Governo cria medidas de crédito, mas vendas de carros dependem dos juros menores

Programas como o Acredita e o Desenrola podem gerar mais vendas de carros, ainda que redução da Selic seja vista como medida fundamental

Bruno de Oliveira

Bruno de Oliveira

Programas como o Acredita e o Desenrola podem gerar mais vendas de carros, ainda que redução da Selic seja vista como medida fundamental

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Movimentos recentes do governo federal para estimular o crédito e o pagamento de dívidas podem ajudar a melhorar o ambiente de negócios no setor automotivo, ainda que estejam longe de aumentar a demanda por veículos.

Na segunda-feira, 22, foi lançado em Brasília (DF) o programa Acredita, que envolve iniciativas para pagamentos de dívidas bancárias e linhas de crédito para empresas de pequeno porte.

No mês passado, houve a antecipação do pagamento da primeira parcela do 13º salário de aposentados para abril, em manobra que pode injetar na economia R$ 67 bilhões.


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Ambas as medidas seguem o que parece ser a cartilha do executivo, que busca formas de reestabelecer o consumo no país por meio do crédito — com o aval das montadoras.

A respeito da antecipação do 13º salário para abril, a ação pode promover vendas de veículos a mais no mês. Mas como é um processo de antecipação, esse volume estaria, na prática, sendo retirado de outro momento do ano.

“Em outros momentos de antecipação houve resultado de vendas melhor, mas não uma mudança na demanda. Houve, sim, uma mudança na sazonalidade das vendas”, disse Roberto Barros, consultor da S&P Global.

Já no caso do crédito aos pequenos e médios empresários, Barros enxerga uma possibilidade de mudança de frota, uma vez que o resultado do programa Acredita é o de reduzir as dívidas no segmento e liberar, assim, o cadastros das empresas nos financiamentos.

“Quando a gente fala de CNPJ, com a liberação de crédito para micro e pequenos, a situação é diferente porque temos algo que pode promover uma pequena renovação de frota. Este consumidor estava endividado”, contou o consultor.

A esperança do governo é a de melhorar o cenário financeiro dos empreendedores, assim como fez com o Desenrola para pessoas físicas, no sentido de tornar o ambiente de crédito mais seguro às instituições financeiras.

“Podemos limpar o balanço dos bancos, deixar mais leve, para abrir espaço para novos empréstimos”, disse o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, durante o lançamento do Acredita.

Contudo, o que deverá mesmo promover maiores vendas de veículos zero quilômetro no Brasil é a redução da taxa de juros e diminuição do spread bancário.

Para Paulo Cardamone, da Bright Consulting, o que trava o mercado é o juro alto, um juro que, na sua visão, não deverá cair para além do atual patamar no curto-prazo.

“O juro não deve cair mais a exemplo do que está acontecendo nos Estados Unidos, com manutenção da taxa por parte do Fed”, explicou Cardamone. “Mas, com a economia indo bem, o mercado anda.”

Juros precisam cair ainda mais

O consultor disse, ainda, que o risco bancário tem que diminuir mais para que os bancos tenham condições para conceder crédito.

A expectativa da indústria nesse sentido estava concentrada no marco das garantias sancionado pelo governo Lula em outubro do ano passado.

O veto do trecho que versa sobre a retomada de veículos sem ordem judicial, no entanto, jogou uma espécie de balde de água fria nas pretensões. 

Isso porque a retomada do bem era justamente algo tido como fundamental para que os bancos dessem mais crédito do que dão hoje.

Poupar as entidades financeiras do processo judicial aberto para reaver o bem de um consumidor inadimplente cortaria custos das financeiras, abrindo espaço, em tese, para que houvesse mais recurso disponível para concessão de crédito.

De qualquer forma, o marco aprovado foi celebrado pelas montadoras. Na primeira quinzena de abril, o presidente da Anfavea, Marcio de Lima Leite, elogiou a medida citando que ela pode, sim, refletir em mais financiamentos.