivo do país, encampam o discurso de retomada do autoshow nacional. Porém, por que as montadoras se mostram relutantes à ideia?
Antes, um breve contexto: não apenas o Salão do Automóvel de São Paulo perdeu força nos últimos anos, mas a maioria dos principais salões perderam relevância nos Estados Unidos e na Europa. Com a pandemia, as empresas tiveram de cortar custos e apostaram em eventos próprios e menores para fazer as suas ações.
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– Anfavea resgata espírito do salão do automóvel em Brasília
O modelo deu certo e desde o arrefecimento da pandemia, a partir de 2021, os maiores salões do mundo perderam força como vitrine de exposição de lançamentos e tendências para o universo das quatro rodas. Vimos isso ocorrer nos motorshows de Detroit, nos Estados Unidos, de Frankfurt, na Alemanha (que passou para Munique e virou IAA Mobility), e o de São Paulo, no Brasil.
Nesses mercados desenvolvidos, há uma espécie de movimento de retomada, mas com indícios de que as coisas não serão mais como eram antes. O Salão de Detroit, por exemplo, perdeu espaço para outro evento local, a feira Consumer Electronics Show (CES), que ocorre anualmente em Las Vegas, em janeiro.
O evento deverá voltar a ser realizado em janeiro do ano que vem, mas provalmente menor e apenas com a participação das montadoras locais, como General Motors e Ford.
O IAA, por sua vez, perdeu proporção, mudou de lugar e também virou um espaço para as fabricantes locais exporem os seus produtos ao lado de estandes de empresas chinesas que pretendem aumentar a sua participação no eletrificado mercado europeu.
Por outro lado, os salões de Pequim e Xangai mantiveram o espírito dos autoshows de outrora por terem um sem-fim de marcas locais ávidas por mostrarem seus produtos ao mundo. E, por causa disso, há um bom volume de recursos contingenciado pela empresas para participarem desses dois principais salões chineses.
Custos do Salão do Automóvel desanimam fabricantes
Corta para o Brasil. O quadro no país é similar ao visto nos demais salões ocidentais, com as montadoras reticentes a respeito da volta do Salão de São Paulo por causa das cifras e outros assuntos, como a possibilidade de ter melhores retornos de marketing com a realização de eventos próprios.
Na última tentativa de se restabelecer o autoshow, no Autódromo de Interlagos, com um novo nome, as coisas não saíram como os organizadores esperavam justamente por causa dessa grande interrogação que paira sobre os principais nomes da indústria automotiva, como a Stellantis.
O fato é que há um movimento dentro da Anfavea para tornar realidade o salão do automóvel novamente, agora com o endosso do presidente da República.
A entidade defende que um novo modelo deve ser usado, coexistindo em um mesmo espaço tanto o aspecto da experiência proporcionada aos consumidores finais nos salões antigos quanto o ambiente de negócios, com as montadoras fechando vendas durante o evento – algo que acontece, por exemplo, na Fenatran.
Desafio é achar local para um novo modelo de salão
O evento sobre veículos elétricos realizado em Brasília (DF), no ano passado, foi considerado um protótipo desse novo modelo de salão e, portanto, foi usado como argumento pela entidade junto às suas associadas para defender a ideia de que, sim, é possível retomar um autoshow no país.
“O maior entrave para isso é o fato das montadoras terem perebido que o investimento não se paga no modelo antigo do salão, e a pandemia mostrou que há opções melhores. Outra coisa. Em contexto de vendas menores, viram que é melhor utilizar recursos para subsidiar descontos no varejo e, assim, vender mais”, diz o consultor David Wong, da Alvarez&Marsal.
Segundos fontes ligadas à indústria ouvidas pela reportagem, a retomada do salão em São Paulo é encarada como uma importante bandeira da gestão do atual presidente da entidade, Marcio de Lima Leite, que se encerra em abril do ano que vem.
Afora o trabalho de convencimento que está em curso para juntar as montadoras novamente dentro de um mesmo evento, há também entraves acerca do local onde isso poderá ocorrer. Agenda no SP Expo, onde foram realizadas as últimas edições do salão, virou algo complicado.
O centro de convenções do Anhembi, ainda nos primeiros estágios de uma ampla obra de reformulação, também fica inviável a esta altura de 2024.
Mas tudo pode acontecer. Afinal, o atual governo tem se mostrado muito alinhado às agendas das fabricantes de veículos no país e as relações com a indústria têm se mostrado próximas nas articulações políticas recentes. O sim de Lula ao evento, portanto, pode exercer pressão sobre os indecisos e convencer os ressabiados.